Em meio a crises políticas, econômicas e ambientais, a atual crise energética brasileira tem gerado uma atmosfera de insegurança e insatisfação popular, manifestando-se como uma ameaça constante a economia brasileira, que ainda tenta se recuperar gradualmente da recente recessão associada a pandemia global de COVID-19.
Muitos fatores contribuíram para a crise energética no Brasil e espera-se que novas e mais graves consequências possam surgir até o próximo ano, incluindo a necessidade de implementar medidas extremas de racionamento e cortes de energia forçados em grande parte do território nacional.
Para quem deseja saber um pouco sobre esse assunto, o Blog Mata Nativa criou este blog post abordando questões fundamentais acerca da produção de energia no Brasil e principais causas, consequências e perspectivas para a atual crise energética brasileira.
Crises Energéticas Brasileiras
O Brasil já foi palco de uma série de crises energéticas ao longo de sua história, normalmente atribuídas a um conjunto de fatores de ordem política, econômica e ambiental.
Podemos citar a mais recente delas, no ano de 2001, como a mais grave crise de energia já ocorrida em território brasileiro e que apresentou sérias consequências para a população, incluindo a implementação de medidas extremas para o controle do consumo de energia elétrica, como cortes de energia forçados, popularmente conhecidos como apagões.
Nomeada pela mídia como Crise do Apagão, a crise de 2001 foi causada por motivos semelhantes aos da atual crise e embora tenha perdurado por apenas um ano, gerou sérias consequências econômicas e sociais para o Brasil.
Para que você entenda com maior clareza as razões por trás das recentes crises energéticas brasileiras, abaixo iremos expor brevemente a matriz brasileira de produção de energia elétrica e as suas principais relações com fatores de ordem política, econômica e ambiental.
Matriz Elétrica Brasileira: Causas da Crise Energética
De acordo com o Anuário Estatístico de Energia Elétrica – 2021, disponibilizado pela Empresa de Pesquisa Energética, o Brasil apresenta a seguinte distribuição para as suas fontes de geração de energia elétrica:
- Hidráulica: 64%
- Gás Natural: 9%
- Eólica: 9%
- Biomassa: 9%
- Carvão: 2%
- Nuclear: 2%
- Solar: 2%
- Outras: 2%
- Derivados do Petróleo: 1%
Embora a nossa matriz elétrica seja bastante diversificada, o Brasil ainda possui uma alta dependência da energia oriunda de pequenas e grandes centrais hidrelétricas, que constituem mais de 60% de toda a produção nacional.
Mesmo que a energia proveniente de centrais hidrelétricas seja considerada uma energia renovável, ela estará sempre vinculada a sérios impactos ambientais decorrentes da sua instalação e produção, sendo responsável por alterar permanentemente ecossistemas e bacias hidrográficas, além de estar associada também a uma série de impactos de ordem social.
A energia hidrelétrica ainda possui vários outros pontos negativos associados à sua produção e o principal deles está relacionado a sua alta dependência da implementação de boas políticas públicas para a gestão adequada de recursos hídricos.
Além disso, usinas hidrelétricas também possuem dependência direta de fatores climáticos, como índices pluviométricos e distribuição regular de chuvas ao longo dos anos, sendo que a sua produção é extremamente sensível a longos períodos de estiagem.
Em um cenário mundial de mudanças climáticas e escassez de água, a segurança de produção e garantia do abastecimento de energia se encontram ameaçadas e estas têm sido as principais razões para as recentes crises energéticas no Brasil e no mundo.
Embora o Brasil possua outras fontes de produção de energia elétrica, ainda estamos muito distantes de possuir autonomia na produção de energia proveniente de fontes renováveis, limpas e seguras, como a energia eólica e solar, que representam respectivamente apenas 9% e 2% da matriz elétrica nacional.
Relações Entre as Crises Energéticas Brasileiras de 2001 e de 2021
A crise energética de 2001 teve como principal motivo a escassez de água vinculada aos baixos índices pluviométricos apresentados durante o período de seca prolongada de 2000 a 2002.
A crise atual está também relacionada a fatores climáticos, como a escassez de chuvas e consequente déficits de abastecimento de água para os reservatórios de pequenas e grandes centrais hidrelétricas brasileiras.
Embora a crise atual possua causas muito semelhantes à crise de 2001, os impactos e consequências desta têm sido agravados em razão da economia brasileira estar em processo de recessão decorrente da recente pandemia global de COVID-19.
Em 2001, quase 90% da energia brasileira era proveniente de usinas hidrelétricas e em sucessão a crise energética, novas políticas públicas foram implementadas para tentar diversificar ao máximo a matriz elétrica nacional.
De uma maneira geral, para conter a dependência de centrais hidrelétricas, o Brasil investiu em larga escala em usinas termoelétricas nos últimos vinte anos, resultando estas em 21% de toda a produção nacional para o ano de 2020.
Esta fonte de energia tem sido uma alternativa viável para garantir o suprimento de eletricidade durante a recente crise, todavia, ela também é altamente dependente de recursos hídricos e apresenta um custo muito elevado de produção, o que tem sido o principal responsável pelo aumento exorbitante no valor de contas de luz para grande parte dos brasileiros.
Além disso, ainda que no momento sejam uma excelente solução para o Brasil, usinas termoelétricas não são fontes de energia limpas e estão vinculadas a liberação de altos índices de dióxido de carbono para atmosfera, contribuindo enormemente para o efeito estufa e para as mudanças climáticas em escala global.
Perspectivas Para a Crise Energética de 2021
Nos últimos anos, o Brasil vive uma crise ambiental de grandes proporções, batendo novos recordes de desmatamento em biomas fundamentais para a conservação de recursos hídricos, como a Floresta Amazônica, Pantanal e Cerrado, acompanhados de incêndios florestais de grandes proporções, aumento considerável de áreas de desertificação, assoreamento de rios e comprometimento irreversível de nascentes e bacias hidrográficas de interesse nacional.
Em aditivo, a escassez de políticas públicas para contenção e fiscalização do desmatamento é responsável por agravar ainda mais a questão ambiental no Brasil, ameaçando a disponibilidade de recursos naturais a longo prazo e o equilíbrio natural de ecossistemas.
Esses fatores em conjunto, acabam por contribuir significativamente para fragilizar o abastecimento hídrico de pequenas e grandes centrais hidrelétricas e acabam por gerar ainda maior insegurança para a produção de energia elétrica nos próximos anos.
Caso o Brasil continue apresentando alto déficit de abastecimento hídrico ainda no ano de 2022, medidas extremas para o racionamento de energia possivelmente serão implementadas, o que em última análise irá levar inevitavelmente a um agravamento substancial da crise econômica brasileira.
Além disso, para o consumidor, espera-se que novas tarifas de energia elétrica sejam implantadas em 2022, elevando ainda mais o valor da conta de luz. Em um cenário de inflação desenfreada, desemprego, recessão econômica e insegurança política, estas medidas podem tomar proporções catastróficas para o poder aquisitivo do brasileiro.
Se você tem interesse em aprofundar o seu conhecimento, não deixe de acessar o Blog Mata Nativa para ficar por dentro de todas as novidades do mercado ambiental.
Com toda certeza, você irá encontrar uma série de conteúdos valiosos que podem ajudá-lo a entender com maior clareza outros aspectos da crise energética brasileira. Em especial, recomendamos que acesse os seguintes blog posts:
- Mudança Climática e Alteração da Matriz Energética Mundial
- Mudanças Climáticas e Suas Consequências
- Os Impactos da Utilização da Biomassa Florestal Para a Geração de Energia
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