Com a aprovação da nova lei de proteção da vegetação nativa (Lei n.º 12.651 de 25 de maio de 2012), ficou evidente a necessidade de conservar, recuperar ou compensar alterações na vegetação situadas em áreas de preservação permanente (APP) e reserva legal (RL). Dentre os objetivos da nova lei, encontra-se a necessidade de adequação das propriedades rurais, em sua maioria irregulares segundo a lei florestal do ano de 1965. Desta maneira a restauração de ecossistemas florestais se tornam necessárias.
Estima-se que para adequar as propriedades rurais e atender as exigências da legislação florestal, o Brasil deve recuperar pelo menos 21 milhões de hectares, distribuídos entre áreas de APP e RL.
Sendo assim, buscando contribuir com sua tomada de decisão, neste artigo trazemos 4 perguntas a serem feitas durante a fase de planejamento do seu projeto. Saber responder cada uma delas é fundamental para que você não cometa erros. Obter as respostas corretas vai permitir o alcance dos seus objetivos.
1. Quais os fatores responsáveis pela degradação?
Diferentes autores afirmam que restaurar é levar o ecossistema o mais próximo possível das características originais. Para alcançar este objetivo é preciso considerar diferentes fatores para tomada da decisão adequada. O primeiro passo é conhecer as causas responsáveis pela degradação e trabalhar para controlar e eliminar esses fatores.
Em diferentes trabalhos enfrentamos problemas com as queimadas recorrentes, utilizadas como prática agropecuária para renovação de pastagens e/ou limpeza da terra. Outros autores apontam para a presença de gramíneas exóticas e invasoras, acompanhadas da fragmentação e isolamento dos ecossistemas ciliares, representados, em grade parte, por pastagens degradadas.
Neste contexto, a restauração apresenta elevado custo, principalmente devido à necessidade de controle de gramíneas dos gêneros Urochloa (braquiárias) e Panicum (capim-colonião). Não menos importante, o desmatamento associado à formação de novas áreas agrícolas e pastagens, é um fator responsáveis pela destruição de vastas extensões de florestas nativas no Brasil.
Identifique o fator ou a soma de fatores responsáveis pela degradação. Elimine o fator ou isole a área em restauração. Uma característica comum a todos esses fatores é a atuação antrópica. Por isso, em muitos casos, será preciso trabalhar a educação ambiental em busca de conscientização dos atores sociais envolvidos em seu projeto de restauração florestal.
E o mais importante, evite retrabalho. Se você está diante de um fator recorrente, como o fogo, é fundamental eliminar ou controlar esse problema como primeiro passo do seu projeto. Você não pode esperar pela ocorrência da queimada. Ela traz inúmeros prejuízos para a área em restauração e para o seu bolso.
2. A área em recuperação possui resiliência?
Restauração florestal não é sinônimo de plantio de mudas de espécies arbóreas. Em muitos caso é possível contar apenas com a resiliência do ecossistema, que poderá facilitar o processo e resultar no sucesso do seu projeto, bem como na economia de recursos financeiros. Por isso, conheça os agentes responsáveis pela degradação, elimine-os ou isole sua área. Identifique os fatores responsáveis pela resiliência e tome a decisão correta.
Entende-se por resiliência “a capacidade intrínseca de um ecossistema em manter sua integridade no decorrer do tempo, sobretudo em relação a pressões externas”. Os passivos ambientais em áreas de APP e RL apresentam distintos níveis de degradação e, consequentemente, maior ou menor resiliência.
Sendo assim, em determinadas situações estaremos diante de ecossistemas com elevada resiliência. Neste caso é fundamental apostar na restauração passiva, ou seja, lançar mão da regeneração natural, bem como de técnicas que se apoiam nos processos ecológicos naturais, como as técnicas nucleadoras.
Saber identificar os fatores inerentes à resiliência nos auxilia na caminhada em direção à formação do povoamento florestal, bem como na redução de custos em todas as etapas desse processo.
Proximidade aos fragmentos florestais remanescentes; presença de banco de sementes do solo e banco de plântulas, formado principalmente por espécies pioneiras; chuva de sementes; permanência dos agentes dispersores de sementes, são importantes indícios da resiliência.
