Por: Artur Barbarioli Gonçalves
O Brasil sempre foi um país com grande força no agronegócio, principalmente na área florestal. Nos últimos anos muita coisa mudou em relação à conscientização, adoção de políticas públicas e de novas práticas que favoreçam o manejo mais sustentável das florestas.
No manejo de florestas renováveis, a primeira etapa a ser considerada é a escolha das espécies e materiais genéticos mais indicados para cada região, conforme o objetivo da produção e as especificidades de clima, solo e relevo, pois a obtenção de maior retorno produtivo depende da escolha adequada da espécie. Após a definição das espécies, se iniciam os processos de produção das mudas, preparo do solo, plantio, manutenção da floresta até a colheita, que marca o fim do ciclo de um plantio florestal sustentável, permitindo assim que outro ciclo seja iniciado sobre o mesmo solo.
A partir da década de 90, com a abertura de mercado para importações e a entrada de empresas estrangeiras no Brasil, houve um significativo aumento de investimentos em mecanização dos processos de colheita, o que propiciou forte crescimento neste setor.
As grandes empresas florestais de todo o mundo passaram, então, a utilizar máquinas de grande porte e com alta capacidade nas operações. E por conta dos altos investimentos em mecanização, tornou-se necessário o uso de ferramentas de gestão que auxiliem as empresas a fazerem o melhor uso possível desses recursos.
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No processo de colheita mecanizada, fatores como declividade do terreno são considerados um grande problema para a operação, devido ao risco envolvido na utilização dessas máquinas em terrenos muito sinuosos. Outra questão importante é como extrair a madeira derrubada das encostas dos morros. Colher em áreas assim impõe desafios não só com relação ao maquinário a ser utilizado na operação, como também no planejamento da colheita dessas áreas com estratégias de escoamento da madeira colhida.
Em muitas regiões no Brasil, o plantio das florestas renováveis é feito em áreas predominantemente planas, facilitando todo o processo de plantio, colheita e transporte, diminuindo riscos, custos e aumentando a produtividade da operação. Entretanto, tanto no Brasil como em outros países, é necessário realizar plantios também em áreas acidentadas.
Ciclo de crescimento das espécies florestais
Outro fator relevante e que pode provocar influências no planejamento da colheita é o tempo do ciclo de crescimento da floresta. As grandes empresas de base florestal no Brasil possuem plantações de eucalipto, espécie que, graças às condições do clima, solo e outras, encontra condições favoráveis, tendo o ciclo de crescimento com média de 6 a 7 anos. Outra espécie – o pinus, é mais adaptada a climas mais frios e tem um ciclo um pouco maior. Claro que o ciclo depende de diversos fatores, inclusive de acordo com a finalidade do uso da madeira. Quando a finalidade é o uso da madeira para processo industrial, por exemplo, indústrias de celulose, fabricação de MDF ou até mesmo carbonização para geração de energia, não há necessidade de toras grossas, possibilitando a redução do ciclo. Quando o objetivo da madeira é para serraria, independentemente da espécie, naturalmente há uma necessidade de maior ciclo para que as árvores tenham tempo para crescimento.
Em Portugal, entretanto, mesmo com o plantio de eucalipto, o ciclo médio é de 12 anos, quase o dobro da média do Brasil, o que se deve predominantemente a fatores climáticos. No Chile, que possui inverno rigoroso, há um forte mercado de madeira para serraria com foco no pinus e o ciclo pode chegar a 24 anos. Com todo esse tempo, o que está sendo colhido atualmente foi plantado sob condições de planejamento e tecnologias muito distintas das atuais.
Nesse aspecto, o fator tempo torna-se muito relevante, pois na proximidade da colheita, elementos como planejamento de estradas em função da tecnologia de colheita adotada são significativos. Como planejar e construir estradas também necessita de tempo, as empresas precisam antecipar suas preocupações com a colheita, começando até três anos antes de iniciar a operação. Esse período é necessário para realizar o planejamento mais otimizado da construção da estrada. Fatores como a liberação de licenças, cumprimento de aspectos legais e ambientais e a preparação do local onde a madeira será depositada para posterior transporte requererem também muita atenção.
Quando as áreas são predominantemente planas, a própria beira de estrada torna-se local de depósito da madeira
Porém, em terrenos de alto declive, construir estradas largas suficientes para comportar a madeira torna-se muito caro, sendo necessário planejar campos de depósitos.
Nesta imagem é possível observar um conjunto de estradas e alguns pontos que representam esses campos. Os campos geralmente são planejados considerando: o melhor local, para otimizar o custo de construção (do campo e estrada) e também o alcance das máquinas de colheita. Comumente utiliza-se também torres com cabos para recolher as árvores derrubadas nas áreas declivosas. Nestas áreas com o ciclo de colheita mais longo, é comum aproveitar as áreas construídas de estradas para plantio pós-colheita.
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O planejamento do próximo ciclo é realizado somente após 24 anos, levando em consideração condições e equipamentos de colheita da época.
Diante de todos esses desafios, os gestores de planejamento de colheita lançam mão de ferramentas de gestão de informações confiáveis para resolução de problemas complexos e apoio às suas decisões.
Já nos Estados Unidos, existem outros desafios, pois há uma grande variabilidade de espécies de árvores nas fazendas e, sem divisas físicas, tais como estradas, o planejamento é realizado considerando a ocupação espacial. E neste caso, há necessidade do uso de ferramentas mais especializadas para planejamento das entradas e/ou maior necessidade de esforço humano para realizar o planejamento de colheita e transporte da madeira.
Eficiência e produtividade das máquinas
Após vencer os desafios do planejamento, as empresas passam a concentrar seus esforços para obtenção de eficiência e produtividade na execução da colheita em si.
Hoje, muitas inovações tecnológicas estão sendo incorporadas às máquinas e equipamentos para maximizar a produtividade e minimizar riscos e custos. Com a possibilidade de maior uso de IoT (Internet of Things), as empresas capturam dados gerados pelas máquinas (máquina base e também cabeçotes) para avaliar motivos de paradas, tempo que os equipamentos ficam ligados, tempo que ficam inoperantes, dentre outros aspectos. Essas análises ajudam as empresas a identificar oportunidades para aumento de eficiência. O aumento de eficiência de 30 minutos por dia por máquina, dependendo de número de máquinas e operadores, pode gerar uma redução de custo na casa de milhões de reais.
Existem inúmeros desafios que precisam ser ultrapassados no dia a dia das empresas florestais para alcance da excelência operacional. Especificamente no processo de colheita, é importante que os gestores possam contar com um bom sistema de gestão para suportar todas as etapas da atividade, começando pelo planejamento, com informações confiáveis, estruturadas e rápidas para apoio à melhor tomada de decisão. E durante a execução da colheita, com as informações capturadas das máquinas, é possível realizar o controle de qualidade das operações e a melhoria contínua do processo.
Este texto foi publicado originalmente no portal Brasil Florestal.
Veja também:
- A lei de crimes ambientais
- O licenciamento ambiental e o desenvolvimento urbano
- Obrigações pós licenciamento ambiental
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