Dentre os inúmeros desafios inerentes ao inventário florestal, podemos citar o planejamento, a comunicação, a definição das parcelas para coleta dos dados em campo, o processamento dos dados, o tempo de trabalho no campo e no escritório, e não menos importante o custo do inventário e o orçamento a ser elaborado.
Como Engenheiro Florestal, consultor iniciante na área de inventário, quanto devo cobrar pelo serviço? Como elaborar um orçamento?
Para responder às perguntas em questão, “fique ligado” nos 4 passos para elaboração do orçamento para o inventário florestal.
1º Passo: Identificar o tipo de inventário florestal a ser elaborado. Qual a demanda do seu cliente?
Considerado a base para o planejamento do uso dos recursos florestais, o Inventário Florestal nos permite a caracterização de uma determinada área e a avaliação quantitativa e qualitativa das espécies que a compõe. A depender do seu objetivo, estabelecidos de acordo com a utilização da área, podem apresentar diferentes níveis de detalhamento (Soares et al., 2011).
Para florestas com fins de produção de madeira, o Inventário Florestal busca determinar ou estimar variáveis como a área basal, volume, qualidade do fuste, estado fitossanitário, classe de copa e potencial de crescimento florestal.
Segundo Fernanda Carvalho, redatora deste Blog, o tipo de inventário a ser elaborado depende de diferentes fatores. Por isso, cada inventário é único e, a variação entre os tipos de inventário a serem utilizados está relacionada ao trabalho de campo e aos cálculos a serem executados.
Quanto mais robusto o inventário, maior a dificuldade do trabalho com planilhas repletas de informações e cálculos. Para facilitar esse trabalho, contamos com um software para nos auxiliar, o Mata Nativa.
“O Mata Nativa é o software que realiza todos os cálculos de inventário florestal e análise fitossociológica, com aplicação efetiva em todos os biomas brasileiros. O software permite, dentre muitas análises, realizar diagnósticos qualitativos e quantitativos de formações vegetacionais, análises fitossociológicas completas, elaborar inventários e planos de manejo, monitorar a floresta através de inventários contínuos acompanhando o crescimento e desenvolvimento das espécies e analisando as características de valoração e exploração florestal. Com o Mata Nativa é possível trabalhar com diferentes tipos de inventário.
No que diz respeito ao custo, o tipo de inventário apresenta relação direta com o valor a ser cobrado pela elaboração do mesmo. Ou seja, quanto maior a área a ser inventariada, maior será o seu tempo de trabalho no campo e no escritório, maior serão os gastos com mão de obra, materiais, equipamentos e infraestrutura.
Os tipos de inventário mais comuns no Brasil são:
- Amostragem casual simples;
- Amostragem casual estratificada;
- Amostragem sistemática;
- Censo ou Inventário 100%;
- Amostragem em multiestágios;
- Amostragem em conglomerados;
- Monitoramento ou inventário florestal contínuo;
- Método do Ponto-quadrante.
2º Passo: Definir o planejamento e o custo das atividades em campo e escritório
O planejamento é fundamental para a elaboração do orçamento final, bem como para o sucesso do seu inventário, tanto no trabalho de campo quanto no escritório. Retrabalho, retornar ao campo, recusa no documento final – inventário propriamente dito – dentre outros problemas, resultam em redução do lucro e na pior das hipóteses prejuízos.
Conhecendo a necessidade do seu cliente e o tipo de inventário a ser elaborado, você precisa definir quais materiais e equipamentos são necessários ao bom desempenho do seu trabalho, o custo da utilização de cada um desses materiais e o tamanho da equipe necessária à coleta dos dados em campo.
Do escritório ao campo é preciso pensar em tudo. Considere a mão-de-obra necessária em todas as etapas do inventário, e não menos importante o seu trabalho como Engenheiro Florestal.
O transporte é essencial. Quantos quilômetros você vai percorrer? Considere o preço da gasolina. O carro é particular, da sua empresa ou será alugado? Se o carro for alugado, qual o valor do aluguel? Qual o custo do quilômetro rodado? Cada situação poderá influenciar no preço final cobrado.
Não menos importantes são a hospedagem e a alimentação. Será preciso ficar hospedado em hotel, pousada? Qual o valor da diária? A alimentação será por sua conta ou de responsabilidade do seu cliente? Quais valores podem ser incluídos no orçamento para cobrir gastos com café da manhã, almoço, lanches e jantar? Você pode ter uma boa estimativa desses valores em pesquisas na internet ou até mesmo fazendo ligações para hotéis, pousadas e restaurantes localizados na cidade onde será realizado o trabalho.
Ainda, nesta fase de planejamento é fundamental dimensionar a sua equipe, principalmente para coleta de dados em campo. Dimensionar corretamente a equipe nos proporciona um orçamento mais preciso, uma vez que cada membro gera gastos com alimentação e hospedagem e deverá ser remunerado. Ao mesmo tempo, o número de membros da equipe é indicativo de quantos dias serão necessários para a coleta de dados. Para pequenos inventários, por exemplo, recomendam-se no mínimo três pessoas.
