Ao mencionar o termo “economia”, logo se pensa em desenvolvimento financeiro. Ainda, relaciona-se ao sentido de “uso eficiente de recursos” ou “gastos necessários”. No entanto, sob a perspectiva do modelo econômico atual, os processos produtivos devem gerar lucro. Para isso, incentiva-se o consumismo. Dessa maneira, com a intensificação de técnicas produtivas, promove-se também o uso exagerado de recursos naturais. Não obstante, aumenta-se a quantidade de resíduos e, por consequência, gera-se o desequilíbrio ambiental. Diante o exposto, destaca-se a economia circular.
Modelo atual: Economia Linear
Antes da Revolução Industrial, geravam-se produtos de modo manufaturado, ou seja, manual/artesanalmente. Por isso, produzia-se mais lentamente e com menor volume. Assim, demandavam-se menos extrações de recursos naturais. Com o desenvolvimento tecnológico e intensificação das produções, o uso de recursos da natureza tornaram-se excessivos. A partir disso, denomina-se o atual modelo de produção e consumo como “economia linear”, visto que promove: “extrair, transformar, produzir, utilizar e descartar”. Nesse sentido, mantém um fluxo retilíneo de consumo, uma abordagem batizada cradle-to-grave (do berço ao túmulo).
Como toda ação gera uma reação, o planeta começou a responder à exploração de seus recursos. Primeiro, há de se pensar: os recursos naturais são limitados. Nesse sentido, a extração desenfreada, sem manejo sustentável, gera escassez. Segundo o WWF, atualmente, vive-se um déficit ecológico em que a humanidade demanda os recursos equivalentes a 1,5 Terra. Em outras palavras, utiliza mais do que o planeta pode regenerar. Ainda, deve-se considerar o crescimento populacional, que provoca maiores demandas de extração, produção e consumo. Em 2022, a população mundial atingiu 8 bilhões de pessoas, e, estima-se que até 2050 o planeta habitará 9 bilhões de pessoas.
Insustentabilidade da economia linear
Pontua-se a quantidade de resíduos descartados após a utilização – na maioria das vezes, com potencial de reutilização. Diante desse cenário, notam-se as crescentes problemáticas ambientais, como poluição, queimadas, diminuição da biodiversidade, eventos climáticos extremos e escassez. Inegavelmente, é possível observar alguns movimentos que promovem práticas de consumo mais consciente, como os R’s da sustentabilidade. Concomitantemente, também é inegável: a economia linear é insustentável.
Todavia, mesmo que haja uma redução de consumo, segue-se a linearidade do processo. Posterga-se o esgotamento dos recursos, porém, não soluciona os inúmeros impactos ambientais negativos. Portanto, para manter as condições atuais do planeta, necessita-se de uma transformação nos modos de produção. Isso significa que a natureza não deve ser tratada como propriedade do homem, mas, sim, como intrínseca à sociedade. Na abordagem da economia linear, a natureza é um recurso de fonte financeira, com prazo a ser descartado. Assim, esquece-se de que não há para onde descartar e, ainda, que a existência humana é uma condição da natureza.
Nova proposta: Economia Circular
A economia circular é um modelo mais alinhado ao sentido de “uso eficiente de recursos”. Frente a abordagem do “berço ao túmulo” da economia linear, a economia circular propõe um ciclo produtivo cradle-to-cradle (do berço ao berço). Em outras palavras, visa reintroduzir os materiais considerados resíduos no processo produtivo, além de desenvolver designs mais duráveis que permitem a remanufatura – ou seja, mesmo após o descarte, continuam produtivos. Portanto, incorporam-se algumas ações promovidas na economia linear, como a reciclagem, mas de maneira ressignificada.
Em 2002, o arquiteto William McDonough e o químico Michael Braungart lançaram o livro “Cradle to cradle: remaking the way we make things”. Neste livro, abordam-se conceitos de economia e propõe que nutrientes biológicos e nutrientes técnicos sejam processados de formas diferentes. Consideram-se nutrientes biológicos os recursos biodegradáveis, por isso, devem ser devolvidos de maneira segura para a natureza. Classificam-se como nutrientes técnicos aqueles que não são produzidos continuamente pelo planeta e sempre devem ser aproveitados em processos industriais, com a mesma qualidade (Franco, Santos e Velloso, 2021).
