A Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU), COP27, teve seu início no dia 06 de novembro e tem programações até o dia 18 do mesmo mês. Mas, o que significa este evento e o que esperar?
Contexto da COP27
Nas últimas décadas tem se tornado cada dia mais evidente as alterações nos padrões de temperatura e precipitação. Em outras palavras, as mudanças climáticas estão ainda mais evidentes.
A Conferência do Clima tem como objetivo reunir figuras públicas e a sociedade civil para discutir e propor estratégias que visem diminuir os impactos das mudanças climáticas para as gerações atuais e futuras. Assim, o evento, que acontece no Egito, conta com a participação de representantes de aproximadamente 200 países.
A saber, em 1994 acontecia a primeira Conferência relacionada ao clima. O evento se deu como uma consequência ao tratado firmado por 197 países durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (ECO-92), no Rio de Janeiro. Em síntese, o tratado estabelecia o compromisso de trabalhar em prol da estabilização das concentrações de gases do efeito estufa.
O que já foi posto em debate na COP27?
A COP é um evento de frequência anual e que possui papel fundamental na discussão quanto ao clima. Neste ano, as discussões serão direcionadas pelo relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), que aborda quesitos sobre as mudanças climáticas. Em suma, espera-se que ocorra o debate de pontos como mitigação climática, adaptação climática, financiamento, perdas e danos em decorrência das mudanças climáticas.
Carta aberta na COP27
Dentre os debates já levantados durante a COP27, destaca-se a divulgação de uma carta aberta em que há uma chamada para o desenvolvimento de ações sustentáveis. A carta traz assinaturas de diretores executivos de grandes empresas como Nestlé, Dell, Unilever, dentre outras. O intuito do documento é questionar e propor que outras empresas definam metas de emissões com base em dados científicos. No total, CEOs de 101 empresas assinaram a carta em acordo com a necessidade de políticas mais claras para melhor gestão das ações em prol da mitigação climática.
A saber, os executivos que estão em consonância com o descrito na carta, apelam que se tenha um maior incentivo dos poderes públicos e privados no cumprimento das metas do Acordo de Paris, firmado em 2015.
Parceria por florestas
A Parceria de Líderes para Floresta e Clima é uma iniciativa que visa o acompanhamento dos avanços para com a conservação das florestas. No dia 07 de novembro, durante a COP27, apresentou-se a proposta que conta com a participação de 26 países em conjunto com a União Europeia. O intuito com esta parceria está diretamente relacionado com a Declaração de Florestas, proposta durante a COP26.
A saber, a Declaração trata sobre o compromisso em conservar os recursos naturais, diminuindo a perda das florestas e degradação do solo. Apesar de ter assinado esta declaração no ano de 2021, o Brasil, que é lar da maior floresta tropical do mundo, a Amazônia, não faz parte desta iniciativa Parceria por Florestas. A decisão foi tomada pelo próprio país, alegando que existem outras estratégias que merecem mais atenção e que esta não é a melhor forma para lidar com as necessidades dos países em desenvolvimento.
Proteção da Amazônia
A defesa da Amazônia foi pauta levantada pelos presidentes da Colômbia e da Venezuela. Os líderes destacam e questionam a necessidade de se ter uma aliança internacional em prol desta causa. Em suma, o objetivo é promover a união de nove países da bacia amazônica e o Estados Unidos em prol da conservação do território.
A Floresta Amazônica possui papel fundamental no ciclo hidrológico, consequentemente, a redução desta formação vegetal implica em impactos negativos nos quesitos sociais, ambientais e econômicos. A título de curiosidade, no dia 07 de novembro, comemora-se o Dia da Floresta e do Clima. A data se instituiu a partir da Lei Estadual de Mudanças Climáticas do Amazonas, em 2007. O objetivo da lei é que se promova um movimento entre ambientalistas, poderes públicos e privados, assim como a sociedade, na busca pelo equilíbrio climático.
Cobrança aos países ricos
As prioridades econômicas dos países ricos foram colocadas em debate a partir da cobrança realizada por líderes de pequenos países e nações africanas, estes que acabam por sofrer de forma mais direta com as mudanças climáticas.
Agenda de Adaptação de Sharm-El-Sheikh
O Egito, país que está sediando a COP27, propôs um plano global para auxiliar as comunidades mais pobres do mundo na gestão dos impactos advindos do aquecimento global. Em síntese, o plano prevê um total de 30 metas que devem ser atingidas até o final da década. Dentre tais metas, cita-se a proteção da população aos eventos climáticos catastróficos, restauração de ambientes naturais, desenvolvimento de práticas agrícolas mais sustentáveis, dentre outros.
Financiamento climático
Pauta do quarto dia do evento, o financiamento climático também foi motivo de manifestação por parte de ativistas. O intuito desta manifestação é de que ocorra o fim do financiamento dos combustíveis fósseis, passando a direcionar os recursos para projetos de energia renovável, além de pagamento de compensação por danos oriundos das mudanças climáticas.
Cabe ressaltar que, o financiamento climático é a designação dada para o apoio financeiro para que se possa perseguir as metas de controle das mudanças climáticas. Em outras palavras, o financiamento do clima está diretamente relacionado com a origem do dinheiro a se utilizar no âmbito da mitigação e adaptação climática. Assim, a ideia é que os países desenvolvidos forneçam tal recurso para os países em desenvolvimento.
