O Brasil está entre os principais produtores de painéis de madeira no mundo, com exportações que trazem inegável contribuição para a balança comercial e geram muitos empregos e renda nas mais diversas regiões de nosso país. Por sua relevância para o desenvolvimento social, ambiental e econômico nacional, abordaremos neste texto alguns aspectos importantes sobre este setor, com enfoque nos painéis MDP e MDF.
Produção brasileira de painéis
Segundo o Ibá, o segmento brasileiro de painéis de madeira ocupa o 8º lugar no ranking mundial dos maiores produtores, mantendo-se na mesma posição em relação ao ano de 2015.
Atualmente existem no Brasil 10 empresas dividas em diversas unidades responsáveis por toda produção de MDF e MDP (Tabela 1), sendo que a maior parte está localizada nas regiões Sul e Sudeste. A concentração destas unidades nestas regiões do país reflete a proximidade dos polos moveleiros, plantas de adesivos e reflorestamentos de Pinus e Eucalipto.
Conforme já citado anteriormente, os painéis no Brasil são produzidos a partir do uso de madeiras preferencialmente reflorestadas de Pinus e Eucalipto. Já no mundo, são empregados como matérias-primas os resíduos industriais de madeira, os resíduos da exploração florestal, as madeiras de qualidade inferiores (não industrializáveis de outra forma), as madeiras provenientes de florestas plantadas e as madeiras sem serventia que são então recicladas.
A produção nacional de painéis de madeira aumentou em 2,9 milhões de m³, com uma taxa média de crescimento de 5,1% a.a. nos últimos dez anos. Apesar disso, a desaceleração da economia observada a partir de 2012 impactou significativamente nos indicadores de produção e consumo em 2015 e em 2016.
Ainda segundo o Ibá, em 2016 a produção brasileira de painéis de madeira reconstituída registrou redução de 2,4% em relação ao anterior e encerrou o ano com 7,3 milhões de m³ de painéis produzidos. Em relação aos painéis MDP e MDF as produções diminuíram em 8,8% para o MDF enquanto a produção de MDP aumentou 8,9%.
Parte da retração deve-se à diminuição do consumo das famílias, que levou à redução da compra de diversos produtos, incluindo móveis, que é o principal segmento consumidor de painéis de madeira no Brasil. Em 2016, as vendas do setor moveleiro caíram 12,1% em volume e provocaram o recuo de 2,2% na comercialização de painéis de madeira reconstituída no mercado doméstico. Porém, para compensar a redução no mercado interno, o setor alocou a produção no mercado externo e as exportações atingiram 1,1 milhão de m³, o que significou uma alta de 64% em relação a 2015.
Portanto, nos últimos quatro anos, tivemos uma desaceleração da indústria de painéis devido à crise econômica que gerou mudança na estratégia do setor ao aumentar de maneira significativa as exportações de MDF e MDP, que atualmente passam de 1 milhão de metros cúbicos.
Um pouco mais sobre os painéis MDP e MDF
Inicialmente se produzia o painel conhecido como aglomerado. Como o aglomerado tradicional possuía alguns problemas de mercado e o MDF estava iniciando no mercado como um produto de alta qualidade se alterou a nomenclatura desse produto para MDP (Medium Density Particleboard), visando desvincular o produto do aglomerado tradicional.
Além da mudança de nomenclatura também houve uma evolução da tecnologia para produção de painéis de partículas de média densidade nas últimas décadas que favoreceu ao produto final melhores condições de acabamento do painel nos processos de pintura, revestimento e impressão.
As indústrias de MDP têm utilizado os mais modernos e complexos equipamentos, prensas contínuas, resinas de última geração, classificadores de partículas e softwares responsáveis em controlar todo o processo da melhor forma. Atualmente 80% das unidades fabris nacionais operam no sistema de prensa contínua, que apresentam como vantagens a redução do consumo de matéria prima, diminuição das perdas durante o processo de lixamento e redução do consumo de energia. O sistema de prensa continua sendo modernizado continuamente, permitindo flexibilidade no processo.
Já o MDF, um produto recente no Brasil, tornou-se disponível no mercado a partir do final dos anos 80, sendo que inicialmente era importado da Argentina e do Chile e a partir de setembro de 1997 passou a ser fabricada na cidade de Agudos-SP pela empresa Duratex.
O processo de fabricação de MDF no Brasil é bastante automatizado e é 100% composto por parques fabris relativamente novos (< 20 anos) e modernos, além de estarem sempre evoluindo com instalações de novos sistemas de controle, equipamentos que otimizam os processos e investimentos no controle de qualidade. Porém em 2013 o consumo acabou desacelerando a produção, apesar da capacidade instalada brasileira continuar crescendo, devido à entrada de 2 novos players em 2018: GreenPlac (Mato Grosso do Sul) e Placas do Brasil (Espírito Santo) e a instalação de prensa contínua dos fabricantes Guararapes (SC) e Floraplac (PA).
Características dos painéis MDP e MDF
O MDP é um painel de madeira reconstituída, que se apresenta com boa estabilidade dimensional (comprimento, largura e espessura), cujas partículas são posicionadas de forma diferenciada, com formação de três camadas, sendo que nas camadas externas são depositadas as partículas finas e em seu interior as partículas maiores. A modernização do processo permitiu a distribuição correta das partículas de madeira em suas respectivas camadas, resultando em um painel homogêneo e de maior qualidade. Os painéis são classificados como painéis de média densidade quando estão enquadrados em uma faixa de densidade de 640 kg/m³ a 800 kg/m³.
O destaque no MDF é sua alta densificação da superfície (acima de 1000 kg/m³) que garante uma boa superfície para pintura e demais acabamentos que necessitem de superfície plana (livre de imperfeições). O MDF também possui um grande diferencial com relação aos demais painéis reconstituídos devido a sua excelente usinabilidade, podendo ser utilizado em molduras e móveis curvos. De uma forma geral os painéis MDF apresentam maior estabilidade dimensional que os painéis de partículas devido ao menor teor de umidade no equilíbrio com o ambiente, pela estrutura do painel e pelo baixo potencial de sorção.
Porém, ambos os painéis possuem muitas das vantagens em relação à madeira sólida, como as dimensões dos painéis que não são estritamente relacionadas às dimensões das árvores; pode-se agregar valor a materiais de baixa aceitação como resíduos de serrarias e desbastes; possibilidade de eliminar defeitos provenientes da anatomia da árvore como nós, medulas, desvios da grã, conferindo ao produto final homogeneidade muito maior que a encontrada na madeira serrada. Pode-se ainda, pela especificação da densidade, controlar a maioria das propriedades e adicionando produtos específicos, aumentar a resistência dos painéis ao fogo, à umidade e biodeterioração.
Inovação no setor
O Brasil é um dos países mais avançados em fabricação de painéis, possuindo grande número de fábricas de elevada tecnologia. Os principais fatores que afetam as propriedades dos painéis estão relacionados com a matéria-prima e as etapas do processo de fabricação, reforçando assim a necessidade cada vez maior do desenvolvimento de pesquisas em novas tecnologias de produção.
Assim, com base nessa busca indispensável por inovações tecnológicas, as nanopartículas surgem de forma promissora e podem facilmente ser implantadas nesse setor, com possibilidade de apresentar novos comportamentos e propriedades comparadas as de escala macroscópica.
Referência
- Ibá – Relatório Anual 2017
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