Segundo o Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), as 10 cidades que mais emitem CO₂e (dióxido de carbono equivalente) no Brasil foram responsáveis por lançar cerca de 198 milhões de toneladas de CO₂e na atmosfera. Tal quantidade pode ser considerada como superior às emissões de países como a Holanda ou Peru. Em síntese, pode-se atribuir as causas, principalmente, ao desmatamento, seguido pela geração de energia e resíduos. Ademais, a emissão desses gases fortalece o aquecimento global.
Emissão de CO₂e e as mudanças climáticas
O aquecimento global atual está intrinsecamente ligado ao aumento das emissões de gases do efeito estufa (GEE). Segundo o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), a principal causa está associada às ações humanas. Com o aumento da temperatura do planeta, induz-se as mudanças climáticas, que trazem impactos negativos de larga escala.
Conforme exposto no texto “Explosões de Raios e o Aquecimento Global”, é necessário ressaltar que o efeito estufa é um fenômeno natural. Para tanto, forma-se uma camada de gases na atmosfera capaz de aprisionar calor na superfície terrestre. Contudo, a alta emissão dos gases intensifica tal fenômeno. Por conseguinte, aumenta a temperatura planetária.
Dentre os GEE, destaca-se o CO₂ pela alta liberação por atividades antrópicas. Estima-se que este gás representa mais de 70% dos GEE emitidos. Além disso, sua permanência na atmosfera ultrapassa cem anos. Consequentemente, gera impactos por longos períodos.
Além do CO₂, são lançados outros gases como o metano (CH₄) e o óxido nitroso (N₂O), de origem natural, e o clorofluorcarboneto (CFC), de origem industrial. Portanto, ao fazer estimativas de liberação de GEE, considera-se todos os gases. Ao final, multiplica-se pelo potencial de aquecimento global do carbono, convertendo-os em carbono equivalente.
As cidades brasileiras que mais emitem CO₂e
Em julho de 2022, foram publicados pelo SEEG os dados nacionais de emissões de CO₂e referentes a 2019. As 10 cidades que mais emitem CO₂e no Brasil são:
- Altamira (PA)
- São Félix do Xingu (PA)
- Porto Velho (RO)
- Lábrea (AM)
- São Paulo (SP)
- Pacajá (PA)
- Novo Progresso (PA)
- Rio de Janeiro (RJ)
- Colniza (MT)
- Apuí (AM)
Observa-se que 8 de 10 cidades se localizam na região amazônica. Além disso, coincidem-se os setores que mais emitem toneladas de CO₂e: mudança de uso da terra e de florestas; agropecuária; energia e resíduos. Dentre os subsetores, destaca-se as alterações de uso do solo, que incluem o desmatamento, queimadas e uso do solo para atividades rurais. Curiosamente, isso ocorre em um dos biomas com maior percentual territorial protegido por Unidades de Conservação (UCs), de acordo com dados do CNUC.
As outras 2 cidades apresentam perfis bem diferentes. São Paulo e Rio de Janeiro são duas capitais super populosas. Portanto, os setores de emissão de CO₂e também se diferenciam, sendo: geração de energia e resíduos. No Rio de Janeiro estão incluídos também os processos industriais. Em ambos, evidencia-se a queima de combustíveis fósseis, os resíduos sólidos e os resíduos efluentes como subsetores.
Ao analisar as emissões totais do Brasil, em 2019, foram emitidas 1,97 bilhões de toneladas. No entanto, estima-se que em 2020 esse número aumentou, com emissões de 2,16 bilhões de toneladas de CO₂e. Com isso, o Brasil foi considerado como possivelmente o único país a aumentar as emissões de GEE durante a pandemia do coronavírus.
Quadros gerais dos setores e estados brasileiros
Atualmente, o Brasil é o 5º país que mais emite GEE, com 3,2% das emissões globais; atrás da China, EUA, Rússia e Índia. Abaixo, apresenta-se um espectro geral sobre os setores e Estados com maiores índices de poluição climática referentes a 2020.
Uso da terra
A principal atividade nacional emissora de GEE é o uso da terra, totalizando 998 milhões de toneladas (Mt) de CO₂e, sendo 932 Mt CO₂e referentes às alterações do uso de solo e 62 Mt CO₂e à queima de resíduos florestais. Diante de tais números, o Brasil é considerado o principal emissor de GEE devido ao desmatamento, degradação do solo ou conversão de solos para atividades rurais.
Tristemente, os números retratam o desmatamento dos biomas Amazônia e Cerrado, consequentes, principalmente, da fragilização da legislação ambiental brasileira. Os Estados mais poluentes foram: Pará, Mato Grosso e Amazonas. Contudo, a informação não é nova. Especificamente, a região de fronteira entre os Estados já possui históricos de desmatamentos. Inclusive, nota-se padrões de desmatamento, como:
- Consolidado: grandes e contínuas manchas de desmatamento;
- Difuso: pequenas e isoladas manchas de desmatamento, com forma irregular;
- Espinha de peixe: grandes e alongadas manchas com ramificações;
- Geométrico regular: manchas isoladas e de forma irregular;
- Multidirecional desordenado: manchas de diferentes tamanhos e formas variadas;
- Unidirecional linear: grandes e médias manchas, alongadas ao longo de hidrografia ou vias de acesso (Saito et al., 2011).