Participação de representantes do Brasil
A delegação brasileira estará sobre orientação do ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite. Além disso, o Presidente da República eleito no mês de outubro, para a gestão 2023-2026 no Brasil, recebeu o convite para participar do evento. Com presença confirmada, o futuro presidente fará parte da comitiva do Consórcio Amazônia Legal, coordenada pelo governador do estado do Amapá, Waldez Góes.
Qual a estratégia do Brasil frente à COP27?
O Brasil está entre os maiores países produtores de energia renovável. A energia verde, como também são definidas as energias renováveis, é uma alternativa promissora no contexto de desaceleração do aquecimento global. Além disso, estas fontes de energia apresentam impactos positivos tanto nos quesitos econômicos quanto ambientais. Entende-se por energia verde, toda energia produzida por meio de recursos naturais e renováveis, que ofereça impactos mínimos ao meio ambiente.
A saber, no Brasil, o maior potencial está relacionado com a geração de energia eólica. De acordo com a Associação Brasileira de Energia Eólica, o país possui capacidade para gerar aproximadamente 500 gigawatts de energia, possibilitando assim, atender cerca de três vezes a demanda nacional quando comparada a outras fontes.
Assim, considerando o potencial e capacidade do país na geração de energias verdes, durante a COP27, o Brasil busca atrair investidores e almeja encontrar caminhos para vender os produtos excedentes relacionados à geração de energia.
Na contramão do que é defendido pelo Brasil no uso de energias renováveis, o representante especial enviado pelos Estados Unidos discorreu e defendeu o uso de energia nuclear no que tange ao combate as mudanças climáticas. John Kerry, argumenta que não há como atingir uma economia net zero. A saber, este é um modelo sustentável e que vem do movimento Net Zero Carbono.
O Brasil e as mudanças climáticas
O alto índice de desmatamento no país nunca foi tão crítico quanto nos últimos anos. Atrelado a este fato, o Brasil é apontado como um dos países que mais contribuem para a emissão de gases de efeito estufa (GEE) no mundo. As principais fontes de emissão de GEE relaciona-se com a mudança de uso da terra e floresta, agropecuária, processos industriais, dentre outros.
O que esperar da COP27?
A intensificação de eventos climáticos extremos nas últimas décadas é mais um sinal dos efeitos das mudanças climáticas. A saber, alterações no regime hídrico, secas prolongadas, ondas de calor, inundações, dentre outros eventos, tem se tornado cada dia mais frequentes, tanto no Brasil quanto em outros países. A exemplo, regiões do Paquistão, África do Sul, Nigéria, Estados Unidos e França são países em que consequências negativas do aquecimento global se fazem evidentes.
Diante do cenário, de acordo com a ONU, espera-se que o combate ao aquecimento global seja posto em evidência para debates e soluções. Em outras palavras, o objetivo é que os países se comprometam a executar o que foi proposto durante a COP26, em 2021. Tal imposição está atrelada ao fato de apenas 24 países participantes terem apresentado uma atualização ou novo plano para a redução de emissão dos gases.
Relatório da ONU
Segundo relatório publicado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) é com urgência que os países devem se comprometer, de forma efetiva, com a diminuição da emissão de gases de efeito estufa. O não agir, ou ação tardia, pode ocasionar em drásticas e irreversíveis consequências. Para se atingir o objetivo de limitar o aquecimento a 1,50 graus Celsius acima das temperaturas pré-industriais, faz-se necessário uma redução de aproximadamente 43% nas emissões.
Impactos da guerra entre Rússia e Ucrânia
A guerra entre Rússia e Ucrânia já passa de oito meses. Com início em fevereiro de 2022, a guerra tem provocado impactos tanto para os países envolvidos quanto para as demais regiões do mundo. O conflito possui influência direta na provisão de matéria-prima para diversos setores. Nesse sentido, nota-se um aumento do preço de alimentos e combustíveis, por exemplo. Consequentemente, pode-se inferir que há um impacto negativo no crescimento econômico.
Além do impacto econômico, a guerra entre os países também produz consequências negativas no quesito social e ambiental. A exemplo, a tensão entre os países também tem influenciado no consumo por energia advinda do carvão, maior fonte poluente de energia. No mais, o confronto entre nações, além da devastação, perdas de histórias e seres vivos, provocam:
- Diminuição da biodiversidade;
- Geração de substâncias tóxicas e radioativas que poluem o solo, ar e água;
- Alteração na beleza cênica, por meio da alteração da paisagem.
Investir na natureza é uma solução?
As formações naturais abrigam uma rica diversidade de plantas e, sabe-se que, estes ambientes possuem alta capacidade em atuar como sumidouro de carbono. Em outras palavras, as formações vegetais absorvem e armazenam o carbono, um dos principais gases responsáveis pelo aumento do aquecimento global.
Considerando o potencial que estes ambientes possuem, faz-se de grande relevância o incentivo a medidas de conservação, bem como de manutenção dos recursos naturais. Para tanto, atenuar os impactos da degradação e desmatamento por meio de atividades de recuperação de áreas degradadas, cumprimento da legislação vigente, maior imposição no licenciamento ambiental, dentre outros se fazem necessários.
Investir na natureza é sinônimo de cuidado com a geração atual e futura, uma vez que estes ambientes atuam na provisão de bens e serviços tanto para o meio quanto para a sociedade. Nesse sentido, iniciativas como a proteção das áreas naturais possibilitam que haja uma garantia de melhor e maior provisão de água e ar, além de evitar que eventos como inundações, erosões e ondas de calor se façam constantes e crescentes.
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