O que é a COP30 e por que será em Belém?
A COP30, ou 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, é um evento anual que reúne líderes mundiais, cientistas, organizações não governamentais e representantes da sociedade civil para discutir e negociar ações globais de combate às mudanças climáticas. Em 2025, pela primeira vez, a conferência será realizada na Amazônia, tendo Belém, capital do Pará, como cidade-sede.
A escolha do Brasil como anfitrião
A escolha do Brasil para sediar a COP30 foi confirmada durante a COP28, realizada em Dubai, em dezembro de 2023. A candidatura foi apresentada oficialmente pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O argumento central era claro: chegou a hora de a Amazônia participar diretamente das negociações globais sobre o clima.
Essa decisão reconhece o histórico brasileiro na diplomacia ambiental. Desde a Eco-92, o país atua como articulador de acordos multilaterais. Entre os mais relevantes estão o Protocolo de Quioto e o Acordo de Paris. Por outro lado, o Brasil também consolidou políticas nacionais de referência, como o Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm).
Com a COP30 em Belém, o país assume responsabilidades políticas e logísticas. Deve demonstrar organização, transparência e liderança. Além disso, espera-se que apresente metas ambiciosas, sobretudo no combate ao desmatamento e na transição para fontes limpas de energia.
Nesse contexto, a conferência representa mais que um evento: é uma oportunidade estratégica para reposicionar o Brasil como protagonista em soluções climáticas. Ao mesmo tempo, é um teste de coerência entre discurso e ação.
A importância estratégica da Amazônia
A Amazônia tem papel decisivo na regulação climática do planeta. Com mais de 5 milhões de km² de floresta tropical, abriga cerca de 10% da biodiversidade global. Além disso, retém grandes volumes de dióxido de carbono da atmosfera. Por isso, sua preservação é essencial para frear o aquecimento global.
A escolha de Belém como sede da COP30 reforça essa urgência. Localizada no coração da floresta, a cidade conecta a agenda climática internacional à realidade amazônica. Ao mesmo tempo, dá visibilidade aos povos indígenas e comunidades tradicionais, que manejam esse território com sabedoria ancestral.
Outro ponto relevante é a influência da Amazônia sobre o regime de chuvas em toda a América do Sul. Segundo estudos do INPE, a degradação florestal pode impactar diretamente a agricultura e o abastecimento de água em regiões distantes, como o Sudeste e o Centro-Oeste brasileiros.
Portanto, sediar a COP30 em Belém é tanto um gesto simbólico quanto uma ação estratégica. A conferência leva os tomadores de decisão ao centro de uma das regiões mais sensíveis e decisivas no enfrentamento da crise climática.
Como Belém está se preparando para a COP30
Infraestrutura urbana e sustentável
Belém passa por uma transformação intensa para receber a COP30 em Belém. Com cerca de R$ 4,7 bilhões em investimentos do Governo Federal, BNDES e Itaipu, mais de 30 obras estruturantes estão em andamento. Entre elas, destacam-se a revitalização de avenidas como Visconde de Souza Franco e Tamandaré, além da criação de parques lineares e sistemas modernos de drenagem e esgoto.
Para ampliar a mobilidade, a cidade renova sua frota de ônibus com veículos elétricos e a gás natural. Paralelamente, o BRT Metropolitano está sendo expandido, com foco em atender ao fluxo intenso esperado durante o evento.
Apesar dos avanços, ainda há obstáculos. A capacidade hoteleira segue limitada. Além disso, os preços de hospedagem subiram, o que pode restringir o acesso de delegações menores e de representantes da sociedade civil.
Nesse contexto, os preparativos para a COP30 vão além da logística: testam a capacidade de Belém em equilibrar modernização urbana e inclusão social.
Mobilização política e participação social
A COP30 em Belém busca ampliar a participação social nas discussões climáticas. Para isso, o governo criou grupos de trabalho voltados à inclusão de movimentos sociais, comunidades tradicionais e juventudes amazônicas no processo preparatório.
Ao mesmo tempo, estão em andamento eventos paralelos como a Cúpula dos Povos e a Assembleia da Resistência. Essas iniciativas garantem espaço para vozes diversas, conectando territórios locais às decisões globais. Além disso, documentos como a Declaração de Jovens Líderes da Amazônia reforçam essa articulação.
Porém, desafios permanecem. A logística complexa e os custos elevados podem limitar o acesso de representantes da sociedade civil. Ainda assim, há esforços para superar essas barreiras e tornar a conferência mais inclusiva e democrática.
