No dia 11 de setembro, celebra-se o Dia Nacional do Cerrado. A partir de um decreto, em 20 de agosto de 2003, se instituiu essa data comemorativa, que é também uma homenagem ao ambientalista e um dos fundadores da Rede Cerrado, Ary José de Oliveira.
A princípio, ao estabelecer o Dia Nacional do Cerrado, o objetivo era impulsionar a sociedade e governantes para criação de estratégias que visassem a conservação do domínio.
Uma vez que o uso sustentável e a conservação da vegetação devem caminhar juntos, a data tem como intuito promover a conscientização ambiental, econômica e social sobre os recursos naturais do Cerrado.
O Cerrado
A savana brasileira é a maior savana neotropical do mundo, sendo comumente conhecida como Cerrado. Além disso, em comparação com as demais savanas mundiais, a brasileira possui a flora mais rica, destacando-se por apresentar alto endemismo, tanto de fauna quanto de flora.
O Cerrado é considerado como um hotspot mundial de biodiversidade. Em outras palavras, em função da sua rica diversidade e das fortes pressões sofridas, o domínio é considerado como área prioritária para conservação.
Esta vegetação é composta por um mosaico de fitofisionomias que vão desde formações campestres, savânicas a florestais, abrangendo assim as diversas formas de crescimento, composição e distribuição dos indivíduos arbóreos. Em suma, características de solo, topografia e clima possuem influência sobre tal variação fisionômica.
Área de abrangência
No Brasil, este é o segundo maior domínio em extensão territorial, ficando atrás apenas da Floresta Amazônica. O Cerrado está presente no Distrito Federal e nos estados da Bahia, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Piauí, São Paulo e Tocantins.
Características gerais
De forma geral, o Cerrado se caracteriza por apresentar uma vegetação esparsa, árvores tortuosas com casca grossa e que podem chegar a 20 metros de altura, assim como por abrigar reservas subterrâneas de água doce.
No domínio há mais de 11 mil espécies vegetais catalogadas, em que mais de 4000 são endêmicas. Em relação aos animais, identifica-se cerca de mais de 2500 espécies, dentre aves, mamíferos, anfíbios, répteis e peixes. Ressalta-se que 20% das espécies animais são exclusivas do bioma e 130 espécies estão ameaçadas de extinção.
Uma curiosidade sobre o Cerrado é que as plantas deste domínio desenvolveram adaptações que permitem a sobrevivência na formação vegetal. Por exemplo: sistema subterrâneo desenvolvido, que permite a rebrota após o fogo em função no acúmulo de reservas; caules aéreos espessos em razão da camada considerável de súber; folhas com estômatos na face abaxial, influenciando em menor perda de água; cutícula espessa, que também atua de forma a evitar perda de água; pilosidade, que atua na defesa contra herbivoria.
Principais filtros ambientais
A saber, o domínio Cerrado é susceptível a diversos filtros ambientais, como solo, clima e fogo. O clima se classifica como sazonal, com duas estações bem definidas: verões chuvosos e invernos secos. Os solos são normalmente ácidos em função da concentração de alumínio presente, assim como caracterizados como pouco profundos e drenados. Por fim, uma característica importante para o Cerrado é o fogo, visto que, quando sua ocorrência se dá de forma natural, este atua no favorecimento da germinação de determinadas sementes.
Atividades antrópicas
Originalmente, o domínio possuía aproximadamente 2 milhões de km2, cobrindo cerca de 22% do território brasileiro. Contudo, nas últimas décadas a expansão de atividades agropecuárias e florestais implicam em grande diminuição da vegetação. Por muitas vezes realizam-se tais ações de forma desenfreada e sem a devida atenção. Assim, dado o uso desordenado dos recursos, perdas expressivas na estrutura e composição da vegetação são perceptíveis. Nesse sentido, a resiliência do domínio vem sendo comprometida.
Ao considerar o desmatamento, consequências como a supressão de espécies, bem como o aumento de espécies ameaçadas de extinção e o agravamento das mudanças climáticas são mais propícias a ocorrerem.
A formação vegetal é alvo do desmatamento via extração ilegal de madeira, intensificação das atividades agrícolas e pecuárias, assim como em função do acentuado crescimento industrial e urbanização. Além do desmatamento, grande parte da vegetação nativa desse domínio vem sendo devastada devido as constantes queimadas.
Serviços ecossistêmicos
Assim como os demais biomas brasileiros (Amazônia, Mata Atlântica, Caatinga, Pampa e Pantanal), o Cerrado possui fundamental importância na provisão de serviços ecossistêmicos em função da diversidade que abriga. Nesse sentido, o domínio apresenta importância ambiental, social e econômica.
Considerando a biodiversidade do domínio, pode-se inferir que esta formação vegetal é utilizada como fonte de subsistência para diversas comunidades que vivem no seu entorno. Por exemplo, temos quilombolas, ribeirinhos, indígenas e geraizeiros.
Poucas são as espécies características do Cerrado que possuem potencial para geração de energia. Contudo, muitos são os produtos madeireiros e não madeireiros obtidos dessa vegetação. Por exemplo, há frutos como o pequi, buriti, cagaita, cajuzinho do Cerrado e araticum como produtos não madeireiros.
Estudos são realizados visando a determinação do potencial das espécies para uso medicinal (exemplo: barbatimão) e produção de cosméticos naturais (a partir de óleos de mamona e babaçu). Além disso, muito se utiliza de espécies-chave desta vegetação em programas de recuperação de áreas degradadas.
