Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), até 2030 deverão ser restauradas 350 milhões de hectares de áreas degradadas e desmatadas. Tal ação se dá com o objetivo de alcançar as metas globais para o clima e a biodiversidade. Similarmente, como alternativa eficaz, tem-se estudado e aplicado a técnica de regeneração natural assistida (RNA), que compreende a união das técnicas de restauração passiva e restauração ativa. Estes mecanismos garantem melhor custo benefício na fase de implantação do método, assim como aumento da escala do processo de restauração.
Regeneração Natural Assistida: O que é?
A RNA consiste em um meio termo entre a restauração passiva e a restauração ativa. Em síntese, é a união da regeneração natural somada ao plantio ativo de espécies nativas. Assim, a ação humana se limita a ajudar a vegetação nativa a se recuperar de forma natural, eliminando barreiras e ameaças ao seu crescimento.
Restauração Passiva
A restauração passiva é definida como o retorno natural de um ecossistema perturbado ao seu estado antigo; na qual a resiliência do ambiente garante a estrutura e a função do ecossistema.
Restauração Ativa
Por outro lado, a restauração ativa é o resultado de um conjunto de ações diretas para reverter os danos causados pela perturbação do ecossistema.
Técnicas de Regeneração Natural Assistida
A principal técnica de regeneração natural assistida é a inserção de mudas de espécies nativas, que aceleram o processo de restauração.
Contudo, dentre as demais técnicas, merecem destaque: a proteção contra fogo; o controle de formigas; o manejo do gado; a instalação de cercas; o enriquecimento com espécies nativas; o controle de espécies invasoras e/ou exóticas; e a manutenção dos indivíduos regenerantes.
Plantio de Espécies Nativas
O plantio das mudas é feito de forma aleatória ou sistemática (em linhas); com espaçamentos diversos que podem variar em função do relevo, do tipo de vegetação a ser restaurado e da velocidade com que se quer recobrir o solo.
Proteção Contra o Fogo
Para evitar perdas advindas do uso do fogo, aceiros são construídos em volta da área a ser recuperada.
Em suma, o aceiro é uma faixa de terra sem qualquer cobertura vegetal, que isola a área de recuperação florestal das áreas vizinhas, com a finalidade de impedir a propagação do fogo.
Controle de Formigas
As formigas podem causar grandes danos às mudas jovens, inibindo o desenvolvimento das plântulas ou provocando a mortalidade das mesmas. Portanto, o combate às formigas, pode-se dá pelo uso de iscas, formicidas de contato e formicidas naturais.
Manejo do gado
O manejo do gado é fundamental para o sucesso da regeneração natural assistida; uma vez que o pisoteamento do rebanho favorece a compactação do solo e prejudica o desenvolvimento das mudas regenerantes.
Controle de Espécies Exóticas Invasoras
O controle de competidoras se dá quando muitas espécies exóticas invasoras, emergentes de rebrota de raízes ou oriundas de chuva de sementes, acontecem em grande quantidade, e empatam o desenvolvimento de espécies nativas.
Assim, formas de manejo específicas, como eliminação de plantas invasoras, a adubação dos regenerantes e a descompactação do solo, são necessárias, e com isso podem aumentar e manter a densidade da regeneração natural ou mesmo o seu crescimento.
Manutenção de Indivíduos Regenerantes
Por fim, a manutenção de indivíduos regenerantes acontece por meio de coroamento, irrigação, adubação ou qualquer outra ação identificada como necessária para garantir a sobrevivência dos indivíduos.
Monitoramento
O monitoramento é necessário para medir o tamanho da regeneração natural existente e definir as barreiras específicas que impedem o seu desenvolvimento.
Toda ação de restauração florestal, deve ser monitorada e manejada conforme seus resultados. Portanto, o monitoramento, permite avaliar se o método empregado está promovendo a regeneração necessária para o retorno da vegetação natural.
Dentre os métodos mais simples de monitoramento, são quantificados: a cobertura do solo, a densidade de plantas presentes e a sua riqueza.
Dessa forma, os principais fatores que indicam o sucesso da restauração são: o fechamento do dossel; o desenvolvimento da estrutura florestal (múltiplas camadas de dossel); e a recuperação dos níveis de biodiversidade e espécies-chave, que são características do ecossistema natural.
Vantagens e Importância
A regeneração natural assistida surge como uma técnica de restauração eficaz, pois além de possuir melhor custo benefício, acelera o processo de restauração.
A relação positiva entre custo e benefício, quando comparada a outras técnicas de restauração florestal, diz respeito, à baixa necessidade de obtenção de mudas, que necessitam de um alto investimento para sua produção.
Além disso, na maior parte dos casos, envolve pouca ou nenhuma preparação da área e dispensa cuidados constantes com as mudas plantadas.
Dessa forma, a RNA pode auxiliar no alcance das metas globais para o clima e a biodiversidade determinadas pela ONU; que pretende restaurar 350 milhões de hectares de áreas degradadas e desmatadas até 2030.
Desvantagens
Todavia, a técnica de RNA exige investimento em capital social; uma vez que, pequenos imóveis e áreas comunitárias podem demandar intenso e contínuo trabalho braçal na manutenção das áreas em regeneração, até que as espécies adequadas se estabeleçam (FAO, 2011).
Além disso, a maioria das terras de fácil acesso, são usadas para agricultura, e a maioria dos locais disponíveis para RNA estão longe de estradas ou em terrenos difíceis, onde nem mesmo com a ação da mão de obra humana, a execução da RNA é viável.
Fatores Limitantes
Apesar de ser uma opção eficaz de restauração, alguns fatores podem limitar o sucesso da regeneração natural assistida, como: o potencial para regeneração natural de cada paisagem; o contexto fundiário onde a área a ser recuperada está inserida; a ausência de técnicas definidas para a proteção e monitoramento dessas áreas; e a divergência de esforços entre donos de terras e agentes públicos e privados, para a introdução de ações bem-sucedidas.
Fatores Chave de Sucesso
Em contrapartida, o desenvolvimento de projetos de regeneração natural assistida está relacionado a diversos fatores que motivem as pessoas a executarem a restauração, que facilitem processos e que apoiem ações de implementação no campo.
Bem como, a melhoria da qualidade da floresta e da água com a regularização de vazão (quantidade); recuperação dos solos; conservação de nascentes e cursos d’água para reduzir erosão; redução de emissões de gases do efeito estufa (GEE), visando diminuir os efeitos das mudanças climáticas; bem-estar ambiental; e questões relacionadas à conservação da biodiversidade.
O Futuro da Restauração Florestal
Para se atingir as escalas da restauração florestal previstas pela ONU, será necessário o uso de tecnologias que aumentem o grau de automação das diferentes técnicas de restauração.
Dentre elas, o uso de drones de baixo custo, que possibilitam a semeadura aérea por veículos aéreos não tripulados (VANT’s); onde a densidade de indivíduos regenerantes encontra-se abaixo dos níveis desejados.
Do mesmo modo, o emprego de novos dispositivos de imagem, que facilitam o monitoramento do local, permitindo a identificação do grau de restauração dos locais, bem como, distinguir a vegetação existente, entre ervas daninhas herbáceas e espécies nativas locais.
Links relacionados
- O Potencial para automatizar a regeneração natural assistida de ecossistemas de florestas tropicais;
- Entendendo a Restauração Florestal;
- O papel da regeneração natural assistida para acelerar a restauração de paisagens e florestas;
- Métodos de recomposição da vegetação nativa.
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