O carnaval é a época mais esperada por muitas pessoas, seja para descansar ou festejar. Aqueles que preferem cair na folia não deixam de vivenciar o momento com muito glamour e brilho. São fantasias, acessórios e muito glitter. Mas, você já parou para pensar se este produto tem algum efeito na natureza? O glitter realmente faz mal ao meio ambiente?
Em geral, o glitter faz parte do dia a dia de muita gente, no desenvolvimento de trabalhos artísticos, assim como na maquiagem corporal e facial, esta principalmente no Carnaval. A época tem como marca uma diversidade de cores, as ruas ficam brilhantes, cheias de glitter. No entanto, estas pequenas partículas, aparentemente inofensivas, do ponto de vista ambiental, são verdadeiras vilãs.
Composição química do glitter
O glitter possui em sua composição pedaços de plásticos copolímeros, folhas de alumínio, dióxidos de titânio, óxidos de ferro, oxicloretos de bismuto ou outros materiais pintados em metálico. Também, destacam-se as cores neon e cores iridescentes que refletem a luz em um espectro de espumantes. Apesar de toda beleza propiciada por esta pequena partícula, a sua composição não compreende materiais recicláveis e, em função dos produtos químicos envolvidos, a decomposição do glitter pode levar anos para acontecer.
Em suma, o glitter é um microplástico, ou seja, são pequenas esferas ou pedaços de plásticos. A saber, tem-se os microplásticos como uns dos principais poluentes dos ambientes aquáticos.
Como se produz o glitter ?
O glitter, de plástico como o conhecemos, é produzido a partir de placas de PET ou PVC. Estas placas são metalizadas com alumínio e, depois, tingidas com cores diferentes. Posteriormente, reveste-se novamente as placas de plásticos com uma camada transparente para tentar segurar sua cor e dar consistência ao alumínio.
Essas placas são então cortadas em pequenas partículas e passam por uma máquina que tem um cilindro com 60 dentes rotativos de corte e uma faca, uma espécie de combinação entre um triturador de galhos e um triturador de papel.
O formato das partículas que causa menos desperdício é o hexágono. Assim, este é justamente o formato em que se tritura a maior parte das partículas de glitter. Além disso, esta opção faz com que as diferentes partículas de glitter nunca caiam no mesmo ângulo. Em síntese, quando não estão uniformes, brilham mais, porque há mais chances de receberem luz em diferentes partes.
Para onde vai o glitter?
Normalmente, o glitter apresenta tamanho menor que 5 milímetros. Assim em função da sua dimensão, dificilmente serão filtrados no sistema de tratamento de esgoto. Por consequência, estas partículas acabam parando nos rios e mares, podendo ser ingeridas pela fauna marinha.
A presença do microplástico, como o glitter, nos oceanos traz impactos negativos ao ecossistema local, prejudicando a biodiversidade. Tais consequências são decorrentes da capacidade que estes pequenos pedaços de plástico possuem em absorver produtos tóxicos, como pesticidas, metais pesados e outros tipos de poluentes orgânicos persistentes, conhecidos como POPs. A saber, os POPs são substâncias químicas que apresentam características de persistência, toxidade e bioacumulação.
Quais os impactos dos microplásticos à natureza?
Como supracitado, os microplásticos apresentam impactos diretos aos ambientes aquáticos, seja este doce ou salgado. As interferências que estes produtos apresentam no bioma é principalmente identificado na cadeia alimentar. Mais especificamente, podemos inferir que os microplásticos perturbam o início da cadeia de alimentação aquática, como os plânctons e, também afetam ostras e mexilhões. Assim, quando ingeridos por esses organismos, os microplásticos podem afetar o crescimento e atrapalhar a alimentação como um todo e, consequentemente, provocar alterações na cadeia de alimentação. A exemplo, os plânctons são um alimento dos peixes, que, por sua vez, alimentam os humanos.
Não há estudos sobre o glitter nesse contexto, visto que a identificação da origem de um microplástico não é fácil. No entanto, esta pequena partícula faz parte dos microplásticos que poluem o oceano – são entre 15 e 51 trilhões de partículas.
Onde os microplásticos são encontrados?
Além do glitter, nosso foco de discussão, também se identifica a presença dos microplásticos a partir dos microbeads, ou grânulos, encontrados em produtos industrializados como pastas de dentes, sabonetes e esfoliantes.
