Ao iniciar um levantamento florístico, seja com finalidade de inventário florestal, compreensão da florística local, identificação de fitofisionomias, caracterização de estágio sucessional, dimensionamento populacional, ou qualquer outra finalidade, geralmente surgem dívidas quanto ao tamanho e quantidade das parcelas a serem definidas para o estudo.
É fato, que o dimensionamento da amostra deverá ser definido de forma a fornecer os dados necessários para serem processados e se obter uma análise satisfatória, que permita a definição de resultados concretos, baseado nos dados obtidos em campo.
Em inventários florísticos, existem inúmeras metodologias de levantamento, no entanto, no presente texto, vamos nos ater apenas ao método de parcelas fixas, também denominadas, trasectos.
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Ao se escolher tal metodologia, o dimensionamento da amostragem deve responder a três perguntas básicas, sendo elas: qual o tamanho das parcelas a serem utilizadas? Qual a quantidade de unidades amostrais necessárias para que o estudo seja representativo? E por último, qual o formato das parcelas a serem fixadas?
Sendo assim, vamos tentar esclarecer tais perguntas nos parágrafos que se seguem. É importante ressaltar, que as definições inferidas no presente texto se referem a uma hipótese de levantamento florístico para composição de laudo, estudo ou levantamento com a finalidade de licenciamento ambiental, sendo que, a metodologia deve ser definida sempre se atentando à finalidade do estudo.
Tamanho de parcelas: varia em função da estrutura e estágio de regeneração da vegetação. Para a parcela ser representativa, a mesma deve englobar as variações florísticas e estruturais da vegetação, ou seja, deve ser “uma maquete” do ambiente.
Não deve ser muito grande, de modo que dificulte a existência de repetição e a orientação dentro da mesma, nem muito pequena, de modo que não abranja a variação florístico-estrutural da vegetação.
Ex 01: no cerrado sensu stricto deve englobar áreas cobertas com copas de árvores e áreas abertas – parcelas de 20 m x 50 m.
Ex 02: Tendo em vista a densidade da FOM (Floresta Ombrófila Mista), vegetação da Mata Atlântica, a dimensão das parcelas aplicadas para o cerrado sensu stricto resultaria em um levantamento exaustivo e oneroso, portanto inviável, sendo assim, se adapta a metodologia para a realidade da vegetação local – parcelas de 10 m x 10 m).
Como dica para quem está em dúvidas em relação ao dimensionamento das parcelas para levantamentos florísticos ligados a estudos com finalidade de licenciamento, instrui-se que se consulte, em primeiro lugar, a legislação vigente para a área de interesse do estudo. Também é válida a consulta aos termos de referência disponibilizados pelo órgão ambiental a qual o estudo se destina.
No caso de inexistência de termos de referência fixados pelo órgão licenciador responsável, é válido o embasamento em termos de órgão em esferas superiores. Ex: Se o licenciamento é destinado à análise por prefeituras ou pelo estado, caso estes não possuam termos de referência e o IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (órgão licenciador na esfera estadual) disponibilize um termo de referência específico para o estudo em questão, o mesmo pode ser seguido como base de referência, sendo ajustado de acordo com a necessidade do inventário.
Para as situações em que nenhum órgão ambiental se manifeste a respeito por meio de legislação ou termo de referência, o profissional / pesquisador deve embasar sua metodologia em bibliografia específica para fitofisionomia ou tipo de vegetação estudada. Vale ressaltar que metodologias amplamente aplicadas no âmbito da pesquisa raramente são questionadas, devido à comprovação de sua eficácia.
Forma das parcelas: basicamente, as parcelas podem ser retangulares (maior efeito de borda, mais alongadas, podem captar mais os efeitos dos gradientes, podem facilitar a orientação dos trabalhadores nas parcelas), quadradas (maior área interna protegida do efeito de borda) ou circulares (para um mesmo perímetro engloba maior área).
A forma das parcelas a serem aplicadas, assim como o dimensionamento, deve ser adequada ao tipo de fitofisionomia e estágio de sucessão da vegetação estudada.
É importante que a metodologia escolhida preveja sempre a viabilidade de replicação das parcelas por toda a área de estudo, especialmente nas áreas de maior dimensão.
Quantidade de unidades amostrais: Assim como os itens anteriores, a quantidade das parcelas a serem lançadas em campo devem atentar ao objetivo do estudo, bem como termos de referência e legislação vigente. A grosso modo, sugere-se que a área amostrada não seja inferior a 20% da área de estudo total, no entanto, desde que tecnicamente embasado, esse percentual pode ser redefinido de acordo com a área de interesse, especialmente em áreas muito grandes.
Se tratando de quantidade de parcelas, deve-se ter em mente que a metodologia escolhida, obrigatoriamente, precisa fornecer amostragem significativa, do contrário o estudo pode ter sua eficácia e veracidade de resultados questionada, especialmente se tratando de inferências voltadas à regularização e autorizações ambientais.
Um ponto de extrema importância ao se definir parcelas, que geralmente é motivo de grande dificuldade de vários pesquisadores, é a definição do local das parcelas.
Salvo casos excepcionais em que o estudo precise ser dimensionado para uma região específica, a caracterização e levantamento da vegetação deve ser distribuída por toda a área de estudo de forma a abranger todas as fitofisionomias e regiões dentro da área de interesse, de maneira que não haja margem para questionamento da metodologia.
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O modo mais fácil para evitar tal erro, é a realização de um pré-campo para conhecimento da área e a utilização de softwares de geoprocessamento para definição das parcelas por meio de sensoriamento remoto. É aconselhável que as parcelas sejam definidas e georreferenciadas em escritório e os pontos para delimitação em campo sejam identificados com uso do GPS.
Ressalta-se que, para evitar viés de amostragem, o posicionamento das parcelas deve seguir um padrão definido pelo pesquisador, que não pode ser alterado no decorrer do estudo. Isso garantirá que a amostra seja representativa e revele a realidade local, sem que a amostragem seja tendenciosa.
Como última dica, sugiro que, sempre que se planejar um levantamento florístico, consulte metodologias aplicadas para a fitofisionomia e/ou região a qual o estudo será direcionado, sendo assim, será possível fazer um paralelo entre as metodologias comumente utilizadas para seu tipo de estudo e as exigências presentes nos termos de referência e legislações vigentes, o que culminará em um estudo bem embasado e resultados precisos e verídicos.
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