Exemplo de planejamento
Se você tem dúvidas sobre rendimento, vamos falar sobre uma experiência prática. Em um inventário para avaliar uma rede de testes clonais, implantados no estado de Alagoas, com mais de 100 materiais genéticos de Eucalyptus spp., uma equipe de três pessoas (mensurador de CAP, mensurador de altura e coletor de dados), sem muita experiência, foi capaz de medir aproximadamente 900 árvores por dia.
Vale destacar que os testes clonais avaliados em Alagoas foram implantados em áreas planas, de fácil acesso e apresentavam sub-bosque limpo, facilitando o caminhamento e coleta dos dados.
Outros trabalhos citam rendimentos para equipes de 4 pessoas de 0,8 a 5 ha/dia; de 5 pessoas de 20 a 25 ha/dia e de 7 pessoas com rendimento de 10 a 15 ha/dia.
No que diz respeito ao rendimento, podemos observar que há grande variação. Alguns fatores são determinantes para o rendimento da coleta de dados em campos, como a experiência da equipe, o acesso à área, a idade do povoamento, a limpeza do sub-bosque, dentre outros.
Para finalizarmos o orçamento precisamos definir e planejar o trabalho no escritório. Quantos dias serão necessários para a realização de todos os cálculos relacionados ao inventário, bem como para finalização do relatório e entrega do produto final ao cliente? A verdade é que não existe um número exato. O trabalho no escritório pode variar de profissional para profissional.
Ao mesmo tempo vai depender da sua dedicação ao projeto em andamento, das horas que você tem disponíveis, do seu conhecimento técnico, da sua prática e experiência com os cálculos e elaboração do relatório final.
3º Passo: Elaboração e apresentação da proposta
Neste momento, o visual do documento final, a organização, o nível de detalhes, os termos, e a escrita correta são fundamentais. São detalhes determinantes para provar ao cliente o seu nível de profissionalismo, conhecimento e comprometimento.
É fundamental pensar em seu orçamento como um cartão de visitas, que deverá refletir o padrão de qualidade do inventário. Propostas contendo erros resultam em uma imagem negativa e na perda de confiabilidade no trabalho a ser realizado.
Quer fidelizar o seu cliente? Obter reconhecimento no setor florestal? Dedique-se à elaboração da proposta inicial. Ofereça atenção ao seu cliente e ao trabalho a ser realizado. Apresente uma descrição objetiva e justifique cada valor apresentado no orçamento. Apresente um cronograma para execução de todas as atividades relacionadas ao inventário e, trabalhe para respeitar o mesmo.
Crie um modelo padrão de orçamento. Assim, se a cada trabalho realizado você apresentar profissionalismo, qualidade, educação, compromisso e ética, sua marca ficará registrada.
4º Passo: Orçamento na prática
Vamos ao que interessa. Após conhecer a necessidade do seu cliente, o tipo de inventário a ser elaborado, o nível de detalhes a ser entregue e ter elaborado todo planejamento e os custos de cada atividade, quanto será cobrado?
Quando falamos em remuneração pelo trabalho realizado, podemos adotar como base o Salário Mínimo Profissional (SMP). O Salário Mínimo Profissional, conforme a Lei n.º 4.950 – A/66 para jornada de seis horas diárias, é calculado sobre o valor de seis salários mínimos.
Outra forma de remuneração é conhecida como Hora Técnica. O valor da Hora Técnica Mínima, para os trabalhos técnicos cujos honorários não possam ser calculados em função da Obra ou Serviço, é fixada em 2,2% (dois vírgula dois por cento) do SMP. Sendo assim, o profissional será remunerado pelo tempo gasto para a elaboração da obra ou serviço.
Vale destacar que todo o contrato para a prestação de qualquer serviço, inclusive projeto, deverá ser registrado pelo profissional sob a forma de Anotação de Responsabilidade Técnica – ART, no Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Estado. Para esse registro, você deverá ser afiliado ao CREA do seu estado.
Na prática, encontramos valores que variam entre R$ 6.000,00 e R$ 9.000,00 para áreas de até 25 hectares. Vale lembrar que estes valores não contemplam os custos com deslocamento, estadia e alimentação. Por isso, em seu orçamento, crie um item para cada um desses componentes do orçamento.
Se você for trabalhar apenas na coleta de dados (CAP, altura, dados fitossanitários), podemos tomar como base o valor cobrado por empresas do setor florestal que trabalham apenas com a coleta destas variáveis. Os valores cobrados podem variar de R$ 0,90 a R$ 1,25 por árvore mensurada.
Trabalhar com inventário florestal não é nenhum “bicho de sete cabeças”. No entanto exige conhecimento técnico e planejamento. Para não cometer erros, converse com o seu cliente e busque todas as informações necessárias e relevantes à elaboração do orçamento e ao trabalho a ser executado. Se for viável, faça uma visita à área a ser inventariada para avaliar condições determinantes para a coleta dos dados, como a idade do plantio, relevo, acesso e limpeza do sub-bosque.
Se for o seu primeiro inventário, não tenha medo. Faça um bom planejamento e execute todo o trabalho da melhor maneira possível. Com o passar do tempo e com a experiência prática adquirida a cada trabalho realizado, você será capaz de elaborar orçamentos precisos e com preço justo e, com resultado final que atenderá a demanda e a necessidade de cada uma dos seus clientes.
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