Os CRAS Verdes são títulos de renda fixa lastreados em recebíveis originados de negócios entre produtores rurais, ou suas cooperativas, e terceiros, com o intuito de financiar projetos exclusivamente sustentáveis.
Dentre as vantagens desse tipo de investimento, destaca-se o alcance de investidores de impacto, os ganhos reputacionais, as taxas mais atrativas e a prioridade na opção de investimentos.
Cabe ressaltar que, recomenda-se o CRA Verde somente para transações de longo prazo, uma vez que, o valor total do investimento só retorna no final do período de vencimento, que geralmente dura em média 4 anos.
O que são CRAs verdes?
Devido a iniciativas como o Acordo de Paris, os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável e a consolidação do ESD no mercado, impulsionou-se no mundo a emissão de títulos verdes ou green bonds.
Títulos verdes, ou green bonds, são títulos de dívida emitidos para financiar investimentos exclusivamente sustentáveis.
A exemplo, cita-se projetos florestais, energia verde, eficiência energética, gestão sustentável de resíduos, e demais projetos que causem impacto positivo do ponto de vista ambiental ou climático.
Quando os títulos visam mitigar especificamente os impactos das mudanças climáticas e emissões de gases de efeito estufa (GEE) são frequentemente denominados no mercado mundial como Climate Bonds.
Todo instrumento de dívida é considerado verde sempre que há real adesão à agenda climática. De maneira mais específica para o agronegócio, um instrumento que tem potencial sustentável são os Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA).
Os CRAs são títulos de renda fixa de crédito privado que representam uma promessa de pagamento futuro em dinheiro.
Utilizam-se essas operações para financiamentos ou empréstimos relacionados à produção, comercialização, beneficiamento ou industrialização de produtos. Também, pode-se empreender para insumos agropecuários ou máquinas e implementos utilizados na produção agropecuária.
No entanto, quando os projetos e negócios que lastreiam um CRA são especialmente sustentáveis pode-se dizer que se trata de um título verde (CRA “Verde”).
Como funciona?
Em síntese, emitem-se os títulos de crédito exclusivamente por securitizadoras, lastreado em recebíveis originados de negócios entre produtores rurais, ou suas cooperativas, e terceiros.
As securitizadoras são empresas especializadas em “empacotar” esses créditos como títulos de renda fixa.
A compra de um título de renda fixa consiste no empréstimo de dinheiro ao emissor do título, que pode ser um banco, uma empresa ou até mesmo o governo. Em contrapartida, o comprador recebe uma remuneração após um determinado prazo com juros e/ou correção monetária, podendo ainda receber parcelas chamadas de amortização.
Em síntese, nesta operação, o agropecuarista cede seus recebíveis do agronegócio para uma securitizadora que emitirá os CRAs e os disponibilizará para negociação no mercado de capitais.
Por sua vez, utilizam-se os recursos levantados pela securitizadora no mercado de capitais para pagar o agropecuarista pelos recebíveis cedidos.
Ao fim do processo, por meio da emissão de CRA, o agropecuarista consegue obter uma antecipação de seus recebíveis em troca de pagamento de uma taxa fixa aos investidores.
É importante ressaltar que, o lastro do CRA deve possuir no mínimo o tamanho e o prazo de emissão ao qual está atrelado, para que, já na estruturação, os investidores não fiquem descobertos.
Em suma, para o produtor, os CRAs Verdes constituem uma alternativa mais barata do que o crédito rural. Enquanto que, para os investidores são isentos de Imposto de Renda para pessoa física.
Rentabilidade
Assim como todo título de renda fixa, o CRA Verde tem remuneração relativamente previsível. Isso significa que, quando se compra um título, consegue-se estimar o quanto receberá ao longo da sua duração.
Dentre os CRAs Verdes pode-se encontrar três tipos de remuneração:
- Prefixados: neste caso, o investidor sabe exatamente o valor que receberá se mantiver o título até o vencimento. Sua rentabilidade não se atrela a nenhum indexador. Esse tipo de remuneração é preferível após o ciclo de alta de juros.
- Pós-fixados: um ativo pós-fixado permite uma previsão do investidor de quanto receberá no vencimento. Contudo, a rentabilidade está sujeita a oscilações do mercado (pode sofrer alterações positivas ou negativas). Tal fato acontece porque esse tipo de remuneração está atrelado aos índices econômicos. A exemplo de índices tem-se o CDI (Certificado de Depósito Interbancário) e o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor).
