Mesmo as maravilhas naturais mais impressionantes podem permanecer escondidas dos humanos por séculos. A Amazônia é a maior prova disso.
A maior árvore da floresta amazônica mede 88 metros e está no extremo norte do Brasil a salvo dos incêndios que consomem a área, de acordo com um levantamento feito por pesquisadores da Universidade Federal dos Vales de Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) e do British Cambridge and Swansea.
Localizada próximo a um “santuário” de árvores gigantes na divisa entre os estados do Pará e Amapá, o exemplar da espécie Dinizia excelsa, conhecida popularmente como Angelim vermelho, tem 5,5 metros de circunferência, o que impressionou os cientistas já que os exemplares desta espécie geralmente atingem 60 metros somente.
A árvore foi identificada com a utilização de sensores aéreos. Depois, pesquisadores de diferentes países, moradores locais, bombeiros e um escalador partiram à procura da árvore, percorrendo 220 quilômetros de barco e 10 quilômetros mata adentro até encontrarem o exemplar.
A descoberta da equipe coordenada pelo professor Eric Bastos Gorgens, da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), virou artigo na publicação acadêmica Frontiers in Ecology and the Environment, uma das mais conceituadas revistas de ecologia do mundo.
Sete áreas de árvores gigantes
Pesquisadores de universidades do Brasil, Finlândia e Reino Unido já tinham analisado dados de 594 coleções de árvores espalhadas por toda a Amazônia brasileira.
Usando uma espécie de “radar laser” que faz sensoriamento remoto, eles identificaram sete regiões com árvores gigantes, todas com altura superior a 80 metros, o que é extraordinário para a Amazônia brasileira, visto que não havia registros de árvores acima de 70 metros.
Para validar as informações obtidas pelo sensor remoto, a expedição Jari-Paru partiu da cidade de Laranjal do Jari/Amapá, entre os dias 14 e 24 de agosto. As 30 pessoas da equipe se dividiram em quatro barcos para subir e descer o rio, enfrentando corredeiras e cachoeiras.
As árvores gigantes são consideradas raras, pois elas são mais propensas à quebra e à queda, seja por vento, ou seja por não aguentar o próprio peso. As rajadas causam um torque na base da árvore, levando o fuste a um alto estresse. Outro fator que limita o crescimento em altura é o suprimento de água para copa. À medida que as árvores se tornam mais altas, o aumento da resistência hidráulica e o peso da coluna de água aumenta o estresse hídrico.
A descoberta da árvore mais alta da Amazônia brasileira é uma prova de como ainda se conhece pouco sobre a floresta e mostra a importância da preservação.
E as queimadas?
A descoberta foi anunciada em meio à repercussão mundial sobre as queimadas na Amazônia. Mas para a tranquilidade de todos, os exemplares gigantes estavam intactos, bem longe dos focos de incêndios que alastraram por outras partes da floresta.
O risco de queimadas é praticamente zero, pois a região é muito remota, distante de qualquer concentração humana, sendo que a mais próxima está a 220 quilômetros.
Além disso, a árvore está numa região cercada por dois grandes afluentes do Amazonas, os rios Parú e Jari. Devido ao difícil acesso, a região não é visada por madeireiros, agropecuaristas, nem garimpeiros.
Os desafios da viagem
O pesquisador e a equipe ficaram um ano estudando e organizando para chegar às árvores gigantes do Vale do Jari.
Logo no início da viagem, após 10 km de viagem, o primeiro obstáculo: uma cachoeira. A equipe precisou descarregar os barcos e arrastá-los para prosseguir viagem. Foi necessário quase dia inteiro para passar, por terra, pelos 300 metros que separam a cachoeira do ponto de retomada da navegação.
Após três dias, a expedição chegou bem perto do local. Mas quando tudo pareceu estar tranquilo, surgiram as corredeiras. Novamente os pesquisadores precisaram desembarcar e arrastar as embarcações. Um dia inteiro para transpor duas corredeiras.
No quinto dia, terminou a viagem de 300 km de barco e começou uma grande caminhada por dentro da floresta em busca das árvores gigantes. Os pesquisadores começam a chegar cada vez mais perto do lugar que só conheciam pelo computador, uma recompensa após uma jornada tão longa.
Provavelmente existem outras árvores gigantes
A tecnologia de escaneamento a laser utilizada nas descobertas das árvores permite que os cientistas mapeiem a estrutura da floresta e o armazenamento de carbono com detalhes e em escalas sem precedentes. Assim eles avaliam melhor sua importância no ciclo global do carbono. Vários projetos estão coletando dados, o que nos permitirá monitorar a mudança da saúde em florestas.
A pesquisa sugere que o nordeste da Amazônia poderia armazenar mais carbono do que se pensava anteriormente. Cada Angelim vermelho pode armazenar até 40 toneladas de carbono, o equivalente de 300 a 500 árvores menores. Embora os pesquisadores tenham visitado apenas 15 árvores, essa foi uma pequena proporção das árvores reveladas pelos do laser. Portanto, é provável que haja mais árvores gigantes por aí. Algumas podem ser ainda mais altas que a recordista de 88 metros de altura.
Existem muitas razões para nos preocuparmos com a Amazônia. O fato de que descobertas como essas ainda são feitas, mesmo enquanto partes da floresta são destruídas pela exploração madeireira, queima e expansão agrícola, demonstra o quanto ainda resta a aprender sobre esse incrível e misterioso ecossistema.
Infelizmente, é provável que muitas espécies desconhecidas na Amazônia sejam extintas antes mesmo de as descobrirmos. Devemos fazer todo o possível para proteger esta majestosa floresta tropical.
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