A preocupação com a preservação ambiental é fenômeno recente. Antes da década de 1970, tanto setor empresarial quanto população, pouco se preocupavam com as questões ambientais, por acreditarem que, o desenvolvimento econômico legitimava a poluição. Este cenário, levou ao que ficou conhecida como a Crise Ambiental, instalada a partir da interação entre três principais componentes (população, recursos naturais e poluição) que, em equilíbrio podem garantir a qualidade de vida em todo o mundo.
Contextualização histórica
A partir da Revolução Industrial, com o advento das máquinas a vapor e posteriormente os motores a combustão, foi observado um importante crescimento populacional, acompanhado da oferta de produtos e serviços em larga escala. A tecnologia avançou, os meios de transporte e comunicação evoluíram, possibilitando que produtos e serviços, fossem ofertados em todas as regiões do mundo. Uma vez que o crescimento econômico proporcionava acesso aos bens de consumo e serviços, qualidade de vida e progresso para a população mundial foram alcançados.
Em contrapartida, com o passar do tempo, as mudanças também proporcionaram grandes desafios, como a poluição, produção de lixo, degradação ambiental, recuperação e preservação ambiental, aquecimento global, fome, miséria e desigualdade social, entre outras questões, hoje vistas como significativos desafios globais para o século XXI.
Preocupação internacional
A questão ambiental ganhou destaque, principalmente a partir de 1972, com a realização da conferência da Organização das Nações Unidades (ONU) em Estocolmo, Suécia. Neste momento, entidades governamentais e não governamentais passaram a debater, a nível mundial, sobre as questões ambientais, principalmente no que diz respeito às mudanças climáticas e os efeitos sobre a humanidade.
Em 1983 foi criada a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CMMAD). A CMMAD buscou, principalmente, propor soluções viáveis que conciliassem interesses econômicos e ambientais. Sendo assim, foi lançado o relatório Nosso Futuro Comum (Relatório Brundtland). Para conciliar o crescimento econômico com a preservação ambiental, este relatório propôs o conceito do Desenvolvimento Sustentável. Segundo o relatório, “desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades das gerações presentes sem comprometer a possibilidade das gerações futuras de atenderem às suas próprias necessidades”.
Acordos internacionais
Em 1992 ocorreu a Conferência das Nações Unidas para Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), no Rio de Janeiro, também conhecida como RIO 92. Neste evento foi produzido o documento conhecido como Agenda 21, que sistematizou as obrigações ambientais, com padrões para atuação dos governos e sociedade civil (CURI, 2011). Cinco anos mais tarde, foi realizada a Conferência das Partes (COP 03), em Kyoto, no Japão, encontro que deu origem ao documento mais importante sobre meio ambiente até então: o Protocolo de Kyoto.
Em 2009, a COP 15 realizada em Copenhague, consolidou o cenário de mudanças em favor do meio ambiente. Durante o evento, diferentes países apresentaram propostas para reduzir as emissões de gases responsáveis pelo efeito estufa. Para evoluir nas discussões sobre o tema, foram realizadas a RIO+20, em 2012, na cidade do Rio de Janeiro e, a COP 21, em Paris, no ano de 2015.
Entendendo que, não somente a questão ambiental deveria ser debatida, foi estabelecida pela ONU uma agenda para solucionar importantes problemas sociais, enfrentados por diferentes países ao redor do mundo. Conhecida como os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), a agenda criou o slogan “Oito jeitos de mudar o mundo”, referindo – se a oito objetivos cruciais, descritos a seguir: Acabar com a fome e a miséria; Educação básica de qualidade para todos; Igualdade entre sexos e valorização da mulher; Reduzir a mortalidade infantil; Melhorar a saúde das gestantes; Combater a AIDS, a malária e outras doenças; Qualidade de vida e respeito ao meio ambiente; Todo mundo trabalhando pelo desenvolvimento.