Fim à sociedade do descarte
Segundo Foster, Roberto e Igari (2016), “a economia circular implica no fim da sociedade do descarte“, pois, na verdade, não há resíduos. Considerando o ciclo de vida dos produtos, força-se a pensar em novas possibilidades para o “final de vida” dos materiais. Logo, o que era resíduo, torna-se insumo. Nesse sentido, valorizam-se os materiais desde sua origem para manter o fluxo circular. Para tanto, fundamenta-se a economia circular em três princípios:
- Priorizar fontes renováveis, eliminando resíduos e a poluição desde o início;
- Aproveitar produtos e serviços ecossistêmicos, mantendo-os em uso;
- Regenerar sistemas naturais, otimizando técnicas que reduzem a poluição e reaproveitem rejeitos (Ellen MacArthur Foundation, 2022).
Posto isto, reduz-se a quantidade de resíduos em todo o processo produtivo e gera maior aproveitamento de produtos naturais e renováveis. Observa-se que a relação com os recursos naturais é transformada, pois, não promove a extração desenfreada e desperdício. Pelo contrário, busca-se a otimização do que já foi extraído. Além disso, pauta-se a natureza como inspiração para desenvolvimento de produtos a partir da Biomimética.
Modelos de negócios na Economia Circular
Cabe ressaltar que a economia circular envolve todo o ciclo de vida do produto. Por isso, além dos insumos, modos de produção e design, pensa-se no modo de consumo. No entanto, difere-se da economia linear por aumentar o ciclo de vida do produto e buscar a reinserção do mesmo ao fluxo produtivo. A luz da economia circular, surgem novos modelos de negócios, como:
- Compartilhamento: consumo colaborativo, reduz novas produções e aumenta o uso de produtos;
- Extensão de vida útil: reparo, manutenção, remontagem, cessa o uso de descartáveis;
- Insumos circulares: matéria prima volta a cadeia produtiva, prioriza-se recursos renováveis e aumenta-se o ciclo de vida do produto;
- Recuperação de recursos: produção a partir de resíduos, transforma produto da fase “descarte” em novo;
- Produto como serviço: venda de serviço, o consumidor não compra o produto;
- Virtualização: desmaterialização, elimina-se estoques, economiza espaços e reduz deslocamentos (Borschiver, Tavares, 2021).
A partir dos modelos expostos, alinham-se pontos que atendem as demandas do mercado, ao passo que respeita a natureza. Consequentemente, alinha-se aos pilares da sustentabilidade.
Contribuições da Economia Circular para o Desenvolvimento Sustentável
Considera-se a sustentabilidade como um compromisso entre gerações, pois, busca-se suprir as necessidades atuais, sem prejuízos para as gerações futuras. Planeja-se alcançá-la a partir do desenvolvimento sustentável. As discussões sobre tal conceito deram início durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente (Conferência de Estocolmo – ECO72), abordando como a expansão da produção impactava a natureza de maneira negativa. A partir disso, o desenvolvimento sustentável visa uma relação equilibrada entre o meio ambiente, economia e as questões sociais.
O primeiro passo é reconhecer que os recursos naturais são finitos. Para orientar o desenvolvimento sustentável, a ONU propôs a agenda 2030 com os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Contudo, sabe-se que diante do modelo econômico atual e hábitos de consumo, dificulta-se o alcance dos objetivos, visto que, por muitas vezes, sobressaem os desejos econômicos. Consequentemente, compromete-se a natureza e o desenvolvimento das pessoas. Todavia, nota-se uma atenção entre a população e empresas sobre a sustentabilidade.
Em paralelo, a economia circular se evidencia como estratégia de fortalecimento e superação sobre tal fato. Pode-se dizer que tanto o desenvolvimento sustentável quanto a economia circular se preocupam com as dimensões ambientais, econômicas e sociais. Ainda, a economia circular visa o uso eficiente dos recursos naturais, sem geração de resíduos e impactos ambientais negativos. Assim, alinha-se à sustentabilidade por garantir as demandas atuais, sem comprometer as gerações futuras.
Considerações finais
A economia circular transpassa por toda a cadeia produtiva. Portanto, não mantém o foco somente no descarte dos materiais. Importa-se a origem dos produtos, design, produção e reinserção dos mesmos ao ciclo de produção. Dessa maneira, a economia circular transforma a relação sociedade/natureza. E, assim, traz um novo sentido ao modo de consumo, em que o planeta pode acompanhar o ritmo de produção e crescimento econômico.
Links relacionados
- Borschiver, Tavares, 2021. Catalisando a economia circular.
- Ellen MacArthur Foundation, 2022. Elementos básicos da economia Circular.
- ONU, 2022. Objetivos de Desenvolvimento Sustentável no Brasil.
- Worldometer, 2022: Acompanhamento populacional.
- WWF, 2022: Pegada Ecológica Global.
__________ xxx __________