Microbeads
Os microbeads são produtos não biodegradáveis e levam milhares de anos para serem degradados na natureza. Em suma, são partículas minúsculas, pedaços de plástico do tamanho de grãos de sal que absorvem toxinas, tais como o óleo de motor e inseticidas, à medida que correm rio abaixo e em direção ao oceano. Essas esferas contendo toxinas absorvidas são consumidas por organismos marinhos como mariscos, caranguejos, peixes e, posteriormente, são consumidas por nós humanos.
Como alternativa a estes produtos, constantemente se desenvolvem iniciativas biodegradáveis. A exemplo, os esfoliantes naturais, que são produtos biodegradáveis e não agridem a natureza, assim como não são nocivos à saúde. A saber, diversos cosméticos já dispõem de formulações com este tipo de alternativa. Em outras palavras, realiza-se a substituição por sementes de plantas trituradas, como o maracujá, linhaça, café, amêndoas moídas. Também, faz-se o uso de açúcar, sal, farelo de arroz, sementes de painço, farinha de aveia, assim como folhas desidratadas e trituradas.
Mas, e o glitter, como substituir?
O glamour e brilho, efeito este propiciado pelo glitter, pode vir de outras possibilidades. A exemplo, o pó de mica se destaca como uma alternativa natural. A mica é um tipo de rocha que inclui diversos minerais proximamente relacionados. A saber, esta substância mineral ocorre naturalmente no Brasil e é atóxica, isto é, depois do uso, não há problema em voltar para o ambiente, de onde ela veio.
Outra opção é você produzir em casa o seu próprio glitter. Provavelmente você está se questionando como fazer isso. Pois bem, o glitter ecológico pode ser obtido a partir da gelatina vegetal, feita com alga ágar. Resumidamente, essa gelatina não precisa ir à geladeira para ficar firme e também não derrete em temperatura ambiente, como acontece com a animal (que é a gelatina mais comum usada para sobremesas). A receita leva apenas uma colher de sopa de gelatina vegetal em pó e meia xícara de água de beterraba gelada.
Além destas opções, também são alternativas ecológicas:
- Sal com corante alimentício;
- Pó de mica;
- Açúcar com corante alimentício;
- Pó de pimentão (páprica);
- Gelatina com corante alimentício;
- Pó de urucum (colorau);
- Glitter de confeiteiro;
- Filtro solar colorido;
- Produtos de maquiagem.
Folia e responsabilidade ambiental, esta relação é possível?
As festividades são responsáveis pela produção de um montante significativo de resíduos sólidos. Em sua grande maioria, os resíduos podem ser reciclados, por exemplo: latinhas de cerveja e refrigerante, garrafas de águas, copos descartáveis, dentre outros. Contudo, quando se trata dos mais diversos apetrechos, é de suma importância a conscientização e conhecimento dos danos que a composição destes produtos pode provocar ao meio ambiente.
Como destacamos, os microplásticos não existem apenas no glitter. Na verdade, tudo que é plástico um dia será microplástico, principalmente se descartados de maneira incorreta. O que acontece é que em função de agentes como a chuva, sol, ventos, dentre outros, o plástico sofre alterações. Em outras palavras, a estrutura inicial do produto é fragmentada em pequenas partículas, o que os transforma em microplásticos.
Como contribuir para a sustentabilidade ambiental?
Ao comprar ou fazer o uso de algum produto, verifique o rótulo. Por exemplo, ao escolher o esfoliante para sua rotina de skin care. Caso, na descrição você encontre os nomes polyethylene ou polypropylene no seu esfoliante, você já sabe: contém microplástico!
Não tenha medo de também banir esse item da sua lista de compras. Afinal, existem outras maneiras de cuidar da saúde e da beleza sem utilizar glitter e microplástico.
Além disso, evite também garrafinhas plásticas, canudinhos e outros itens supérfluos que podem se degradar em microplásticos e prejudicar a fauna e flora. Por fim, lembre-se: reutilize, reduza, recicle! Procure realizar o descarte correto dos produtos e contribuir com as práticas de reciclagem. Com certeza, na sua cidade, você encontrará diversos postos de coleta.
Aproveite a leitura e compartilhe conosco a sua iniciativa para promover um ambiente mais sustentável!
Texto revisado por Natielle Gomes Cordeiro em 22 de fevereiro de 2023.
__________ xxx __________