Não é nenhuma novidade falar que, as plantações florestais de eucalipto do Brasil são as mais produtivas do mundo. De 1970 a 2015, a produtividade florestal brasileira aumentou mais de 4 vezes, resultado é claro, dos programas de pesquisas em melhoramento genético, práticas silviculturais e manejo adequados, além da inserção de novas tecnologias na área.
Em 2016, o país liderou o ranking global de produtividade florestal, com mais de 35 m³/ha ao ano para as florestas de eucalipto. Os fatores determinantes para a produtividade das florestas de eucalipto incluem capacidade produtiva do local, a uniformidade ambiental e a genética dos clones, isso porque afetam diretamente o potencial de crescimento e a competitividade das árvores.
Em outras palavras, a produtividade florestal é resultante de uma interação de fatores edáficos, climáticos, fisiográficos e bióticos, influenciados tanto pelo manejo florestal quanto pelas práticas silviculturais. Embora, esse conceito ainda seja muito confundido com o de produção.
A produtividade por ha das plantações de eucalipto em todo o Brasil aumentou em quatro vezes entre 1970 e 2015, como resultado da intensificação do manejo e desenvolvimento de genótipos de rápido crescimento. Fonte: Dan Binkley, et al. (2017)
A produção não é produtividade. A produção está ligada a quantidade e a produtividade com a eficiência e qualidade, que são conceitos totalmente distintos.
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Não adianta ter uma produção de 50 m³/ha.ano, se o volume de madeira produzida não satisfaz o mercado, que está cada dia mais exigente. É claro, que existe um custo para manter a produtividade das florestas, principalmente quando a variação do Índice Nacional de Custos da Atividade Florestal (INCAF) desse ano já está 2,3% acima da inflação medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preço ao Consumidor) no mesmo período, que ficou em 1,9%. O INCAF monitora a evolução dos custos da atividade florestal no Brasil e é divulgado trimestralmente, pela Pöyry, multinacional finlandesa de consultoria.
A realidade é que, nos últimos anos, a produção de madeira tem ficado mais cara no Brasil e tornado a manutenção e competitividade do setor florestal um grande desafio.
Então porque seria importante correlacionar o conceito de produtividade e qualidade no setor florestal diante desse cenário?
A qualidade da madeira está relacionada com as propriedades de interesse conforme o seu uso e/ou produto final. O que requer muitas vezes procedimentos de pré-tratamento, como a torrefação ou controle de umidade. A qualidade, nada mais é do que a adequação da matéria-prima para o seu uso final.
Atualmente, os principais setores que utilizam a madeira como matéria-prima são os setores de celulose e papel, carvão vegetal para siderurgia, painéis, piso laminados e os de produtos sólidos (madeira serrada, painéis compensados, etc).
Dentro desse contexto, podemos citar algumas das propriedades da madeira, que vem sendo estudadas, que são: densidade, umidade, diâmetro, composição química elementar (porcentagem de carbono, hidrogênio, oxigênio e enxofre), composição química estrutural (teor de celulose, hemicelulose, lignina e extrativos), composição química imediata (teor de carbono fixo, materiais voláteis e cinza), anatomia (fibras, vasos, parede), análises energéticas (poder calorífico superior, inferior e útil), análises térmicas (TG, DTG, DSC) e propriedades mecânicas.
Embora, pareçam ser numerosas, entender o efeito dessas variáveis no produto final faz toda a diferença na cadeia de produção e custo de qualquer produto. Por isso, existem muitos trabalhos que as correlacionam com as mais diversas aplicações industriais.
Vejamos um exemplo:
A densidade básica é considerada um dos principais índices de qualidade da madeira e uma das propriedades mais utilizadas pelas empresas, tanto por correlacionar diretamente com outras propriedades, como também pela facilidade de determinação.
A faixa de densidade requerida para produção de carvão vegetal, não é a mesma desejada pelos produtores de madeira para construção civil ou para produção de celulose. Meio óbvio né?
Na construção civil, a densidade tem sido o principal critério de seleção da madeira. A norma Europeia EN 338:2010, define a densidade como um importante parâmetro de classificação e a associa as propriedades de resistência e rigidez.
Já na área de carvão vegetal, a densidade básica da madeira tem efeito direto sobre a densidade aparente do carvão. E isso faz toda a diferença, no ciclo de produção, na capacidade de enfornamento dos fornos, na resistência mecânica do carvão e na geração de finos.
E na área de celulose e papel, a densidade básica afeta o rendimento em polpa celulósica e custo de produção, dentre outras variáveis. Mas em geral, desejam-se menores faixas de densidade.
Pois bem, o que estou tentando destacar é que, para cada uso final da madeira, podem ser requeridas características completamente distintas e as variações na sua qualidade podem ser detectadas a partir de análises específicas, como as citadas anteriormente.
Madeira sem qualidade não tem espaço dentro do mercado, principalmente quando se quer atingir mercados internacionais.
Vale a pena destacar que, a manutenção da produtividade das florestas plantadas brasileiras é fundamental para o desenvolvimento de políticas públicas, acerca da bioeconomia, devido ao potencial de absorção do dióxido de carbono pelas árvores, o que já tem gerado oportunidades para o país no campo de negociações das mudanças climáticas mundiais.
Como destaca Elizabeth de Carvalhaes, presidente executiva da Indústria Brasileira de Árvores “Em termos de futuro, o setor de florestas plantadas tende a ser ainda mais relevante para a sustentabilidade, seja pelo fortalecimento de fontes renováveis e pelo uso crescente da biomassa florestal… a superação desses desafios faz-se necessária para manter o setor florestal brasileiro em destaque crescente no mundo, tanto em produtividade, quanto em inovação”.
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