O desmatamento na Amazônia e Cerrado é pauta de discussão há várias décadas. Tal preocupação não é em vão: só no ano de 2020, cerca de 13 mil km² foram desmatados em todo o país e a tendência é de aumento.
Segundo o relatório da FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) de 2020 – Avaliação Global de Recursos Florestais da FAO (FRA), o Brasil é o país que mais perdeu área de floresta na última década.
Causas e impactos
O desmatamento pode ter causas naturais, como queimadas oriundas da queda de raios, ou devido a ações antrópicas – que hoje são as grandes responsáveis por tamanha devastação. As principais atividades relacionadas ao desmatamento na Amazônia Legal e no Cerrado estão associadas à extração ilegal de madeira, expansão agrícola, e a pecuária. Esta última atividade é apontada pela FAO como responsável por 80% do desmatamento no Brasil.
As consequências que o desmatamento traz são inúmeras. Além da grande discussão envolta das emissões de Gases de Efeito Estufa que essa atividade gera, há a perda de biodiversidade, colocando em risco de extinção de espécies de alto valor ecológico. Contudo, há outros impactos gerados, como a modificação do ciclo hidrológico, perda de características dos biomas e alterações nos solos.
Amazônia e Cerrado
Dentre todos os biomas, os maiores percentuais de desmatamento atualmente são registrados no Cerrado e Amazônia Legal. Essa tendência só aumenta e seus impactos podem ser enormes.
Desmatamento na Amazônia Legal
A Amazônia Legal, constituída pelos estados do Pará, Mato Grosso, Rondônia, Amazonas, Maranhão, Acre, Roraima, Tocantins e Amapá, corresponde a aproximadamente 59% do território nacional. Essa área possui um papel fundamental na regulação climática não só do Brasil, mas do planeta, já que compreende a maior bacia hidrográfica do mundo.
Além disso, a biodiversidade encontrada em suas florestas é imensurável, e ainda não foi possível mapear todas as espécies que as compõe. Todavia, o agravamento do desmatamento aumenta a possibilidade dessas espécies, ainda não conhecidas, entrarem em extinção.
Análise e monitoramento
O PRODES (Programa de Cálculo do Desflorestamento da Amazônia) é o responsável pelo monitoramento via satélite, do desmatamento na Amazônia Legal. As taxas anuais de desmatamento na região, produzidas desde 1988 pelo PRODES, são usadas pelo governo brasileiro para o estabelecimento de políticas públicas.
Os dados gerados pelo PRODES e disponibilizados no TerraBrasilis – plataforma criada pelo INPE (Instituto Nacional de Pesquisa Espacial) que reúne as informações do desmatamento de todo o país – apontam que o ano com a maior taxa de desmatamento na Amazônia Legal foi em 1995, com cerca de 30 mil km² de área desmatada. Em síntese, os estados do Pará e Mato Grosso sofreram e ainda sofrem com a maior concentração da atividade, somando juntos mais de 60% do total do desmatamento da região.
A partir de 2005 as taxas de desmatamento começaram a cair consideravelmente, chegando, em 2012, a 4.500 km². Apesar da queda significativa dos números, no ano de 2018 o desmatamento na região voltou a subir, e a taxa entre agosto de 2020 e julho de 2021 fechou em torno de 13 mil km². Esse aumento vem gerando grandes discussões, inclusive internacionais, sobre medidas e ações necessárias para que a taxa volte a abaixar, chegando a um dia zerar o desmatamento na região.
Desmatamento no Cerrado
O Cerrado é considerado o segundo maior bioma da América do Sul. O bioma abrange os estados de Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Bahia, Maranhão, Piauí, Rondônia, Paraná, São Paulo e Distrito Federal. Ainda, é considerado como um hotspost mundial de biodiversidade e a savana mais rica do mundo. Ademais, o Cerrado ocupa 22% do território brasileiro e é composto por mais de 14 mil espécies da fauna e flora nativas.
O bioma abriga as nascentes da bacia Amazônica/Tocantins, São Francisco e Prata, consideradas as três maiores bacias da América do Sul. Além da importância ambiental, também possui enorme importância social e econômica, já que as populações tradicionais como as indígenas, quilombolas, geraizeiros, ribeirinhos, babaçueiras e vazanteiros sobrevivem de seus recursos naturais.
Diante de sua importância nos âmbitos ambiental, social e econômico, a preocupação pela devastação que o bioma sofre devido ao desmatamento só aumenta. O Cerrado, depois da Mata Atlântica, é a região que mais sofreu alterações com a ocupação humana.
Análise e monitoramento
Em uma análise feita entre os anos 2000 a 2019 pelo MapBiomas, estima-se que 41% do bioma já foi desmatado, e a principal causa apontada é a expansão agrícola para a produção de soja. Ainda mais, é uma região que possui exploração extremamente predatória e ilegal de madeira para produção de carvão.
Os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – região conhecida como Matopiba – sofrem com a maior pressão sobre a vegetação nativa. Considerada a principal fronteira do desmatamento no Cerrado, entre agosto de 2020 a julho de 2021, 61,3% da vegetação suprimida ocorreu na Matopiba. Tais resultados são advindos de dados do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) e PRODES Cerrado. Ainda, cerca de 80% do desmatamento ocorre dentro de propriedades privadas.
Contudo, pouco se comenta sobre a devastação da savana mais biodiversa do planeta, ao contrário do que ocorre com a Amazônia Legal. Os pesquisadores alertam sobre a velocidade com que o desmatamento no Cerrado vem ocorrendo. Tal aumento coloca em risco a sociobiodiversidade da região, bem como aumenta as consequências climáticas associadas à destruição do bioma.
Metas e acordos sobre a redução do desmatamento no Brasil
O Brasil é signatário de acordos internacionais relacionados às questões climáticas há várias décadas. Dentre esses acordos, o desmatamento está sempre em pauta, uma vez que caracteriza a principal fonte de emissão de gases de efeito estufa do país. A saber, este fato corresponde a cerca de 40% das emissões brutas.
Hoje há dois compromissos principais relacionados ao desmatamento assumidos internacionalmente pelo Brasil. No primeiro, presente na sua Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC), oriundo do Acordo de Paris, o país se compromete a zerar o desmatamento ilegal na Amazônia Legal até 2030.
O segundo compromisso, pode-se entender como uma renovação e adiantamento do primeiro. Assumido na COP26, em Glasglow, o Brasil se comprometeu, novamente, a zerar o desmatamento ilegal, porém não só na Amazônia Legal, mas em todo o país até o ano de 2028.
Em suma, o Brasil tem um grande desafio pela frente e precisa adotar medidas radicais se almeja atingir seus objetivos. Apesar dos compromissos, os dados de desmatamento dos últimos anos indicam um caminho contrário ao assumido. E agora, fica a pergunta: será que é possível zerar todo o desmatamento ilegal do país até 2028?
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