Em uma sociedade capitalista é difícil mensurar algum tipo de patrimônio que não seja pelo seu valor monetário, até porque, no final das contas, os interesses na maioria das vezes são centralizados no dinheiro. Nesse sentido, todas as coisas são vistas como objetos de valor ou indispensáveis de valor. Por isso, as florestas são designadas como obstáculos para o desenvolvimento econômico, uma vez que demandam áreas que poderiam ser utilizadas para a agricultura. Além disso, a derrubada das árvores representa em valor agregado para produção de madeira. Diante disso, o desmatamento tem crescido em áreas naturais em diversos domínios brasileiros. No entanto, se mantivermos a floresta em pé, qual o seu valor? Quanto vale uma floresta em pé? Responderemos essas perguntas ao decorrer do texto.
Serviços ecossistêmicos
Os serviços ecossistêmicos são os benefícios dispensados pelo meio ambiente ao homem. Tais serviços, podem estar relacionados, por exemplo, a qualidade de vida e bem-estar da sociedade. A saber, diante da complexidade e diversidade dos recursos naturais, inumeráveis serviços são ofertados cotidianamente ao ser humano. Para exemplificar, podemos pensar sobretudo que uma floresta fornece: alimentos, água doce, madeira, produtos químicos, regulação do clima, controle de doenças, entre outros benefícios. Nesse contexto, os serviços ecossistêmicos prestados pela natureza possuem diferentes conjunturas. Em razão disso, classificam-se os serviços como de provisão, regulação, culturais e suporte.
Os serviços de provisão são os recursos ofertados da natureza para o homem, como exemplo a água. Em relação, aos serviços de regulação, estes são responsáveis pelas funções ecossistêmicas que auxiliam nas condições ambientais, a exemplo a qualidade do ar. Os serviços culturais envolvem os benefícios não materiais da natureza, por exemplo, o ecoturismo. E por último, os serviços de suporte são os serviços indiretos que favorecem os serviços diretos existirem, como exemplo a formação dos solos. Assim, quando uma floresta está em pé, ela cumpre um papel importante, e os beneficiados somos nós, os seres humanos. Mas será que todos nós compreendemos o valor dessa floresta?
Valor da floresta em pé
Conceitualmente, entende-se o valor como sendo a expressão monetária dos benefícios obtidos de sua provisão do ponto de vista pessoal. Em outras palavras, é um entendimento individual e passível de diferentes interpretações. Algumas pessoas entenderão o meio ambiente como muito importante e outras não. Por isso, existe uma dificuldade de se traçar um método de valoração que não esteja vinculado a opiniões.
No entanto, quando baseamos em um método, ainda há algumas dificuldades para se estabelecer o valor, uma vez que muitos fatores estão envolvidos na dimensionalidade da valoração da natureza. É certo que não é possível alcançar valores exatos, principalmente quando lidamos com a deterioração dos recursos naturais em função das ações do homem. Diante disso, pode-se estimar o valor, mas, ainda assim depararemos com a questão da exatidão quanto aos custos.
Diante do cenário, fica clara a existência de uma profunda interação entre os sistemas econômicos e os sistemas naturais. Assim, pode-se inferir que os sistemas econômicos são dependentes dos fundamentos ecológicos e, em última instância, do sistema global de suporte à vida. Por outro lado, a sociedade estabelece também normas e regras sociais, ou princípios de comportamento que devem ser seguidos.
Ao longo do tempo estas normas devem estar compatibilizadas ou serem consistentes com as leis naturais que governam a manutenção dos ecossistemas, ao mesmo tempo em que estes devem ser conservados se a sustentabilidade for aceita como um objetivo a ser alcançado.
Valores atribuídos aos serviços ecossistêmicos
Os estudos da economia do meio ambiente e dos recursos naturais baseiam-se no entendimento do meio ambiente como um bem público e dos efeitos ambientais, como externalidades geradas pelo funcionamento da economia. De forma geral, cita-se o valor econômico dos recursos ambientais na literatura da seguinte maneira:
Valor econômico total (VET) = Valor de uso (VU) + valor de opção (VO) + Valor de Existência (VE).
O valor de uso (VU) representa o valor atribuído pelas pessoas ao uso, propriamente dito, dos recursos e serviços ambientais. Compõe-se o VU pelo Valor de Uso Direto (VUD) e pelo Valor de Uso Indireto (VUI). O VUD corresponde ao valor atribuído pelo indivíduo devido à utilização efetiva e atual de um bem ou serviço ambiental, por exemplo, extração, visitação ou alguma outra forma de atividade produtiva, ou consumo direto. Em relação ao VUI, este representa o benefício atual do recurso, derivado de funções ecossistêmicas como, por exemplo, a proteção do solo, a estabilidade climática e a proteção dos corpos d’água decorrentes da preservação das florestas.
