Por volta das 18h00 no horário local (12h00 em Brasília) na terça-feira (04/08), uma explosão dizimou parte de Beirute, feriu milhares e matou ao menos 145 pessoas. O armazém na capital libanesa, onde o fogo começou, continha 2.750 toneladas de nitrato de amônio estocadas de forma irregular e sem fiscalização há seis anos.
O que é o Nitrato de Amônio?
O nitrato de amônio é um tipo de sal granulado, sem cheiro e solúvel na água, que é usado como base na criação de fertilizantes para plantações por ser rico em nitrogênio, mas também é usado na fabricação de explosivos e bombas. Ele não é perigoso por si só, mas pode ser mortal quando há um agente catalisador externo, como o calor. À medida em que queima, o NH₄NO₃ passa por mudanças químicas que levam à produção de oxigênio, exatamente o que o fogo precisa para se intensificar.
Ele também tem sérios efeitos na saúde humana, como irritações nos olhos, na pele e no trato respiratório, sem contar o sangue, que pode sofrer diretamente com uma substância presente no nitrato, causando uma doença chamada metahemoglobinemia, comumente chamada de doença do bebê azul. Os sintomas de inalação do nitrato são tosse, dor de garganta, falta de ar e sensação de sufocação.
O NH₄NO₃ como fertilizante
O nitrogênio é um elemento fundamental para o desenvolvimento das plantas, por participar da composição dos aminoácidos, proteínas, ácidos nucleicos, clorofila e muitas enzimas essenciais para o estímulo ao crescimento e desenvolvimento da parte aérea e do sistema radicular das plantas.
No Brasil, os fertilizantes nitrogenados mais utilizados são ureia, nitrato de amônio e o sulfato de amônio.
O nitrato de amônio é usado como fertilizante na agricultura desde meados da década de 1960, na chamada “revolução verde”, período em que a agropecuária se modernizou e aumentou sua produtividade.
Ele se popularizou devido a algumas características importantes: a taxa elevada de nitrogênio (33%), a simplicidade, o baixo custo de fabricação e a combinação de nitrogênio de ação rápida (do ânion nitrato) com nitrogênio de ação lenta (do cátion amônio).
Como a forma amoniacal (carga elétrica positiva), o N pode se ligar aos colóides do solo, principalmente nas argilas. O mesmo não ocorre com a forma nítrica (carga elétrica negativa), que podem sofrer o processo de perda chamado lixiviação ou percolação. Você deve se lembrar disso das suas aulas de solo, não é mesmo?
O nitrato tem como característica uma rápida absorção de nitrogênio por parte da planta, o que ajuda na expansão das raízes, tornando-a mais forte contra fatores climáticos, como a estiagem, por exemplo. E isso ajuda na produtividade da lavoura.
O Brasil possui apenas uma fábrica que compra e utiliza o nitrato de amônio na produção de fertilizantes, localizada em Cubatão (SP). Desta forma, o país acaba importando grande parte do nitrato de amônio que é utilizado – importou cerca de 1,2 milhão de toneladas de nitrato de amônio em 2019, cerca de 3% do que o país utiliza de fertilizantes.
Apesar do número parecer expressivo, o nitrato de amônio não é o tipo de fertilizante mais usado pelo agricultor brasileiro. A liderança neste segmento é da ureia, com quase 5,6 milhões de toneladas importadas em 2019, cerca de 5 vezes mais que o nitrato.
Acidentes envolvendo o nitrato de amônio no Brasil
No Brasil, a compra e venda do nitrato de amônio é fiscalizada pelo Exército. O produto, considerado como explosivo, é regulado pelas portarias 56, de 2017, e 147, de 2019, que diz especificamente sobre o nitrato de amônio.
Alguns acidentes envolvendo o nitrato de amônio já foram registrados no país. Em 2013, um incêndio químico assustou os moradores de São Francisco do Sul, no Norte de Santa Catarina: dez mil toneladas de um fertilizante a base de nitrato de amônio queimaram dentro de um armazém. Uma nuvem de fumaça se espalhou por quilômetros e encobriu várias partes da cidade e municípios vizinhos.
Em 2017, o acidente foi numa das empresas do polo industrial de Cubatão. Uma investigação revelou que a explosão foi causada pelo superaquecimento de engrenagens da esteira usada no transporte do produto. Naquele dia, havia nove toneladas de nitrato de amônio estocadas. Só 200 quilos explodiram, o suficiente para provocar um deslocamento de ar que chegou a sete quilômetros.
Como estocar o nitrato de amônio de forma segura?
Para que ele seja mantido de forma segura, o composto deve ser colocado em um container fechado, sem aberturas ou entrada de ar ou substâncias inflamáveis.
Ele também não deve ser estocado próximo de substâncias combustíveis, líquidos inflamáveis ou corrosivos, sólidos inflamáveis ou substâncias que emitam calor. O nitrato deve ser armazenado longe de combustíveis e outros materiais orgânicos, como óleos, graxas, lubrificantes, solventes, explosivos de qualquer tipo e até mesmo metais, como alumínio, magnésio em pó. Outro requisito importante a ser evitado são as condições de confinamento em altas temperaturas.
Aqui no Blog Mata Nativa já discutimos muitos outros eventos e acidentes, como os incêndios na Floresta Amazônica em 2019 e você pode conferir um pouco sobre clicando no link abaixo:
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