A parceria entre um profissional florestal e um biólogo existe sim, e é muito benéfica para nossas florestas, perpetuação de espécies, seja ela fauna e flora, e para manutenção e equilíbrio dos ecossistemas. Pesquisas reforçaram a importância da conservação do bioma e da restauração das interações ecológicas planta-animal. Diferentes características dos frutos e sementes, como tamanho, cor, odor, acessibilidade e época de produção influenciam quais grupos de animais serão atraídos. Ou seja, a ausência de determinado animal pode afetar a flora de uma região, assim como a ausência de determinada planta irá afetar na riqueza desses animais.
O levantamento de espécies arbóreas com base na alimentação de animais, como primatas, antas, roedores, e posterior enriquecimento das áreas adjacentes com as espécies de flora levantadas, trás para área esses animais que se alimentam dela e também ajudarão na dispersão de sementes e posterior manutenção das florestas. Está tudo conectado!!
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Não somente isso, como também o enriquecimento das arbóreas pode auxiliar na preservação de espécies da fauna, como exemplo os Muriquis (Brachyteles arachnoides e Brachyteles hypoxanthus), que já possuem sua população reduzida e encontram-se ameaçados de extinção devido à falta de conectividade entre as áreas, uma vez que as fêmeas dessa espécie quando atingem idade média de seis anos emigram em busca de novo grupo aonde irão se reproduzir. Diante da extensa fragmentação do habitat, esse comportamento de emigração das fêmeas jovens pode contribuir para a extinção quando os grupos ficam isolados, uma vez que estas permanecem isoladas sem se reproduzir, representando uma perda significativa para a espécie, resultando na perda irreversível da biodiversidade. Cada vez que isso acontece, seja com os muriquis ou qualquer outra espécie, estamos “matando” nossas florestas lentamente.
Outra relação é a do lobo-guará, que apesar de comer de tudo, precisa se alimentar com frequência dos frutos da lobeira, pois estas atuam como vermífugos para ele.
Em vista disso, a destruição ou degradação das florestas já levaram a extinção local de muitas espécies de plantas e animais, muitas das quais nem se chegou a conhecer ou avaliar em termos de suas potencialidades e de uso em benefício do próprio homem.
Inúmeras relações planta-animal poderiam ser citadas aqui, mas a questão que vem ao caso é que nós profissionais do meio ambiente precisamos unir esforços e definir estratégias em prol da conservação. Uma profissão complementa a outra!
Como realizar esse trabalho conjunto
- Pense no animal ou grupo de animal que você quer atrair para área adjacente onde fará o enriquecimento;
- Estabeleça a equipe (fauna e flora) para busca ativa dos indivíduos;
- Elabore uma planilha de coleta de dados, a partir de métodos de amostragem de comportamentos e métodos demográficos, para estimativa de tamanho, composição e estrutura de população animal (Dinâmica dos animais);
- Verifique quais árvores são as preferências de alimentação e quais os sítios de dormida, faça as anotações pertinentes, marque os pontos com GPS para posteriormente o profissional florestal vir fazer o reconhecimento das árvores;
- Posteriormente elabore a lista de espécies arbóreas para enriquecimento ambiental do habitat com vista a beneficiar a dieta dos animais;
- Elabore mapa georreferenciado dos corredores ecológicos entre as localidades florestadas da região, prevendo assim sua conexão estrutural e funcional.
OBS. Lembrando que não necessariamente é uma coisa dividida, mas sim complementar, portanto, sugestões de ambos se faz necessária para o bom desenvolvimento do trabalho.
Com o enriquecimento e a atração da fauna nas áreas, uma sucessão de efeitos positivos acontece no ambiente. A vegetação fornece matéria orgânica, troncos e galhos criam micro-habitat e favorecem a sucessão. O consumo de sementes por animais representa uma interação mutualística, na qual estes o utilizam como fonte de nutrientes que garante sua sobrevivência e deixa as sementes intactas ou não, retirando-as da proximidade da planta-mãe reduzindo assim, a competição pelos recursos essenciais como luz, água e nutrientes, bem como, dos locais de intensa predação. Dessa forma, aquela área antes sem vida vai se expandindo, criando corredores e começando a prestar serviços ecossistêmicos. Obviamente é um processo demorado, mas precisamos começar hoje para garantir a manutenção das nossas florestas futuras.
A germinação e estabelecimento de mudas são demograficamente a fase mais crítica na regeneração de plantas por sementes. Além do que, conhecer os fatores que influenciam germinação, sobrevivência e crescimento de plântulas de espécies nativas e entender essas adaptações significa compreender como as plântulas interagem com o ambiente físico e com os outros organismos que as cercam, assim garantindo a colonização do ambiente. Diferentes animais interagem com frutos e sementes de diferentes maneiras. Daí a importância de se conservar a biodiversidade, pois são as diferenças que trarão equilíbrio ao ecossistema.
Nesse contexto, a avaliação e o monitoramento das áreas enriquecidas são fundamentais para o aprimoramento das metodologias empregadas no enriquecimento, e para possibilitar uma estrutura florestal mínima para suportar determinados grupos de espécie. É nessa hora que o trabalho em conjunto é muito importante. O trabalho para manter nossas florestas em pé e continuar prestando serviços ecossistêmicos não se faz sozinho, e sim com uma equipe multidisciplinar.
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