Em janeiro deste ano saiu aqui no blog o texto intitulado “O que esperar do setor florestal em 2018?” onde abordamos sobre os investimentos, exportações, vagas de empregos, meio ambiente, além da expectativa da retomada econômica. Porém, o que de fato aconteceu neste último ano no setor florestal brasileiro? Vejamos a seguir os principais destaques.
Mercado
Entre as principais commodities do setor temos a celulose, o papel e painéis. A celulose é um dos principais produtos da cadeia produtiva do setor industrial de base florestal nacional, atendendo principalmente ao mercado internacional, visto que o Brasil agora é o segundo maior produtor mundial de celulose, com uma produção de 18,8 milhões/toneladas (2016-2017).
A produção nacional vem crescendo ao longo dos últimos anos devido à instalação de novas fábricas de celulose no país, principalmente no Paraná, Maranhão e Mato Grosso do Sul, além de investimentos realizados em fábricas já existentes. Assim, a indústria ganhou competitividade e ampliou suas exportações nos últimos anos.
O valor das exportações nacionais de celulose em 2016 totalizou US$ 5,6 bilhões (13,6 milhões de toneladas), enquanto a importação atingiu US$ 282 milhões, gerando saldo comercial positivo expressivo de US$ 5,3 bilhões. Já em 2017, as exportações brasileiras do produto totalizaram US$ 6,2 bilhões (13,9 milhões de toneladas) e as importações US$ 189 milhões (268 mil toneladas), resultando em saldo comercial estimado de US$ 6,0 bilhões. Portanto, é nítido o crescimento contínuo deste mercado, que já no primeiro semestre de 2018 apresentou uma produção 9,1% maior que aquela obtida no mesmo período de 2017, e vive momento favorável diante do seu potencial de venda no mercado internacional com custo competitivo de produção e taxa cambial favorável às exportações.
Da mesma forma que o observado para a indústria de celulose, a de papel também apresenta destaque no volume produzido no setor florestal brasileiro e boas perspectivas de crescimento. Entretanto, seus produtos atendem principalmente ao mercado doméstico. O Brasil é atualmente o oitavo maior produtor mundial de papel, com produção de 10,3 milhões de toneladas/ano, e a indústria está concentrada principalmente nos estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Bahia e Espírito Santo.
Entre 2006 e 2016, a produção brasileira de papel aumentou 1,7% ao ano e 18,5% no período. O consumo aparente de papel no país, por sua vez, passou de 7,7 milhões de toneladas em 2006 para 8,9 milhões de toneladas em 2016, o que evidencia crescimento de 1,5% ao ano e de 15,8% no período. Porém, com a crise econômica a partir de 2014, houve retração da demanda no mercado doméstico. Já a desvalorização do Real frente ao Dólar Americano fez as exportações ganharam espaço no segmento e as importações apresentarem volumes inexpressivos, que têm se mantido em baixa nos últimos anos. Para 2017, as exportações nacionais de papel chegaram à ordem de US$ 1,90 bilhão, equivalente a 2,1 milhões de toneladas, enquanto as importações continuaram em queda na ordem de 21% em volume e 23% em valor em relação ao ano anterior, quando fechou em US$ 738,5 milhões, equivalente a 687,8 mil toneladas.
No Brasil, os chamados painéis reconstituídos de madeira são compostos por cinco grupos de produtos: Medium Density Fiberboard (MDF); High Density Fiberboard (HDF); Medium Density Particleboard (MDP); Oriented Strand Board (OSB); e chapa dura, ou Hardboard. Estes produtos estiveram, tradicionalmente, orientados ao mercado doméstico, com exportação insignificante, porém essa tendência mudou nos últimos cinco anos.
A produção nacional de painéis reconstituídos aumentou de 4,4 milhões m³ em 2006 para 7,3 milhões m³ em 2016, sendo a maior parte desta produção de MDF e MDP. Até 2014 praticamente 90% destes produtos eram consumidos internamente devido à crescente demanda brasileira, principalmente na construção civil, que fomentou a indústria moveleira, principal consumidora de painéis. No entanto, em 2015 e 2016 houve queda na demanda doméstica, provocada principalmente pela instabilidade político-econômica no país.
Entretanto, com a desaceleração da economia brasileira a partir de 2014, muitas empresas começaram a redirecionar o produto para o mercado internacional, aproveitando o câmbio favorável e a queda no consumo interno. Desta forma, as exportações nacionais ampliaram significativamente de 503 mil m³ em 2006 para 1,15 milhão m³ em 2016, crescimento de 8,6% ao ano e 129% no período. As exportações em valor cresceram 5,5% ao ano e 71% no período. Em 2017, o Brasil assumiu o oitavo lugar na produção mundial de painéis e as exportações brasileiras dos painéis reconstituídos somaram 1,42 milhão m³, o equivalente a US$ 328 milhões e em 2018, só no primeiro semestre, as exportações continuaram em alta de 2,5% em relação ao mesmo período de 2017.