Investimentos e parcerias internacionais
A COP30 em Belém tem impulsionado parcerias internacionais e novos fluxos de investimento. Um dos principais acordos firmados foi com a Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI), que destinará R$ 478 milhões para apoiar a organização do evento.
Além desse aporte, outras instituições vêm se somando aos esforços. A Agência Francesa de Desenvolvimento, por exemplo, colabora com projetos focados em sustentabilidade e desenvolvimento regional. Essas iniciativas fortalecem a estrutura do evento e, ao mesmo tempo, projetam benefícios de longo prazo para a Amazônia.
Mais que um evento pontual, a conferência pode se tornar um catalisador. Espera-se que a COP30 estimule investimentos em infraestrutura verde, fontes renováveis e ações de conservação. Com isso, o Brasil pode se posicionar como referência global em soluções climáticas sustentáveis.
O protagonismo do Brasil nas negociações climáticas
Histórico de participação do Brasil nas COPs
O Brasil tem presença constante na agenda climática internacional. Em 1992, sediou a Eco-92, no Rio de Janeiro, evento que deu origem à Convenção do Clima da ONU. Anos depois, em 2012, recebeu novamente os olhares globais na Rio+20, reforçando sua atuação como articulador de acordos ambientais.
Desde 1995, o país participa de todas as COPs. Em 1997, teve papel central no Protocolo de Kyoto, ao propor o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). A medida permitiu que países desenvolvidos financiassem projetos sustentáveis em nações emergentes.
Na COP15, em 2009, o Brasil apresentou metas voluntárias para reduzir em até 38,9% suas emissões projetadas até 2020. Mais tarde, na COP21, em Paris, firmou compromisso com o Acordo de Paris, assumindo cortes de 37% até 2025 e 43% até 2030, com base em 2005.
Nos últimos anos, houve oscilações na condução das políticas ambientais. Ainda assim, o país manteve seu espaço nos fóruns internacionais. Agora, com a COP30 em Belém, surge a chance de reafirmar esse papel, promovendo diálogo e colaboração em escala global.
Expectativas para a atuação brasileira em 2025
Com a COP30 em Belém, o Brasil assume papel central na articulação climática global. Espera-se que atue como ponte entre países do Norte e do Sul, reforçando a diplomacia multilateral que sempre marcou sua trajetória ambiental.
Do ponto de vista técnico, há expectativa de metas atualizadas para redução de emissões. Essas metas devem refletir dados recentes sobre uso da terra, matriz energética e setores produtivos. Além disso, o combate ao desmatamento ilegal na Amazônia tende a ser prioridade, assim como a transição para uma economia de baixo carbono.
Ao mesmo tempo, o Brasil pode liderar temas complementares, como financiamento climático, justiça ambiental e valorização de soluções baseadas na natureza. Nessas áreas, o país possui ativos únicos e experiência consolidada. Por isso, espera-se também uma articulação sólida com países latino-americanos, africanos e asiáticos, buscando posições comuns.
Internamente, será essencial alinhar políticas públicas e marcos regulatórios com os compromissos assumidos. A coerência entre discurso e prática será acompanhada de perto por governos, imprensa e sociedade civil.
Nesse cenário, a COP30 se torna mais que um evento. É uma vitrine para mostrar avanços, mas também um teste de credibilidade diante dos desafios climáticos urgentes.
O papel das comunidades tradicionais e povos indígenas
As comunidades tradicionais e os povos indígenas têm papel essencial na proteção da biodiversidade e no combate às mudanças climáticas. Na COP30 em Belém, essas populações buscam maior espaço nas decisões e nos debates oficiais.
Em abril de 2025, representantes desses grupos divulgaram uma declaração política conjunta. O documento defende o reconhecimento de seus territórios como estratégia central para mitigar os efeitos da crise climática. Além disso, solicitaram a copresidência da conferência, como forma de garantir participação direta nas negociações.
Diante disso, o governo brasileiro criou a Comissão Internacional Indígena. A iniciativa tem como objetivo manter o diálogo com lideranças indígenas e integrar seus saberes tradicionais às políticas climáticas.
Essa articulação reforça a importância desses povos na preservação dos ecossistemas. Ao mesmo tempo, destaca a necessidade de incluir visões diversas na construção de soluções ambientais duradouras.
Desafios e oportunidades para a COP30 em Belém
Questões ambientais críticas na Amazônia
A Amazônia sofre pressões ambientais, sociais e econômicas que ameaçam seu equilíbrio ecológico. Entre os principais desafios, o desmatamento se destaca. Em 2023, a região perdeu mais de 9 mil km² de floresta, segundo o INPE. A principal causa é a expansão da pecuária extensiva, seguida pela agricultura comercial.
