A estimativa da biomassa florestal pode ser realizada por meio de diferentes abordagens, seja por meio de métodos diretos ou indiretos. Neste contexto, tem-se a aplicação de equações alométricas, fator de expansão e razão de raiz, dentre outros.
Por quê quantificar a biomassa florestal?
A realização de estudos relacionados a biomassa e carbono em formações florestais tem crescido com objetivos diversos, como a quantificação da ciclagem de nutrientes, a quantificação para fins energéticos e como base de informações para estudos de sequestro de carbono. Este último se destaca em virtude das mudanças climáticas em andamento, aceleradas pelo maior volume de gases de efeito estufa emitidos para a atmosfera. No Brasil, o principal vetor dessas emissões é o desmatamento, sobretudo na Amazônia, e a consequente conversão da cobertura florestal para outros usos.
Nesse sentido, as árvores e, por consequência, as florestas representam importantes recursos para mitigação dos efeitos das mudanças climáticas, uma vez que promovem a remoção biológica do CO₂ da atmosfera, por meio da fotossíntese. Este carbono sequestrado da atmosfera fica, então, armazenado na biomassa arbórea. Como resultado, grande parte do carbono existente na biota está estocado nas espécies lenhosas.
Nesse contexto, a quantificação e monitoramento da biomassa de árvores e florestas se tornam instrumentos de compreensão dos estoques biológicos de carbono. Dessa maneira, estimativas confiáveis de biomassa e de estoques de carbono são cada vez mais necessárias para a compreensão do ciclo global do carbono, sendo a precisão da estimativa da biomassa de suma importância.
Métodos diretos e indiretos de quantificação da biomassa florestal
A obtenção de valores de biomassa e carbono em florestas pode se dar por métodos diretos (determinação) ou indiretos (estimativas). Nos métodos diretos, utilizam-se processos destrutivos que envolvem, por exemplo, corte e pesagem das árvores. Já nos métodos indiretos, geram-se estimativas utilizando equações ou fatores. Os métodos diretos, obviamente, são mais realistas, com menos incertezas, pois determina-se, de fato, a biomassa. Esses métodos são importantes, pois fornecem bases para modelos e fatores. No entanto, esses métodos são onerosos, exigindo muitos recursos financeiros e humanos.
No caso das estimativas indiretas, a quantificação da biomassa pode se dar pelo emprego de equações alométricas ou fatores. As equações alométricas disponíveis para biomassa arbórea variam bastante em estrutura e complexidade. Algumas equações estimam a biomassa em função do diâmetro e altura das árvores e também da densidade da madeira da espécie arbórea em questão. Outras equações, mais simples, estimam a biomassa somente em função do diâmetro da árvore. Essas equações variam de equações locais até equações pantropicais e globais. Portanto, é sempre bom lembrar que quanto mais específica for a equação utilizada (equação para região de trabalho, para espécie de trabalho, etc.), mais adequada ela tende a ser. Ademais, faz-se importante observar o número de amostras que geraram a equação. Quanto maior a amostra que gerou a equação, maiores as chances de ela contemplar as variações existentes naquela determinada realidade e mais robusta ela é.
O fator de expansão de biomassa
Há também uma maneira simplificada que pode fornecer uma ideia da biomassa contida na vegetação, quando se possui somente o volume do fuste. Assim, utiliza-se dados volumétricos de árvores ou talhões multiplicados por fatores apropriados, denominados fatores de expansão de biomassa (FEB), que convertem volume para biomassa aérea. O FEB é adimensional e obtido a partir da relação entre a biomassa da parte aérea e o volume (ou biomassa, ou peso seco) do fuste da árvore. Note que é possível, então, utilizar o FEB sem que haja informações de árvores individuais. Nesse caso, aplica-se o FEB sobre o valor de volume por área, por exemplo.
O volume ou biomassa do fuste são de mais fácil obtenção, tanto por meios diretos quanto por meios indiretos. Por outro lado, a biomassa total da parte aérea é mais dificilmente obtida, pois contempla galhos e folhas, que são compartimentos cheios de particularidades e com grandes variações. Assim, uma vez determinado o volume ou a biomassa do fuste, aplica-se um FEB para obtenção da biomassa total da parte aérea. Tais combinações (equações para biomassa ou volume do fuste seguida do emprego de FEB, ou ainda equações para biomassa aérea que contenham FEB como variável preditora), apesar de carregarem diversas fontes de incertezas, são bastante utilizadas.
Necessidade de refinamento dos FEB
Como é de se esperar, os valores de FEB costumam possuir alta variabilidade entre indivíduos, espécies, regiões. Por isso, torna-se importante o desenvolvimento de trabalhos para cada região, evidenciando as reais características do local. Ainda assim, muitos profissionais optam por utilizar valores médios de FEB. Por exemplo, o valor de FEB igual a 1,50 (para espécies folhosas, visando a obtenção do peso seco total a partir do peso seco do fuste) ainda é uma referência para muitos. O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) tem se dedicado a compor um banco de dados, que contemple os fatores de expansão para uso em todo o mundo.
A razão de raiz
Um parte “invisível” da biomassa arbórea, porém muito importante e negligenciada, é a biomassa das raízes. Esta biomassa contribui significativamente para o sequestro e estocagem de carbono, também desempenhando importante papel na mitigação das mudanças climáticas. Além disso, essa biomassa pode ser levada em conta em projetos de sequestro de carbono. No entanto, essa biomassa é ainda de mais difícil obtenção por meios diretos, pois implica abertura de trincheiras e escavação do solo.
Nesse caso, de maneira análoga ao FEB, existe a possibilidade do uso de um fator adimensional chamado razão de raiz (RR). Obtém-se este fator por meio da relação entre a biomassa das raízes e a biomassa da parte aérea. No caso das formações florestais, esse valor é frequentemente menor que 1. A saber, o valor médio de 0,28, sugerido para espécies folhosas (visando a obtenção do peso seco da raiz a partir do peso seco da parte aérea), é um valor de referência ainda bastante utilizado.
Assim como acontece com o FEB, a RR é bastante variável. Por exemplo, a RR varia de acordo com a fitofisionomia, tipo de solo, dentre outras condições locais. Idealmente, devemos utilizar valores específicos para as condições da região de interesse. Nesse contexto, é importante ressaltar que a aplicação da RR em valores de biomassa aérea obtidos por equação de biomassa de fuste, seguido por aplicação de FEB, representa assumir uma série de incertezas sobre os valores apresentados.
A demanda crescente por valores de biomassa florestal
Mesmo diante das incertezas nas estimativas, o FEB e a RR representam alternativas pragmáticas, principalmente quando se deseja ter uma ideia inicial dos estoques de biomassa de determinado local. Trabalhos que apresentem valores determinados de biomassa são e serão sempre importantes para o refinamento tanto desses fatores quanto das equações disponíveis. Atualmente, esta é uma demanda forte para o setor florestal.
Estimativas acuradas da biomassa florestal são críticas para discussão do balanço e sequestro de carbono e para informar sobre a efetividade das políticas de mitigação climática discutidas em acordos internacionais, como o Protocolo de Kyoto e o Acordo de Paris. Países comprometidos com essas iniciativas concordaram em estimar regularmente emissões e remoção de CO₂ para acompanhar o papel das florestas no ciclo de carbono. Iniciativas voluntárias, como as englobadas nos projetos REDD+, também demandam estimativas e monitoramento confiáveis de estoques de biomassa e carbono. Assim, FEB e RR tem sido usados em projetos de sequestro de carbono, lastreados em recomendação do IPCC e da FAO, por exemplo.
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