Que tal entendermos um pouco mais sobres os efeitos do aquecimento global sobre as espécies endêmicas?
Um estudo publicado na “Biological Conservation” descobriu que mais de 90% das espécies endêmicas serão afetadas negativamente se o aquecimento global atingir 3 °C acima dos níveis pré-industriais. O estudo desenvolvido pela pesquisadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Stella Manes, em parceria com pesquisadores de vários países, também revelou que pode haver uma queda na biodiversidade, já que as espécies invasoras deverão ter impactos gerais neutros ou positivos do aquecimento do global, podendo substituir as espécies endêmicas.
O trabalho calculou os riscos de extinção em diferentes níveis de aquecimento e descobriu que 2% das espécies endêmicas estão em risco de extinção se o aquecimento for limitado a 1,5°C, e 4% estão em risco com o aumento de 2°C. No entanto, o risco aumenta para 20% para os ecossistemas terrestres e para 32% nos ecossistemas marinhos se o aquecimento atingir 3 °C.
O impacto sobre as espécies terrestres
Usando mais de 8.000 projeções de artigos científicos, os autores analisaram o risco das mudanças climáticas para as espécies em 273 pontos críticos insubstituíveis de biodiversidade.
Os autores agruparam as espécies em três categorias: espécies endêmicas, nativas não endêmicas e introduzidas.
Os mapas abaixo mostram o impacto esperado das mudanças climáticas sobre as espécies em hotspots de biodiversidade terrestres, padronizados em uma série de datas e cenários de aquecimento. O vermelho indica que a mudança climática terá um impacto negativo sobre as espécies da área, e o azul indica um impacto positivo.
Figura 1: O impacto projetado das mudanças climáticas sobre as espécies em pontos críticos de biodiversidade terrestre para (a) todas as espécies, (b) espécies endêmicas, (c) espécies nativas e (d) espécies introduzidas. Os impactos são padronizados em uma série de datas e cenários de aquecimento. Fonte: Manes et al. (2021).
Os autores descobriram que as espécies endêmicas terrestres poderão ser 2,7 vezes mais impactadas pelas mudanças climáticas do que as espécies nativas não endêmicas e 10 vezes mais impactadas do que as espécies introduzidas.
Isso pode ser explicado pelo capacidade de adaptação das espécies introduzidas a novos ambientes. Ao mesmo tempo, elas têm um impacto negativo no ecossistema local, por competirem com as espécies nativas.
Efeitos nos ecossistemas marinhos
Os autores também realizaram esta análise para ecossistemas marinhos, conforme mostrado no mapa abaixo.
Figura 2: O impacto projetado das mudanças climáticas sobre as espécies em pontos críticos da biodiversidade marinha para (a) todas as espécies, (b) espécies endêmicas e (c) espécies nativas. Fonte: Manes et al. (2021).
Os resultados sugerem que a proporção de espécies marinhas em risco de extinção é duas vezes maior para espécies endêmicas do que para nativas.
O estudo mostra que no Mediterrâneo, um mar fechado com alta endemicidade, as mudanças climáticas devem trazer um alto risco de extinção a um quarto das espécies. Os autores classificam uma espécie como de alto risco de extinção se observar uma queda na abundância de mais de 80% – os mesmos critérios usados pela União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN).
No geral, essas tendências podem levar a uma perda de biodiversidade, conclui o estudo, já que as espécies endêmicas enfrentam uma ameaça maior das mudanças climáticas do que as espécies não endêmicas e introduzidas. Embora seja importante proteger as espécies ameaçadas de extinção, a biodiversidade tem muitos benefícios que vão além de salvar as próprias espécies.
O risco de extinção é preocupante
O estudo também calcula o risco de extinção de espécies em diferentes categorias de impacto climático, geográfico e biológico. O gráfico abaixo mostra como as espécies em diferentes regiões devem ser impactadas pelas mudanças climáticas.
Figura 3: Impactos climáticos, geográficos e biológicos das mudanças climáticas. Fonte: Mane et al (2021).
Para cada categoria, os resultados são apresentados para todas as espécies (preto), endêmicas (roxo) não endêmicas (verde) e espécies introduzidas (laranja). A barra indica a distribuição dos resultados dessa categoria, com os resultados à esquerda de zero indicando um impacto negativo e à direita de zero indicando um impacto positivo.
No lado direito do gráfico, as barras indicam a proporção de espécies que serão impactadas positivamente pelas mudanças climáticas (roxo), impactadas negativamente (rosa) ou que correrão risco de extinção (vermelho).
O estudo constatou que se o planeta aquecer mais de 3 °C, um terço das espécies endêmicas terrestres e metade das espécies marinhas endêmicas estarão em risco de extinção.
Os resultados sugerem que as espécies que vivem em ilhas e montanhas são mais de seis vezes mais vulneráveis aos impactos das mudanças climáticas do que as das regiões do continente. Em um cenário de aquecimento 3 °C, o estudo descobriu que 84% das espécies endêmicas de regiões montanhosas e 100% de ilhas enfrentam um alto risco de extinção.
Essa vulnerabilidade ocorre porque as espécies montanhosas e insulares muitas vezes não conseguem se mover para um clima mais adequado.
Além disso, para compensar o aumento da temperatura, as espécies costumam subir para altitudes mais elevadas. No entanto, devido ao formato das montanhas, quanto mais alto uma espécie sobe, menos área ela tem disponível.
Os autores também descobriram que as espécies que vivem nos trópicos enfrentam um alto nível de risco, com mais de 60% das espécies endêmicas terrestres tropicais ameaçadas de extinção devido às mudanças climáticas.
Caso você tenha interesse em ler o artigo completo, deixei o link nas referências bibliográficas. O que você pensa sobre este assunto? Preocupante, né?
Referência
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