Além disso, a mineração ilegal avança, sobretudo em terras indígenas. A atividade destrói habitats e polui os rios com mercúrio. De acordo com estudos da Fiocruz e do ISA, populações locais já apresentam níveis alarmantes dessa substância no organismo.
A grilagem de terras públicas também preocupa. A expectativa de regularização fundiária, somada à fiscalização precária, estimula ocupações irregulares. Como resultado, cresce a fragmentação de áreas florestais e o descontrole sobre o uso do solo.
Outro problema é a crise hídrica. Apesar da abundância de rios, muitas comunidades não têm acesso a água potável nem a saneamento básico. Isso agrava a contaminação dos corpos d’água e compromete a saúde pública.
Por fim, a mudança climática intensifica todos esses efeitos. O aumento das temperaturas e a alteração no regime de chuvas provocam secas severas e enchentes fora de época. Isso afeta diretamente a biodiversidade e atividades como pesca, agricultura e transporte fluvial.
Para enfrentar esse cenário, é necessário adotar políticas públicas integradas. Além disso, é essencial fortalecer a fiscalização, valorizar práticas sustentáveis e reconhecer os direitos das comunidades que protegem esse bioma há gerações.
Como a COP30 pode impulsionar a economia verde
A realização da COP30 em Belém representa uma oportunidade para promover a economia verde na Amazônia, incentivando práticas sustentáveis que conciliem desenvolvimento econômico e conservação ambiental. A conferência pode atrair investimentos em setores como a bioeconomia, que valoriza produtos e serviços baseados na biodiversidade local, gerando emprego e renda para as comunidades.
Além disso, a COP30 pode estimular a adoção de energias renováveis, como a solar e a eólica, e fomentar projetos de reflorestamento e recuperação de áreas degradadas. O evento também serve como plataforma para fortalecer parcerias internacionais e mobilizar recursos financeiros destinados à preservação da floresta e ao enfrentamento das mudanças climáticas.
COP30 em Belém como marco da diplomacia climática brasileira
A realização da COP30 em Belém tem potencial para marcar um ponto de inflexão na atuação internacional do Brasil frente à crise climática. Ao sediar o evento no coração da Amazônia, o país envia ao mundo um sinal simbólico e estratégico: o compromisso com a conservação ambiental e com o diálogo global.
Desde a Eco-92, o Brasil construiu uma trajetória de destaque na diplomacia climática, atuando como mediador entre blocos com interesses divergentes e propondo mecanismos inovadores para o financiamento e mitigação das mudanças climáticas. A COP30 oferece a oportunidade de consolidar esse papel, agora em um contexto geopolítico mais complexo e com demandas urgentes de ação.
Além de anfitrião, o Brasil terá a chance de liderar debates-chave sobre:
- Financiamento climático para países em desenvolvimento;
- Valorização da biodiversidade como ativo econômico;
- Inclusão de saberes tradicionais nas políticas ambientais;
- Monitoramento e combate ao desmatamento com transparência.
Belém não será apenas palco de negociações — será símbolo de um país que busca reconciliar crescimento econômico com responsabilidade ambiental, respeitando sua diversidade sociocultural e ecológica.
Se bem conduzida, a COP30 pode reposicionar o Brasil como referência global em soluções climáticas integradas, envolvendo governo, setor privado, academia e sociedade civil.

Links Utilizados:
BRASIL. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE. Monitoramento do desmatamento por satélite. Disponível em: http://www.inpe.br. Acesso em: mai. 2025.
FIOCRUZ. Contaminação por mercúrio em populações ribeirinhas da Amazônia. Disponível em: https://portal.fiocruz.br. Acesso em: mai. 2025.
INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL – ISA. Mineração ilegal e impactos sobre terras indígenas. Disponível em: https://www.socioambiental.org. Acesso em: mai. 2025.
GOVERNO FEDERAL. COP30 no Brasil: Belém como sede oficial da conferência climática. Disponível em: https://www.gov.br/planalto. Acesso em: mai. 2025.
SENADO FEDERAL. Brasil é confirmado como sede da COP30 em 2025. Disponível em: https://www12.senado.leg.br. Acesso em: mai. 2025.
AGÊNCIA GOV. Belém do Pará: a capital amazônica que sediará a COP30. Disponível em: https://agenciagov.ebc.com.br. Acesso em: mai. 2025.
APIB. Povos indígenas e comunidades tradicionais rumo à COP30. Disponível em: https://apiboficial.org. Acesso em: mai. 2025.