A biomassa de origem florestal, uma grande aposta de mercado para os próximos anos que tem apresentado investimentos expressivos, contempla, principalmente, lenha industrial, carvão vegetal, resíduos de madeira, cavaco de madeira, aparas etc. Essa matéria-prima é utilizada por diversos segmentos industriais, principalmente para a geração de energia. Tal fato evidencia o potencial de uso da biomassa florestal como fonte sustentável e renovável de energia, tanto que entre 2016-2018, os investimentos industriais para este fim totalizaram cerca de R$ 3,7 bilhões.
No Brasil, a produção de biomassa (lenha industrial e carvão vegetal) tem se mantido estável após a crise econômica mundial de 2009, embora não tenha recuperado o patamar de produção pré- crise (2006-2008). Em 2006, o Brasil produziu 28,6 milhões tep (lenha e carvão) e 24,5 milhões tep em 2015 e, consequentemente, o consumo de biomassa caiu de 22,5 milhões tep em 2006 para 20,4 milhões tep em 2016. Com relação às exportações de biomassa, essa atingiu a casa dos US$ 149 milhões, com crescimento de 3,5% ao ano e de 40,6% no período entre 2006 e 2016, sendo que, em 2017, as exportações nacionais de biomassa florestal totalizaram US$ 152 milhões.
Empregos
A trajetória de crescimento da economia brasileira nas últimas duas décadas foi interrompida entre 2014-2016 e levou o país a uma intensa recessão econômica, atingindo diretamente os níveis de produção industrial e consequentemente os de empregos.
De maneira geral, o nível de emprego direto e formal das atividades relacionadas ao setor de base florestal plantada apresentou queda de -6,5% entre 2006-2016, o que reflete redução de -0,7% ao ano.
Atualmente o setor gera aproximadamente 611 mil empregos, mas existe uma expectativa de reaquecimento da economia nacional no médio-longo prazo com perspectiva de retomada de setores importantes ao setor florestal, porém em 2018 vimos que o tão sonhado aumento no número de empregos ainda não se tornou realidade.
Meio Ambiente
O Brasil é líder mundial em produtividade (volume de madeira por unidade de área) de madeira e vemos uma crescente demanda por mais madeira, fibras e outros novos produtos, muitos ainda em fase de pesquisa e desenvolvimento. O setor vem expandindo nos últimos anos em área com florestas plantadas e, atualmente, detém pouco mais de 7,84 milhões de hectares plantados.
Por outro lado, o setor florestal brasileiro tem como desafio aliar o aumento da produção com a conservação do meio ambiente, buscando equilíbrio entre as demandas e a proteção dos ecossistemas. Assim, temos que em nível nacional, as empresas associadas à IBÁ investiram o montante estimado de R$ 135 milhões/ano em pesquisa e desenvolvimento florestal, além de investimentos em P&D industrial. Estes aportes financeiros em pesquisa e inovação são de fundamental importância para o desenvolvimento e disseminação de melhorias tecnológicas, contribuindo para o aumento de produtividade e a redução de impactos ambientais.
Além disso, as empresas com floresta plantada estão entre as proprietárias de terra que mais conservam florestas nativas no país, através do cumprimento da legislação, protegendo assim a biodiversidade (flora e fauna), solo, manancial e demais recursos hídricos.
Expectativas
O Brasil ainda sente os impactos da retração econômica dos últimos anos em todos os setores da economia. Neste contexto, sem confiança, o empresário tem agido de forma cautelosa, postergando investimentos, bem como o consumidor tem menor poder de compra, resultando em estagnação de diferentes setores da economia. Desta forma, o setor de base florestal como um todo, experimentou um ritmo desacelerado de investimentos nos últimos anos, exceto por aqueles em projetos florestais em andamento.
Ações recentes do Governo Federal buscam estimular o desenvolvimento e a retomada do crescimento nacional, através de reformas políticas e econômicas, buscando a reversão do quadro negativo de alguns indicadores, a exemplo do PIB, investimentos, empregos, entre outros. Tais medidas poderão impulsionar investimentos no setor no médio prazo, alavancando o seu desenvolvimento e trazendo melhores resultados para 2019.
Referência Bibliográfica
Indústria Brasileira de Árvores (IBÁ): Cenários, n.° 51 – Brasília: 2018.
Veja também:
- Qual será o futuro dos Biocombustíveis no Brasil
- O que aconteceu no setor de Celulose e papel em 2018
- Produtos Florestais Não Madereiros
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