Compreendendo que parte das metas foram alcançadas e outras não, os objetivos foram reestruturados e, abraçando o conceito de desenvolvimento sustentável, foram lançados os 17 Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável (ODS), com metas para serem cumpridas até 2030.
Os desafios globais aplicados
Resultados da nossa ação sobre a natureza e da maneira como nos organizamos em sociedade, os desafios globais, presentes em cada um dos 17 objetivos para o Desenvolvimento Sustentável, são responsabilidade de todas as nações e seus diferentes setores, passando pelas esferas governamentais, empresas, organizações da sociedade civil, bem como cada um de nós, ao exercemos nosso papel de cidadão.
Sendo assim, os desafios em questão, estão diretamente relacionados aos três pilares da sustentabilidade, proposto por John Elkington em 1997. Assim como o conceito de desenvolvimento sustentável, o conceito de sustentabilidade é amparado pelos pilares ambiental, econômico e social. O Objetivo é promover uma harmonia entre os três componentes para garantir a integridade do planeta, da natureza, da geração atual e futuras.
No que diz respeito ao pilar ambiental, o ODS 15 visa Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, e deter a perda de biodiversidade. Em meio ao debate sobre as mudanças climáticas, aquecimento global, desmatamento, queimadas e recuperação de ecossistemas degradadas, não podemos deixar de abordar neste artigo, a importância dos ecossistemas florestais no combate aos desafios inerentes ao clima e sua alteração. Segundo o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), “as atividades de reflorestamento promovem a remoção ou “sequestro” de CO₂ da atmosfera, diminuindo a concentração deste gás de efeito estufa e, consequentemente, desempenhando um importante papel no combate à intensificação do efeito estufa. A remoção do gás carbônico da atmosfera é realizada graças à fotossíntese, permitindo a fixação do carbono na biomassa da vegetação e nos solos. Conforme a vegetação vai crescendo, o carbono vai sendo incorporado nos troncos, galhos, folhas e raízes”.
Reconhecendo a importância das atividades de reflorestamentos como medidas mitigadoras no combate às mudanças climáticas, a Assembleia Geral das Nações Unidas declarou o período 2021-2030 como a Década da ONU sobre Restauração de Ecossistemas. O objetivo da ONU é fortalecer a restauração de ecossistemas degradados e alterados e, consequentemente, combater a crise climática, melhorar a segurança alimentar, o fornecimento de água e a biodiversidade.
Muitas nações apresentaram metas ambiciosas de reflorestamento, incluindo o Brasil, com a meta de recompor e reflorestar 12 milhões de hectares de florestas e restaurar 15 milhões de hectares de pastagens degradadas com ampliação de cinco milhões de hectares de sistemas de integração de lavoura, pecuária e floresta.
Concluindo
Segundo Bráulio Dias, professor da UnB e ex-secretário executivo da Convenção sobre Diversidade Biológica da ONU, “Além de reverter a degradação ambiental, devolvendo a funcionalidade dos ecossistemas, a recuperação da vegetação nativa também enseja oportunidades econômicas, de inclusão e redução das desigualdades sociais. Estima-se a criação de 200 empregos diretos (por meio de coleta de sementes, produção de mudas, plantio e manutenção) a cada 1.000 hectares em restauração com intervenção humana. Dependendo do balanço entre recuperação com alta intervenção humana e condução da regeneração natural, projeta-se que entre 112 mil e 191 mil empregos sejam gerados anualmente até 2030 para o alcance da meta brasileira de recuperação de 12 milhões de hectares de vegetação nativa”
Os desafios globais para o século XXI remetem aos aspectos econômico, social e ambiental. Estes, são indissociáveis e, enfrentar as questões inerentes a cada um deles, envolve a necessidade de cooperação e conciliação entre os diferentes setores da sociedade. Trabalhar a sinergia entre os setores e promover o equilíbrio entre os três pilares, será fundamental para alcançarmos um planeja sustentável para nós e para gerações futuras.
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