- Híbrido: a rentabilidade híbrida é composta por uma parte prefixada e uma pós-fixada. Esta última costuma ser um índice de inflação, como o IPCA e o IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado).
Investimento Mínimo
O investimento inicial em CRA costuma ser a partir de R$ 1 mil reais. A sua aquisição, portanto, pode ser feita por meio de Ofertas Públicas.
Em suma, a Oferta Pública ocorre quando o título é emitido pela securitizadora.
Assim, a instituição pública o prospecto da oferta com todas as informações, como prazo de vencimento, emissor e forma de pagamento dos rendimentos.
Outra forma de adquirir um CRA é através do mercado secundário. Neste caso, adquire-se o título de um outro investidor.
Prazos e Riscos
Como esses títulos verdes estão vinculados ao mercado de agronegócios, os prazos (que representam o tempo em que o título deve permanecer na carteira), costumam ser mais longos e com maiores ganhos.
Assim como outros investimentos de renda fixa, o CRA verde possui a mesma lógica: quanto mais longo para o vencimento do título, maior será a sua rentabilidade, devido ao risco relativamente mais alto.
Em síntese, o pagamento de juros é feito de maneira periódica (semestralmente, por exemplo) ou com amortizações que devolvem parte do dinheiro que foi investido inicialmente. No entanto, o valor total do investimento só retorna no final do período, que geralmente dura em torno de 4 anos.
Contudo, cabe destacar que, o período pode variar de 2 a mais de 15 anos. Em outras palavras, para receber a remuneração acordada na época da emissão, o investidor deve manter a aplicação durante esse período inteiro.
Dessa forma, por ter um risco de crédito e liquidez maior, os CRAs apresentam mais riscos que aplicações conservadoras de renda fixa, como o CDB (Certificado de Depósito Bancário), LCI (Letras de Crédito Imobiliário) e LCA (Letras de Crédito do Agronegócio).
Além disso, os CRAs não contam com a proteção do Fundo Garantidor de Créditos (FGC). Isso significa que, no caso de quebra da empresa devedora, não há cobertura dos valores investidos.
No entanto, o risco final não é a quebra da securitizadora que emite o papel, mas sim que os devedores não paguem (ou seja, a empresa que precisava dos recursos quando emitiu).
Vantagens dos CRAs Verdes
Dentre as vantagens dos CRAs Verdes, destacam-se:
- Alcance de investidores de impacto: a crescente demanda de investimento em projetos sustentáveis pode ser um dos fatores determinantes para empresas do agronegócio optarem pela chancela “verde” de suas emissões, já que existem fundos, family offices e grupos econômicos que devem destinar parcela de seus recursos para esse tipo de investimento.
- Ganhos reputacionais: a caracterização de um CRA como “verde” depende de um processo de transparência e organização informacional por parte da empresa do agronegócio. Além disso, para atestar que os recursos do título estão sendo aplicados corretamente em uma destinação benéfica ao meio ambiente, a empresa deverá elaborar relatórios de alocação dos recursos.
- Taxas mais atrativas: ainda que não haja uma comprovação sobre a correlação exata entre a qualificação de um título “verde” e a taxa desse título no Brasil, há alguns fatores práticos que permitem sustentar que a qualificação “verde” auxilia na redução de precificação do título para emissores:
- Baixo nível de emissões “verdes” no setor agropecuário e o acesso a investidores de impacto no mercado local e internacional podem tornar a pressão da demanda um fator decisivo para determinação e redução da taxa;
- Como já mencionado, os compromissos de transparência e governança corporativa vinculados ao processo de qualificação do título “verde”, permite demonstrar ao investidor a observância da legislação socioambiental e pode resultar em diminuição de risco de crédito;
- Prioridade na opção de investimentos: para investidores pessoas físicas e jurídicas sensíveis às mudanças climáticas e às metas estabelecidas no Acordo de Paris, a opção de um CRA “verde” pode ser prioritária a outros investimentos.
Links Relacionados
- Certificado de Recebíveis do Agronegócio
- CRI e CRA: como funcionam esses investimentos?
- Desmistificando Green Bonds
- O que é CRA e como investir
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