O Brasil é um dos países com maiores iniciativas para restauração de ambientes degradados, estima-se que 21 milhões de hectares são somente os passivos de restauração das unidades de Área Preservação Permanente e Reserva Legal, e mais 12 milhões de hectares de matas nativas restauradas são parte das metas firmadas pelo Brasil no Acordo de Paris Sobre o Clima, ações com o objetivo de frear as mudanças climáticas.
Mas a ciência da restauração não é somente fazer uma floresta qualquer, nós visamos reduzir os danos ambientais, recuperar os serviços ecológicos e restaurar as funções ecológicas, entre as quais a conservação das espécies ao longo do tempo, preservando a habilidade de evolução natural das espécies.
Mas como tudo na vida, a Ciência da Restauração passou por diversos avanços ao longo do tempo, sendo fundamental entender esse processo para podermos discutir sobre o futuro da restauração.
HISTÓRICO DOS PROJETOS DE RESTAURAÇÃO
No princípio os projetos tinham somente o objetivo de “criar” uma floresta, ou seja, criar uma estrutura vegetal que se assemelha-se a uma formação florestal, logo a revegetação era a principal preocupação. Para se ter esta floresta, usavam-se espécies exóticas e nativas, com rápido crescimento e com uma distribuição aleatória.
Nesta primeira fase, obtinha-se as fitofisionomias florestais até que de forma rápida, contudo era pouco duradoura, pois as espécies usadas, normalmente de características pioneiras, possuíam rápido ciclo de vida, e não eram substituídas por espécies com ciclos mais longos. Logo a “floresta” não se mantinha ao longo do tempo.
Observando essa dinâmica e os avanços na ecologia das espécies, a Restauração passou adotar a dinâmica de clareiras e sucessão de espécies como um passo importante nos projetos. Adotou-se o plantio de linhas de espécies pioneiras (de crescimento rápido) e linhas de espécies secundárias (crescimento mais lento), nesta abordagem percebeu-se que há a necessidade de manutenção dos plantios, o que elevou os custos, mas garantiu melhores resultados na formação de florestais mais dinâmicas e duradouras. Contudo, havia pouca preocupação com quais espécies eram utilizadas, somente importando com a classificação ecológica destas.
Outros avanços foram realizados na restauração, como o uso de espécies nativas regionais, melhorando assim a sobrevivência das espécies e melhorando a dinâmica e conservação das espécies regionais, o uso de diferentes arranjos espaciais, o incremento de novas formas de vida como cipós (lianas), arbustos, ervas, ampliando o foco da restauração para além das espécies florestais. O uso de técnicas de restauração mais eficientes para a necessidade ou grau de degradação, unindo questões de resiliência e conectividade de fragmentos.
E o próximo grande passo na restauração é a preocupação com a conservação genética das espécies, uma vez que o objetivo da restauração é a manutenção daquela vegetação de forma autônoma por longas datas.
A CONSERVAÇÃO GENÉTICA
Para entendermos melhor como conservar a genética das populações de espécies florestais, primeiro é necessário entender conceitos básicos:
Cada espécie presente hoje possui um conjunto de características adquiridas ao longo de milhares de anos de evolução. Essa grande biblioteca de caraterísticas (Pool gênico) são manifestadas nos mais diferentes indivíduos dessa espécie (fenótipo, no qual é resultado da genética e do ambiente). Esta diferença de características em cada indivíduo pode ser entendida como sendo a figura principal da diversidade dentro das espécies.
Quanto mais diversos forem as características expressas nos indivíduos da espécie, mais vasta será a diversidade genética dessa população (conjunto de seres da mesma espécie), e mais resistentes e resilientes será essa espécie a eventos naturais, como incêndios, secas, alagamentos, doenças e outras.
Logo, quanto mais variado for o pool gênico da espécie, maior será a “apólice de seguro” destas contra eventualidades imprevisíveis ao longo do tempo. Com isso podemos pensar a infinidade de eventos que as espécies presentes hoje passaram ao longo da sua existência, e o quão importante é preservar essa diversidade para que estas espécies possam ter a oportunidade de continuar sua caminhada evolutiva.
Logo, essa temática será o futuro da restauração, conservar a diversidade genética das espécies para que estas possam continuar a longa caminhada da vida, e possam ter ao seu dispor uma grande gama de possibilidades para superar crises futuras, dentre elas as mudanças climáticas.
Práticas para a Conservação Genética
Para mantermos a diversidade dentro das espécies, é necessário que os projetos de restauração utilizem as sementes oriundas de florestas nativas do entorno da área a ser recuperada. Deve-se evitar comprar mudas de áreas muito longes, pois estas não representarão a diversidade presente naquele ambiente.
Cuidados para a coleta das sementes também devem ser tomados. Evitar coletar de árvores muito próximas (menos de 100 metros) pois estas podem ser aparentadas e pouco contribuirão para aumentar a diversidade genética da área a ser recuperada.
Em alguns casos podem até proporcionar efeitos negativos como a endogamia, reduzindo assim a diversidade e danificando a conservação genética. Deve-se coletar sementes de um grande número de matrizes, de forma a representar melhor as diferentes populações dentro da paisagem na qual o projeto está sendo conduzido.
Os estudos de genética de populações, distribuição, ecologia e diversidade das espécies são fundamentais para melhor proteger as espécies ameaçadas e auxiliar na perpetuação das florestas.
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