Agropecuária
Em seguida, tem-se a agropecuária responsável pela emissão de 577 Mt CO₂e. Estima-se 373 Mt CO₂e oriundos de fermentação entérica (processos digestivos de ruminantes); 166 Mt CO₂e, manejo de solo; e em torno de 37Mt CO₂e referentes a dejetos de animais, cultivo de arroz e queima de resíduos.
O setor agropecuário já foi considerado o maior emissor de GEE no Brasil. A reversão do quadro pode ser um resultado de estratégias de manejo de pastagens e sistemas integrados, combinado ao aumento do desmatamento no Brasil (que ocupa o 1º lugar atualmente). Contudo, ao comparar dados de 2019 e 2020, nota-se um aumento de 2,5%. Tais dados apontam o Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais como os maiores emissores de GEE por esta atividade. Juntos, estes estados emitem cerca de 35% de CO₂e.
Justifica-se tal fato pela diminuição do consumo de carne no Brasil no período da pandemia. Por consequência, tem-se mais bois nos pastos, onde mais fermentação acontece. Além disso, o consumo de fertilizantes aumentou, possivelmente por conta da produção de grãos. Nesta atividade, libera-se CH₄ em maior quantidade. Vale ressaltar que o metano apresenta maior capacidade de aprisionamento em comparação ao dióxido de carbono, portanto, seu potencial de aquecimento global é superior.
Energia
O setor de geração e consumo de energia é classificado como o 3º maior emissor de GEE, com 394 Mt CO₂e. Destes, 367 Mt CO₂e são referentes à queima de combustíveis fósseis, enquanto 27 Mt CO₂e às emissões fugitivas (escapes durante a produção de combustíveis). Incluem-se aqui as atividades de transporte, indústria, geração de eletricidade, produção de combustíveis, consumo doméstico e agropecuária.
A saber, quando comparado a 2019, foi o único setor que apresentou diminuição nas emissões de CO₂e. Infere-se que também seja uma consequência da pandemia da covid-19, uma vez que diminuiu significativamente o uso de transportes. Além disso, a geração de energia elétrica renovável influencia positivamente nos resultados.
Na verdade, o setor energético apresenta diminuição nas emissões desde 2015. Portanto, conclui-se que é um efeito de continuação na redução das emissões, e não uma novidade. O sudeste e o sul são as regiões mais emissores de GEE por este setor. Destaca-se, ainda, os estados de SP e RJ. Inclusive, isso conferiu às capitais dos estados o pertencimento entre as 10 cidades que mais emitem CO₂e no Brasil.
Indústria
O setor industrial foi responsável por 100 Mt CO₂e, sendo 46 Mt CO₂e oriundos da produção de metais; 29Mt CO₂e, produtos minerais; 20 Mt CO₂e, emissões de hidrofluorcarbonetos (HFC – substitutos ao CFC); e 5 Mt CO₂e, indústria química ou uso não energético. As maiores atividades foram a produção de ferro e aço, seguida pela produção de cimento. Os Estados mais emissores de CO₂e são: Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro.
Resíduos
O setor de resíduos foi responsável por 92 Mt CO₂e, sendo 61 Mt CO₂e referentes a resíduos sólidos e 31 Mt CO₂e a efluentes líquidos. Dessa forma, apresenta-se um pequeno aumento em comparação a 2019. Justifica-se esse aumento pelo crescimento populacional. Além disso, este setor também foi afetado pela pandemia, visto que durante o isolamento social aumentaram a geração de resíduos domésticos e hospitalares. Os Estados que mais emitem CO₂e neste setor são: São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Também são os mais populosos, o que faz sentido à luz das pontuações anteriores.
As emissões de CO₂e estão associadas, principalmente, à disposição de resíduos em aterros sanitários ou controlados e lixões, seguindo pelo tratamento de efluentes e incineração ou queima a céu aberto. Dentre os gases emitidos, 96% é referente ao gás metano. Destaca-se aqui que durante a participação da COP26, o Brasil firmou o compromisso de reduzir as emissões de gás metano até 2030. Nesse sentido, em março de 2022, o Governo Federal lançou o Programa Metano Zero. Objetiva-se, por meio do Programa, aproveitar o metano liberado dos resíduos sólidos como suprimento energético.
Além disso, estratégias como coleta seletiva, destinação final adequada e reciclagem/reutilização dos resíduos são básicas e efetivas para preservação dos recursos naturais e diminuição da poluição climática.
Remoção de CO₂e
Importa-se também a remoção de CO₂. Em outras palavras, refere-se aos carbonos retirados da atmosfera a fim evitar que o efeito estufa se intensifique. Além dos oceanos, o principal agente capaz de ter tal atividade é a floresta. Apesar das 10 cidades que mais emitem CO₂e no Brasil tratadas no texto, têm-se também exemplos de como compensar as emissões. Isso se comprova pela existência de dois Estados com emissões negativas – sequestram mais CO₂ do que emitem, sendo: Amazonas e o Amapá. Ambos possuem grande extensão territorial protegida por áreas indígenas e unidades de conservação. Portanto, a chave principal contra o aquecimento global é a manutenção das florestas e o reflorestamento.
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