O Brasil é o local onde se concentra uma das maiores biodiversidades existentes no mundo. Em vista disso, nós Engenheiros Florestais devemos encarar essa diversidade de duas formas distintas, preservando e explorando.
O papel do profissional
A preservação dessa imensa riqueza se dá através da conservação de áreas nativas, Parques Nacionais e outras áreas destinadas à preservação e proteção, em especial as Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN), recuperação de Área de Preservação Permanente (APP) e Reserva Legal (RL). Entender e estudar a composição florística dos fragmentos florestais e sua dinâmica ecológica são essenciais para a preservação dessas áreas, e num futuro próximo, manejar essas áreas com uma abordagem de genética populacional, afim de resguardar e assegurar, com grande convicção, que a diversidade está protegida.
A exploração se baseia na prospecção de usos que essas espécies poderiam apresentar. Dentro desta diversidade há grande possibilidade de encontrar espécies produtoras de metabólitos utilizados como princípio ativos de remédios, utilizações industriais como taninos, látex, fibras alternativas para a produção têxtil, biodiesel e outros produtos, além da possibilidade de encontrar espécies de produção madeireira com elevado potencial, seja pelo valor da madeira explorada, seja pela produtividade de madeira.
Para saber mais: Múltiplos produtos da floresta
O potencial de uma espécie florestal sempre estará vinculado a um mercado ou empreendimento. Para tanto, levantar o potencial de uma espécie florestal é um exercício de planejamento e gestão de negócios nos quais devemos responder perguntas básicas atreladas ao conhecimento e produção florestal.
Para entender o potencial de uma espécie pode se partir de duas origens:
A Demanda de uma matéria prima na qual um setor ou empreendimento se baseia e necessita para realizar a atividade econômica. Alguns exemplos de demandas são, uma serraria na qual necessita de madeira de grandes dimensões, uma carvoaria que necessita de biomassa, uma indústria farmacêutica que necessita de um óleo essencial. A grande vantagem de se partir deste cenário é o conhecimento do comprador, onde seu produto já tem mercado certo.
A Oferta, a existência de um recurso amplamente disponível numa região no qual já pode ou não ser explorado. São populações de espécie abundantes num determinado local que poderia ser explorada, como exemplo as populações de Candeias em Minas Gerais, populações de Seringueiras no Acre, e diversas outras espécies como Açaí, Marolo, Buriti, Baru, Cagaita, dentre outras. A vantagem de se partir deste cenário é certeza de aptidão da espécie no local de produção, além de uma grande diversidade genética que possibilita trabalhos como a seleção de indivíduos mais produtivos.
Logo, independente da abordagem de demanda ou oferta, fica claro que ambos os aspectos devem ser considerados e entendidos em profundidade a ponto de conseguir responder às perguntas iniciais: Qual será o meu produto? Qual será o meu mercado?
Caso Haja Mercado
Caso o mercado já esteja estabelecido, explore quais as características específicas da espécie capazes de concorrer nesse mercado. É necessário portanto, avaliar a espécie como as alternativas já presentes no mercado, perguntas sobre o potencial competitivo da espécie devem ser respondidas como: Qual a produtividade média da espécie? Qual valor agregado pode ser atingido? Qual a qualidade do produto? Quais os pontos fortes da espécie? Outra forma de se ter uma boa análise da espécie, é realizado uma análise de SWOT, a qual visa estabelecer quais são os pontos fortes e oportunidades que a espécie possui e os pontos fracos e ameaças as quais pode estar sujeita.
Nesse ponto de comparação com as espécies já empregadas no mercado existe um ponto crítico, o Eucalipto. Dentre as espécies de produção, a mais proeminente são os eucaliptos. Estes podem ser utilizados em uma gama enorme de utilidades e sua produtividade atual é quase incomparável. Temos que nos lembrar que os trabalhos e o desenvolvimento silvicultural dessa espécie é mais antiga que o próprio curso de Engenharia Florestal no Brasil.
São mais de 100 anos de aperfeiçoamento de técnicas de produção de mudas, plantio, adubação, manejo, melhoramento genético e o controle de pragas e doenças. Portanto a comparação de qualquer espécie nativa com o eucalipto é desvantajosa! Quem diria na década de 60 que o eucalipto com a produtividade média próxima de 5 m³/ha/ano, alcançaria o potencial atual de 40 m³/ha/ano? Logo a comparação deve ser em níveis de igualdade.
Identificado um nicho de mercado, estude sua espécie a fundo! A literatura acadêmica deverá ser sua fonte principal de informação. Caso seja incipiente a pesquisa com a espécie, sendo isso um ponto negativo na sua análise de SWOT, procure professores acadêmicos e gere essa demanda por pesquisas, lembre que as universidades devem ser um ponto de auxílio a população.
Caso Haja Oferta
Caso não haja demanda pelo produto no momento e este é abundante na região, considere a alternativa de se tornar a demanda e criar um mercado ou fornecer a mercados mais distantes.
Neste caso, o empreendedorismo deve vir em primeiro lugar. Estude a espécie com profundidade, sendo necessário saber a produtividade da mesma e a possível área de manejo disponível e responda as perguntas sobre a colheita e processamento da matéria prima como:
- Quais produtos posso explorar? – Conforme conversamos existe uma gama enorme de produtos florestais tanto madeireiros quanto não madeireiros, quais deles possuem um maior apelo comercial, a madeira, o fruto, o óleo?
- Como realizar a exploração? – Neste cenário de exploração de espécies nativas abundantes, inicialmente é necessário fazer um plano de manejo da espécie e submete-lo aos órgãos competentes. Questões como quanto pode ser explorado, e a forma da exploração devem estar descritas neste documento. Caso o produto seja não madeireiro, como frutos, é necessário saber a produção destes, época de floração e época de colheita.
- Posso armazenar a matéria prima? – Existe algum problema em armazenar a matéria prima para suprir sua demanda. No caso de produção madeireira alguns cuidados para manter a qualidade do produto devem ser observados como por exemplo a umidade do pátio, caso seja um fruto ou semente, deve se atentar ao tempo de armazenamento e as condições de preservação dos mesmos.
- Como processar a matéria prima? – Por fim, esta etapa visa entender os processos industriais do processamento da matéria prima. Quais etapas são necessárias e existe a possibilidade de operações mecanizadas. Como armazenar sua produção e quais os possíveis compradores. E por fim, como transportar esse produto aos meus consumidores finais.
De modo geral, estas são as primeiras perguntas quando se tem como objetivo a avaliação do potencial de uma espécie. Analise se a espécie possui pontos de vantagens sobre as demais, oportunidades de ser explorada em certos nichos, se há distinção de qualidade no seu produto, quais são os principais entraves no desenvolvimento comercial das mesmas e como eles podem ser superados. Conforme estas perguntas vão sendo respondidas outras questões vão serão levantadas para que esse potencial possa ser explorado. Este trabalho de planejamento é fundamental para nortear a exploração de espécies florestais e não esqueça de contabilizar os custos e gastos nas operações.
Leia mais:
- Quais são as maiores dificuldades dos consultores florestais e ambientais?
- O que eu gostaria de saber sobre inventário florestal quando comecei: como elaborar um orçamento?
__________ xxx __________