As mudanças climáticas são um dos maiores desafios que a humanidade enfrenta atualmente, e as florestas desempenham um papel crucial na mitigação dessas mudanças. As florestas são importantes sumidouros de carbono, ou seja, elas retiram dióxido de carbono (CO₂) da atmosfera e o armazenam em sua biomassa e no solo.
Para lidar com as mudanças climáticas, é essencial promover a proteção e restauração de florestas, bem como implementar práticas de manejo florestal sustentável. Assim, é importante reconhecer o valor das florestas como ativos naturais e incentivá-las por meio de instrumentos como programas de pagamentos por serviços ambientais, certificação florestal e mercados de carbono.
Florestas e mercado de carbono
As florestas têm um papel importante no mercado de carbono, pois podem gerar créditos de carbono por meio de mecanismos de mercado. Dentre tais, estão o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) ou os créditos de carbono para o chamado “mercado voluntário“.
A saber, esses créditos de carbono são oriundos do sequestro de carbono pelas florestas e seu armazenamento na biomassa e no solo da floresta. Assim, empresas ou países que precisam compensar suas emissões de gases de efeito estufa podem comprar os créditos de carbono oriundos de projetos florestais. Esta iniciativa permite-lhes alcançar suas metas de redução de emissões. Além disso, há ainda a possibilidade de venda desses créditos para empresas ou indivíduos que voluntariamente desejam compensar suas emissões de carbono.
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Projetos florestais geradores de créditos de carbono
Existem diferentes tipos de projetos florestais que podem gerar créditos de carbono. A exemplo, tem-se a conservação de florestas naturais em áreas de elevado desmatamento, a restauração de áreas degradadas ou a plantação de novas florestas em áreas antes desmatadas.
Um projeto florestal de geração de créditos de carbono envolve várias fases. Tais etapas variam de acordo com a metodologia e os requisitos específicos do mecanismo de mercado de carbono escolhido. De maneira geral, as etapas de elaboração de um projeto florestal de geração de créditos de carbono são:
- Identificação e avaliação da área de projeto: identificação da área de projeto e a avaliação da sua elegibilidade para gerar créditos de carbono. É necessário considerar a localização geográfica, as características da vegetação e do solo, a presença de comunidades locais e outras informações relevantes.
- Definição do escopo do projeto: definição do tipo de atividade geradora de créditos (conservação, restauração ou plantação), dos períodos de referência e de creditação.
- Estimativa das emissões evitadas: estimativa das emissões evitadas ou compensadas pela conservação, restauração ou plantação de florestas.
- Desenvolvimento de um plano de ação: desenvolvimento de um plano de ação detalhado para o projeto (atividades, cronogramas, recursos necessários, métricas de desempenho).
- Validação e verificação do projeto: o projeto passa por um processo de validação e verificação, realizado por uma entidade independente e credenciada. Esses processos envolvem a análise da conformidade com as metodologias e requisitos do mecanismo de mercado de carbono escolhido. Além disso, é feita a verificação da redução real das emissões de gases de efeito estufa.
- Registro e emissão de créditos de carbono: os créditos de carbono são registrados e emitidos no mecanismo de mercado de carbono escolhido.
É importante notar que, possivelmente, será necessário contar com a ajuda de consultores de diferentes áreas para a elaboração de um projeto bem-sucedido.
Quais projetos são mais rentáveis?
A rentabilidade do projeto depende de muitos fatores específicos, como o tipo de projeto, o local de implantação, a metodologia, dentre outros.
Alguns projetos podem ter um valor adicional, como a conservação da biodiversidade e a proteção de comunidades locais, o que pode aumentar ainda mais a sua rentabilidade e atratividade para os investidores. Em outras palavras, projetos que envolvem conservação de florestas nativas, com elevada biodiversidade e com implicações sociais diretas estão em alta, principalmente no mercado voluntário.
As vantagens dos projetos “REDD+”
Os “REDD+” (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação florestal) são projetos que reduzem emissões de gases do efeito estufa (GEE) decorrentes do desmatamento e degradação florestal. No âmbito do REDD+, a redução se dá por meio da conservação e o manejo sustentável das florestas.
Em síntese, a geração de créditos de carbono em projetos REDD+ pode trazer diversas vantagens, tanto para os países e comunidades locais que implementam os projetos, quanto para os compradores de créditos de carbono. Algumas dessas vantagens são:
- Redução das emissões de gases de efeito estufa: os projetos REDD+ contribuem para a redução das emissões de GEE, por meio da conservação e o manejo sustentável das florestas.
- Conservação da biodiversidade: as florestas são habitats naturais de uma grande variedade de espécies, muitas das quais são endêmicas e ameaçadas de extinção. A conservação das florestas em projetos REDD+ pode contribuir para a proteção da biodiversidade, incluindo espécies raras e em perigo.
- Melhoria da qualidade de vida das comunidades locais: os projetos REDD+ frequentemente ocorrem em comunidades rurais, que dependem diretamente dos recursos naturais fornecidos pelas florestas. Assim, contribuem para o desenvolvimento sócio-econômico dessas comunidades, com geração de empregos e melhoria do acesso a serviços básicos.
- Possibilidade de venda de créditos de carbono com valores acima da média: os projetos REDD+ geram créditos de carbono de alta qualidade, proporcionando uma fonte adicional de receita para os países e comunidades locais.
O cenário brasileiro
O Brasil tem um grande potencial para a geração de créditos de carbono em projetos florestais, devido à sua grande extensão territorial e à abundância de recursos naturais. A Amazônia, por exemplo, é uma das maiores florestas tropicais do mundo e pode gerar uma quantidade significativa de créditos de carbono por meio de projetos de conservação e manejo florestal sustentável, do tipo REDD+.
Além disso, o Brasil ratificou o Acordo de Paris em setembro de 2016, efetivando sua Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) ao Acordo. Em termos de mitigação, o Brasil comprometeu-se a reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 37% até 2025 e indica uma redução de emissões de 43% até 2030. A saber, a referência em ambos os casos é o índice de emissões observado no ano de 2005. Por fim, Projetos REDD+ serão fundamentais para cumprimento desse compromisso.
De acordo com o Info Hub Brasil, plataforma mantida pelo Ministério do Meio Ambiente e da Mudança do Clima em parceria com o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT) para divulgação dos resultados de REDD+ do Brasil, existem atualmente 18 projetos REDD+ em vigor no país.
É importante destacar que, a quantidade de projetos pode variar ao longo do tempo, conforme novos projetos são implementados ou projetos existentes são encerrados. Além disso, os projetos REDD+ em vigor no Brasil podem ser implementados em diferentes biomas e regiões do país.
Outro ponto importante é a realização de projetos dessa natureza em diferentes contextos e regiões do Brasil. Por exemplo, o REDD+ Cerrado foi lançado em 2018 por uma coalizão de organizações ambientais, sociais e empresariais, com apoio financeiro de fundações e empresas. O programa tem como meta reduzir as emissões de GEE em 50 milhões de toneladas de CO₂ equivalente até 2030, além de gerar benefícios sociais e econômicos para as comunidades locais e promover a conservação da biodiversidade do Cerrado.
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