Esta formação vegetal destaca-se por abrigar importantes bacias hidrográficas, sendo considerada como um berço para as principais nascentes, resultando em um significante potencial aquífero. Dentre as principais bacias hidrográficas, têm-se as três maiores da América do Sul: Amazônica/Tocantins, São Francisco e Prata. Esse potencial hídrico tem influência direta na geração de energia, abastecimento humano, bem como para a agricultura.
Cenário atual da formação vegetal
O domínio Cerrado possui uma grande complexidade paisagística e ecológica, devido à diversidade de fauna e flora. Além disso, a posição geográfica que o Cerrado está inserido favorece as conexões com outros biomas brasileiros. Por exemplo: ao norte entra em contato com a Amazônia; leste e nordeste com a Caatinga; leste e sudeste com a Mata Atlântica; e sudoeste com o Pantanal.
O Cerrado e as mudanças climáticas
As pressões impostas aos domínios naturais, assim como a destinação destas áreas para outros fins, têm ocasionado em consequências drásticas para o meio ambiente. Fortemente influenciada pelo desmatamento, degradação e queimadas, as mudanças climáticas se fazem cada dia mais evidente. Tais ações são propulsoras do aumento de emissão de gases de efeito estufa e, consequentemente, intensificação do aquecimento global.
Com o advento das mudanças climáticas, a composição vegetal do Cerrado tende a se alterar. Tal fato pode ser explicado pela possível ocorrência de migração das espécies para ambientes com condições mais favoráveis para o crescimento. Além do impacto na formação nativa, outros setores também estão susceptíveis às consequências negativas, como é o caso da produção agrícola.
Consequências
Além dos impactos negativos na estrutura e composição da formação vegetal, assim como na sobrevivência dos animais, as mudanças climáticas afetam diretamente o bem estar do ser humano. Com eventos climáticos extremos cada dia mais frequentes, nota-se uma maior proliferação de vírus em decorrência à tais alterações climáticas. A exemplo, na região do Cerrado, a ocorrência de casos de dengue tem aumentado, até mesmo em estações que antes não era comum.
Atrelado à transmissão dos mais diversos vírus, o cenário de destruição no domínio também implica em outros ricos à saúde e necessidades do ser humano. A degradação ambiental no Cerrado resulta em alteração na disponibilidade hídrica, isto é, há um impacto no abastecimento de água para as comunidades locais e de outras regiões.
Para além das ações humanas, a ocorrência de dias secos, quentes e com baixa umidade relativa do ar propicia que mais episódios de queimadas ocorram. A partir desse evento, atualmente identificado no auge na região do Cerrado, há a intensificação de fumaças que são carregadas para outras regiões do Brasil. A fumaça, além da poluição visual, é um agravante na saúde humana, afetando o sistema respiratório, por exemplo.
Por fim, a frequência de queimadas é alarmante no Cerrado, em que segundo dados do Programa Queimadas, já foram registrados, de janeiro a agosto, 28.149 focos de incêndios no domínio. Cabe destacar que, os prejuízos em função destes eventos não se resumem somente ao quesito ambiental. As perdas também são identificadas nas esferas sociais, culturais e econômicas.
A transformação deste panorama assustador em uma situação mais positiva significa necessidade de criação de estratégias que busquem a conservação e manutenção do ambiente. Para tanto, se faz válido e preciso o esforço da sociedade, poderes públicos e privados na condução de projetos, leis, normas, decretos e fiscalização em prol do domínio.
Sequestro e mercado de carbono
A diversidade de espécies no Cerrado é evidente e estudos comprovam que as plantas do domínio apresentam potencial em sequestrar carbono. Em outras palavras, pode-se inferir que o Cerrado atua como um sumidouro de carbono, destacando mais uma vez a necessidade de manutenção e conservação deste domínio.
Nesta temática de carbono, nos últimos anos e em função dos mais diversos protocolos firmados, o assunto mercado de carbono se encontra em ascensão e debate. A saber, crédito de carbono é o conceito, determinado a partir do Protocolo de Kyoto, em que tem como objetivo a diminuição dos gases de efeito estufa. Em suma, uma tonelada de dióxido de carbono equivale a um crédito de carbono, crédito este que pode ser negociado no mercado internacional.
No Cerrado, a emissão de créditos de carbono é pioneira e está sob responsabilidade da Companhia Brasileira de Alumínio (CBA) e Reservas Votorantim. As empresas pretendem leiloar os créditos ainda no mês de setembro de 2022. Tais iniciativas são tidas como essenciais na promoção de um desmatamento cada vez menor no país. Em síntese, o mercado de carbono, principalmente o mercado voluntário, se mostra um importante instrumento, sendo uma forma de compensar aos que preservam a formação vegetal.
Ainda sobre o dióxido de carbono, este gás possui forte influência sob a camada de ozônio. Em outras palavras, o aumento na emissão do gás carbônico implica em maior degradação da camada de ozônio e, consequentemente, intensificação do efeito estufa. A saber, também em setembro, tem-se uma data estabelecida para a conscientização quanto a este fenômeno. Assim, o dia 16 de setembro é considerado como o Dia Internacional para a Preservação da Camada de Ozônio. A data tem como objetivo informar a sociedade quanto a importância que a camada possui.
O que deve ser feito?
A manutenção e conservação ambiental é de suma importância, uma vez que os recursos utilizados na sobrevivência humana e animal advém destes ecossistemas. Considerando o crescimento da demanda por produtos, por parte da população, é importante o estabelecimento de políticas públicas, sejam decretos, leis ou normas, que venham propiciar não só o uso sustentável, mas também a conservação dos recursos. Muito mais que políticas governamentais bem estabelecidas, a conscientização e esforço de toda a sociedade se faz necessária.
Links relacionados
- Programa Queimadas
- Reservas Votorantim
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