A identificação das espécies arbóreas a partir de estruturas vegetativas geralmente se baseia na observação das folhas e das diferentes características da casca interna e externa. Estes órgãos são alvos da maior parte do esforço de identificação, pois apresentam boa parte dos caracteres de diferenciação das espécies. Entretanto, aspectos mais abrangentes também podem ser verificados para tornar a identificação mais precisa, como o caule das plantas florestais que apresenta características que podem ser muito relevantes para a identificação de espécies pelas características de tronco.
Espécies arbóreas e arbustivas podem apresentar três tipos de caule. Os bambus (Bambusoideae Luerss. – Poaceae) podem assumir aspecto arbustivo até arbóreo e apresentam caule subterrâneo rizomático, enquanto os caules aéreos são do tipo colmo. As palmeiras (Arecaceae) possuem caule do tipo estipe. Já as árvores, sejam Gimnospermas (Coníferas) ou Angiospermas, apresentam caule do tipo tronco.
Portanto, trataremos aqui de características gerais relacionadas aos tipos básicos de espécies arbóreo-arbustivas. Aspectos como o formato vertical e o formato da secção transversal, além da aparência de sua intersecção com o solo, que são primordiais na Dendrologia. Saliento que todas estas características podem ser muito variáveis, conforme o tipo de ambiente em que a planta se desenvolve, principalmente quando comparamos o crescimento em condições naturais e de plantio.
Aspectos a serem considerados
Sobre os aspectos que podem ser considerados para a identificação de espécies, podemos destacar os seguintes:
1.Formato Vertical
Se refere à forma longitudinal que o tronco adquire durante o seu crescimento. Os principais formatos são:
Reto: É o padrão mais recorrente entre as espécies florestais, independentemente do tipo de caule. Trata-se do crescimento unidirecional e, quase sempre, perpendicular ao solo. Plantas com crescimento monopodial (o caule se origina a partir de uma única gema apical) apresentam este formato, a menos que sejam submetidas a algum fenômeno estressante. Plantas simpodiais (o eixo caulinar é originado por duas ou mais gemas dominantes, muitas vezes se configuram como galhos), no geral, também apresentam esta configuração de tronco, sobretudo quando se desenvolvem em condições de competição, como em florestas naturais ou em plantios homogêneos.
Tortuoso: Ocorre principalmente quando a planta se desenvolve em ambientes abertos e sem competição, ou quando submetida a alguma condição estressante que direcionou o seu crescimento desta forma. No Brasil, este formato de tronco é muito comum em espécies do bioma Cerrado, principalmente nas fitofisionomias campestres, onde as condições de grande exposição à luz e baixa umidade criam um ambiente de crescimento lento. Uma espécie muito comum nestes ambientes, e que apresenta troncos tortuosos é a lixeira (Curatella americana L. – Dilleniaceae).
Torcido: Refere-se a um tipo especial de formato, que pode estar associado tanto a caules retos, como tortuosos. Ocorre apenas em caules do tipo tronco, pois é ocasionado pelo padrão de crescimento dos tecidos epidérmicos e condutores, que tendem a apresentar um comportamento espiral. É bastante incomum, sendo observado em espécies como Allophylus edulis (A.St.-Hil. et al.) Hieron. ex Niederl. (Sapindaceae)
Inclinado: Trata-se de troncos, retos ou tortuosos, que se desenvolvem em um ângulo oblíquo em relação ao solo. No geral, as espécies não apresentam este padrão de desenvolvimento, o qual é atribuído através de perturbações como fortes ventos e intervenção mecânica no indivíduo ainda jovem.
2.Formato da Secção Transversal
O crescimento do caule em espessura depende de diferentes fatores, como atividade cambial de cada espécie, disponibilidade de espaço, competição, além de condições adversas como traumas mecânicos e incêndios. Agora, imagine retirar uma fatia no sentido transversal do caule. Qual seria o formato dessa fatia? É sobre alguns padrões desse formato que iremos tratar a seguir:
Circular: Ocorre na maioria das espécies e é derivado de um crescimento em condições homogêneas, estáveis e sem presença de perturbações como fogo e injúrias mecânicas.
Elíptico: Se assemelha ao circular, porém o formato aparenta um aspecto comprimido, equiparando-se a uma elipse. Pode ocorrer naturalmente, ou por pressões causadas por espaços heterogêneos para o crescimento, como em plantios onde o espaçamento entre plantas é diferente daquele entre linhas.
Acanalado: Ocorre quando o tecido lenhoso forma sulcos longitudinais, que, quando observados no plano transversal atribuem um formato com lóbulos e reentrâncias. Geralmente, não é observado um padrão na formação dos lóbulos, os quais podem apresentar tamanho, formato e espessura bastante variáveis. Não é um padrão muito comum, fato que ressalta sua importância como uma característica de distinção. Ocorre em Diatenopteryx sorbifolia Radlk. (Sapindaceae) e espécies de Apocynaceae.
Fenestrado: Trata-se de um tronco em que o desenvolvimento do tecido lenhoso gera fendas profundas e descontínuas, que podem ser de tamanho e forma variados. Visualmente, pode se assemelhar ao acanalado, mas, aqui, quando se observa o plano transversal, há a presença de ‘falhas’ originadas pela descontinuidade da madeira. Trata-se de um padrão bastante raro, ocorrendo em espécies como Minquartia guianensis Aubl. (Coulaceae).
Irregular: O formato da secção transversal não apresenta um padrão e proeminências dos tecidos lenhosos pode surgir em qualquer direção. Podem ocorrer naturalmente ou em decorrência de eventos desfavoráveis, como danos mecânicos e fogo.
3.Base do Tronco
É a forma como o caule se insere no solo e pode apresentar diferentes projeções de sustentação. Além disso, o porte e o ambiente onde a planta cresce costumam interferir nesta característica. Os principais padrões são:
Reta ou Normal: Quando o tronco não apresenta nenhum tipo de reforço de sustentação, engrossamentos ou raízes superficiais. A intersecção com o solo é perpendicular.
Digitada: Ocorrem pequenas projeções próximas ao contato caule-solo, as quais se assemelham a dedos. Possuem função de sustentação, geralmente estão relacionadas com troncos acanalados.
Reforçada ou Dilatada: Apresenta uma projeção ou engrossamento na base, a qual possui função de sustentação. Muito comum entre espécies que apresentam troncos cilíndricos. Ocorre em espécies como as do gênero Ceiba Mill. (Malvaceae).
Sapopemas: A base do tronco apresenta raízes tabulares muito proeminentes e rígidas. A disposição destas raízes é radial. O tamanho, a largura e o ângulo são bastante variáveis, dependendo da espécie e tamanho do indivíduo, já que sua função é sustentar a planta. É um padrão muito comum, principalmente em espécies das florestas ombrófilas da Amazônia e Mata Atlântica, por exemplo.
Como foi possível observar, ao analisar tais aspectos acima citados podemos fazer a identificação de espécies pelas características de tronco. Esta não é uma identificação tão usual, quanto aquela feita com as folhas, flores e frutos, mas pode servir para diferenciar espécies quando não há a possibilidade de identificação através destes outros elementos da árvore.
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