O Valor de Opção (VO) representa aquilo que pessoas atribuem no presente para que no futuro os serviços prestados pelo meio ambiente possam ser utilizados. Assim, trata-se de um valor relacionado a usos futuros que podem gerar alguma forma de benefício ou satisfação aos indivíduos. Por exemplo, o benefício advindo de fármacos desenvolvidos com base em propriedades medicinais ainda não descobertas de plantas existentes nas florestas.
O terceiro componente, o Valor de Existência (VE), se caracteriza como um valor de não-uso. Esta parcela representa um valor atribuído à existência de atributos do meio ambiente, independentemente, do uso presente ou futuro. Representa um valor conferido pelas pessoas a certos recursos ambientais, como florestas e animais em extinção, mesmo que não tencionem usá-los ou apreciá-los na atualidade ou no futuro.
A atribuição do valor de existência é derivada de uma posição moral, cultural, ética ou altruística em relação aos direitos de existência de espécies não-humanas ou da preservação de outras riquezas naturais, mesmo que estas não representem uso atual ou futuro para o indivíduo.
Outros métodos da valoração dos recursos naturais
Além do método citado para calcular o valor da floresta em pé, existem outros métodos para a realização desse cálculo. No entanto, é importante ressaltar que o uso de cada metodologia irá depender do objeto do estudo e objetivo. Dessa forma, torna-se relevante entender sobre cada uma. Destaca-se os mais difundidos abaixo.
Valoração contingente: estabelece o valor por meio de entrevistas, em que as pessoas definem o quanto pagariam pelo serviço ecossistêmico;
Preços hedônicos: considera o valor que as condições ambientais impactam no preço de outros bens;
Custos de viagem: é o valor empregado quando se realiza o turismo ecológico;
Custo evitado: é o valor empregado ao não realizar impacto ambiental em um local.
Ademais, cabe ressaltar que existem outros métodos que estabelecem gastos e o valor da manutenção da floresta em pé.
Economia ecológica
A Economia Ecológica constitui-se em uma abordagem que procura compreender a economia e sua interação com o ambiente a partir dos princípios físicos e ecológicos, em meio aos quais os processos econômicos se desenvolvem.
Os métodos de valoração baseados nesta abordagem utilizam o montante de energia capturada pelos ecossistemas como uma estimativa do seu potencial para a realização do trabalho útil para a economia. Este processo de valoração, geralmente, utiliza do conceito de produção primária bruta de um ecossistema.
A produção primária bruta é uma medida da energia solar utilizada pelas plantas para fixar carbono. Assim, pode-se inferir que, converte a energia solar capturada pelo sistema em equivalente de energia fóssil. Depois, faz-se a transformação deste equivalente em energia fóssil em unidades monetárias, utilizando-se uma relação entre o Produto Interno Bruto e o total de energia usada pela economia.
O método da análise energética propõe definir os valores ecológicos dos ecossistemas em função dos custos da energia envolvida na sua produção: a quantidade de energia necessária para a organização de estrutura complexa, como o ecossistema, pode servir como medida de seu custo de energia, de sua organização e de seu valor.
Existem diversos métodos de valoração que objetivam captar estas distintas parcelas do valor econômico do recurso ambiental. Todavia, cada método apresenta limitações em suas estimativas, as quais estarão quase sempre associadas ao grau de sofisticação metodológica, a necessidade de dados e informações, às hipóteses sobre comportamento dos indivíduos e da sociedade e ao uso que será dado aos resultados obtidos.
Exemplo
Atualmente, existem diferentes casos em que houve a valoração da floresta em pé. Um desses, é a Rede Oásis, realizado pela Fundação Boticário, que recompensa financeiramente proprietários que mantêm suas áreas naturais por meio do método do Pagamento por Serviços Ambientais (PSA). Outro exemplo parecido, é na cidade de Extrema – MG. Por meio de um decreto municipal, incentivou os proprietários na criação de Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) como instrumento de conservação dos recursos hídricos. Dessa maneira, os proprietários estão sendo recompensados por meio do PSA.
Estudos recentes, tem demostrado que manter a Floresta Amazônica em pé vale sete vezes mais do que outras atividades econômicas, como pastagem. Um relatório feito pelo Banco Mundial estabeleceu que a Floresta Amazônica tem valor estimado, em pelo menos R$ 1,5 trilhão.
Assim, deve-se realizar a conservação dos recursos naturais de forma contínua e progressiva. Pois, a floresta em pé possui muito mais valor agregado do que ela derrubada. No entanto, é necessário conscientizar a sociedade e outros atores sobre a importância atual e futura das nossas florestas. Os cenários atuais têm demostrado o poder devastador das mudanças climáticas, e em contrapartida o desmatamento em diferentes biomas brasileiros tem crescido exponencialmente. Dessa forma, pensar, entender e valorar os serviços ecossistêmicos é crucial para a permanência da sociedade atual e a sobrevivência da futura.
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Revisado por Kelly Marianne Guimarães Pereira em 17 de julho de 2023
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