Se você identificou a presença desses fatores, o próximo passo é oferecer “gatilhos” para que sua área em recuperação, a partir da sua resiliência e de processos naturais, consiga se estabelecer e caminhar em direção aos seus atributos naturais.
Por outro lado, em locais onde a resiliência do ecossistema é baixa, técnicas envolvendo o plantio de mudas têm sido utilizadas. O objetivo principal da restauração ativa é eliminar os fatores responsáveis pela degradação, promover rápida cobertura do solo, atrair agentes dispersores de sementes e auxiliar na recuperação da fertilidade do solo, dentre outros benefícios.
3. Você sabe quais espécies arbóreas utilizar?
A escolha das espécies arbóreas é um dos fatores-chave para controle das plantas daninhas e redução dos custos. O objetivo é promover a rápida cobertura do solo. A formação do dossel limita a entrada de radiação solar direta sobre o solo, resultado em um ambiente desfavorável ao desenvolvimento de gramíneas heliófilas.
Costumo dizer que para a escolha correta das espécies é preciso escutar o que o ecossistema tem a nos dizer. Observe a paisagem local e outras características, tais como, o tipo de solo e sua fertilidade, distribuição da precipitação ao longo do ano e flutuação do lençol freático.
É fundamental entender que as espécies estão adaptadas a diferentes condições edafoclimáticas. As Matas Ciliares, por exemplo, são ecossistemas heterogêneos, com espécies adaptadas a condições mais secas e outras às condições de várzeas.
Comece identificando as espécies nativas de ocorrência regional e que apresentem boa adaptação às condições da área em processo inicial de restauração. Considerável produção de frutos e sementes, presença abundante de indivíduos adultos e vigorosos e copa bem desenvolvida são características importantes.
Que tal começar por essa espécie? É claro que você não vai lançar mão de um plantio homogêneo, mas toda espécie bem adaptada poderá ser o gatilho ecológico necessário para o “start” inicial de diferentes processos ecológicos inerentes à regeneração natural.
Você também pode contar com o auxílio da literatura para encontrar a recomendação de inúmeras espécies, mas não se prenda a listas de espécies prontas, consultar esses trabalhos é de suma importância, mas, o primordial é não deixar de escutar o que o ecossistema tem a te dizer e oferecer.
4. Quais suas metas e objetivos para restauração de ecossistemas florestais?
As metas e objetivos estabelecidos para projetos de restauração devem conduzir diferentes decisões, principalmente no que diz respeito aos custos envolvidos no processo e à escolha das técnicas para a restauração.
No que diz respeito à escolha das técnicas, enfrentaremos diferentes situações. São distintos fatores responsáveis pela degradação e diferentes níveis de degradação; cada ecossistema com suas características e peculiaridades. Ainda, para atender as exigências da nova lei de proteção da vegetação nativa será necessário apoiar os produtores rurais, suas necessidades, demandas e objetivos.
Para a maioria dos produtores será necessário a conscientização no diz respeito aos benefícios da recuperação para o ambiente e toda sociedade, bem como os meios possíveis para a implementação de ações de recuperação. Em outros casos será necessário oferecer sementes, mudas de qualidade e de baixo custo.
Para o plantio de mudas, instalação de cercas, assistência técnica voltada ao desenvolvimento e implantação dos projetos de recuperação, financiamentos serão necessários. A lei florestal de 2012 apresenta a possibilidade de uso sustentável das áreas de APP e RL, sendo possível a exploração de produtos madeireiros e não madeireiros, ecoturismo e outras atividades de baixo impacto. Neste sentido, alguns proprietários rurais poderão buscar acesso a mercados para a venda de produtos e serviços gerados a partir da restauração, como também em áreas já recuperadas.
Sendo assim, recobrimento do solo para proteção ambiental, exploração econômica das áreas de APP e RL e recuperação da biodiversidade, são direcionadores importantes para nossa tomada de decisão.
Considere cada uma das metas, objetivos e necessidades dos atores sociais envolvidos no processo, conjugue todas as informações, relacione os custos de cada etapa, conheça a resiliência do ecossistema e “escute” o que ele pode te dizer, dessa forma seus objetivos serão alcançados.
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