A produção de carvão vegetal ainda é condicionada a um processo de efeitos ecológicos e ambientais negativos? A resposta é não, pelo menos nos últimos anos no Brasil.
O Brasil é o único país a utilizar o carvão vegetal em processos industriais. Há mais de 120 indústrias com segmentos na área de ferro-gusa, ferro-liga e aço, que utilizam o carvão como fonte redutora e de calor. Além de deter 11% da produção mundial de carvão, por isso, considerado o maior país produtor.
O modelo de produção brasileiro tem se destacado positivamente, quando comparado aos demais países produtores. Os motivos? A seguir:
- Aproximadamente 90% do carvão vegetal produzido são provenientes de florestas plantadas, o que levou ao decréscimo em mais de 50% sobre as florestas nativas nos últimos 10 anos, segundo a Indústria Brasileira de Árvores.
Além disso, quando comparamos as atividades que causam o desmatamento no país, o carvão vegetal não é a causa principal. O que não significa que essa prática não esteja ausente ou não seja praticada, ao contrário, ainda existe uma longa caminhada a fim de diminuir o uso de práticas não sustentáveis na cadeia de produção do carvão vegetal.
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O desmatamento é a razão determinante, tanto no mercado internacional quanto no mercado nacional, que impede a comercialização de produtos advindos desse tipo de prática. A propósito, os consumidores hoje são mais exigentes quanto a origem dos produtos de mercado. O desmatamento é o principal cenário que as atividades produtivas devem se opor, no texto “Estratégias contra o desmatamento: a luta tem que continuar” foi destacado o que tem sido feito para diminuir a pressão sobre as florestas nativas.
Aliás, a origem do carvão é o maior diferencial para adequação aos projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), conforme estabelecido no Protocolo de Quioto. O que permite as empresas produtoras adquirirem créditos de carbono, a partir das florestas plantadas, fundamentadas nas Reduções Certificadas de Emissões (RCEs).
- Maior parte das unidades de produção de carvão vegetal já estão implementando o sistema forno-fornalha, principalmente as industriais.
O forno-fornalha se tornará o principal sistema de produção de carvão vegetal no Brasil. Isso porque já existem normativas, como a DN 227, que estabelece procedimentos para redução das emissões atmosféricas dos fornos de produção de carvão e para avaliação da qualidade do ar no seu entorno.
As fornalhas ou queimadores de gases, minimizam a emissão em até 90%. Outro fator interessante é que, os gases apesar de poluentes, também possuem propriedades combustíveis especialmente o monóxido de carbono, hidrogênio e metano. O metano destaca-se por apresentar o maior potencial de aquecimento global dentre os citados, que é 25 vezes maior que o CO₂.
O maior entrave:
“As emissões de gases de efeito estufa (GEE) durante a carbonização tornam-se extremamente significativas, quando utilizam tecnologias rudimentares e empíricas. Logo, o nível tecnológico utilizado pode sim influenciar a produção. Motivo pelo qual as unidades de produção têm investido em novas tecnologias e controle de processo. A eficiência de um forno sem nenhum tipo de controle atinge de 9 a 20% da produtividade ou rendimento, que impacta diretamente o custo e a qualidade do produto final. Além disso, também há um impacto social e ambiental.”
Quais são, então, os maiores desafios?
Hoje sabemos que existem diversas variáveis que influenciam diretamente a produção de carvão vegetal. Considero como principais variáveis, tanto de processo como da matéria-prima: tipo de forno, temperatura, taxa de aquecimento, umidade da madeira, diâmetro e densidade da madeira.
Apesar de existir diversos trabalhos listando o efeito dessas variáveis na produção de carvão, poucos ou nenhum trabalho enfatiza o controle e monitoramento dessas variáveis durante a carbonização. Por isso, acredito que hoje os maiores desafios são, em ordem de complexidade:
- Controle e monitoramento da carbonização considerando as principais variáveis do processo e da madeira.
- Uso contínuo dos queimadores, a partir da sincronização dos fornos.
- Implementação de materiais ou sistema de resfriamento de maior eficiência.
- Diminuição das perdas de calor ou energia térmica durante a carbonização.
- Assim, a diminuição do teor de finos será consequência da boa performance de execução dos desafios anteriores.
Nota-se ainda que, apesar das unidades industriais já estarem aderindo tecnologias (fornalhas, secadores, trocadores de calor, fornos automatizados), sistemas supervisórios e mão de obra qualificada, com intuito de aumentar a eficiência do processo e a qualidade do carvão vegetal, a fim de atender tanto a demanda de mercados, como também adaptar essa atividade aos pilares do desenvolvimento sustentável. O grande desafio de entender o processo de carbonização da madeira em escala industrial, adequando-o a essas novas mudanças tecnológicas, de modo a maximizar o uso da madeira e minimizar os impactos ambientais, ainda são escassos.
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Por fim, não poderia deixar de destacar que a cadeia de produção de carvão vegetal a partir da madeira advinda de florestas plantadas apresenta grande potencial de uso múltiplo a partir do reaproveitamento dos coprodutos – gases e licor pirolenhoso. Para termos uma ideia o mercado global do licor pirolenhoso foi estimado em mais de US $3,5 milhões e as previsões indicam que esse mercado tende a crescer em mais de 5% até 2025. Abordagens inovadoras estão sendo constantemente propostas e existem diversos trabalhos sendo realizados na área por universidades, que buscam parcerias e apoio que incentivem a pesquisa.
As mudanças devem acontecer, a sustentabilidade não é mais questão de marketing, é desenvolvimento.
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