A recuperação de ecossistemas degradados é fundamental para combate às mudanças climáticas e para o cumprimento à Lei Florestal Brasileira (Lei 12651/2012). Mas precisamos reconhecer que recuperar ecossistemas, com diferentes níveis de degradação, não é um trabalho simples. Ao mesmo tempo em que envolve diferentes procedimentos e metodologias, os projetos de recuperação devem contemplar os aspectos ecológico, social, econômico e legal.
Avaliar o estado inicial de degradação, traçar os resultados desejados, inferir o tempo necessário para que a recuperação ocorra, e analisar as restrições financeiras, são etapas fundamentais. Cada local requer diferentes estratégias e diagnósticos, pertencendo aos profissionais envolvidos, a responsabilidade por escolher a técnica mais adequada para cada situação.
As principais metodologias
Segundo Bechara et al. (2016), o plantio de espécies arbóreas é a metodologia mais empregada do Brasil e, apresenta como objetivo a formação de dossel na área em recuperação, buscando promover, consequentemente, a sucessão florestal nativa.
Por outro lado, os autores afirmam que, quando não executado corretamente, o plantio em área total pode prejudicar o processo de recuperação ou direcioná-lo para um estado não desejado.
Muitos dos plantios em área total podem resultar em ecossistemas homogêneos, com diâmetro e altura satisfatórios, porém com baixa diversidade de espécies e com um sub-bosque dominado por gramíneas invasoras, elevando os custos inerentes às etapas de implantação e manutenção das áreas em recuperação.
Sendo assim, direcionar os esforços para os processos ecológicos, como a sucessão ecológica e regeneração natural, ajudam na escolha de estratégias e métodos a serem utilizados de acordo com as características locais da área degradada, buscando sempre a formação de comunidades e ecossistemas com elevada biodiversidade e que se autoperpetuem.
Por combinar diferentes métodos, formando pequenos núcleos conjugados na área degradada, a nucleação pode agir em todos os níveis de diversidade nos processos sucessionais, envolvendo solo, produtores, consumidores e decompositores. A formação dos núcleos, ocupando de 10 a 30% da área, fomenta a redução dos custos, associados às etapas de implantação e manutenção das técnicas nucleadoras (Reis et al., 2014).
O que são as Técnicas Nucleadoras?
Proposta por Yarranton e Morrison (1974), a nucleação é uma técnica fundamentada na teoria sucessional e, visa formar microhabitats representados por núcleos, propícios à abertura de uma série de processos necessários para a regeneração natural, como a chegada de espécies vegetais, de todas as formas de vida e formação de uma rede de interações entre os organismos (Bechara, 2006).
Os autores também afirmam que a técnica cria pequenas manchas florestais com alta diversidade, fazendo com que, no decorrer do tempo, esses núcleos irradiem para toda a extensão da área.
A partir dos microhabitats são formadas condições mínimas de atratividade, como abrigo, alimentação e local de reprodução dos dispersores de propágulos, favorecendo o estabelecimento e desenvolvimento da vegetação pioneira envolvida no processo inicial de regeneração natural.
Exemplos de Técnicas Nucleadoras
São consideradas técnicas nucleadoras os seguintes métodos: Transposição do banco de sementes do solo; núcleos de chuvas de sementes; Poleiros artificiais; Núcleos de cobertura viva; Núcleos de bromélias; Abrigos artificias; Núcleos de árvores.
Transposição do banco de sementes do solo
A transposição do banco de sementes do solo consiste na retirada da superfície do solo juntamente com a serapilheira (0 a 10-20 cm), de áreas naturais conservadas e próximas à área que se deseja recuperar.
Por fim, este solo, somado à serapilheira, é disposto na área degradada. Essa transposição possibilita a reestruturação e fertilização do solo, pela presença de microrganismos responsáveis pela ciclagem de nutrientes e permite a revegetação da área degradada, apoiada pela germinação das sementes que compõe o banco de sementes presente no solo.
Núcleos de chuvas de sementes
A chuva de sementes consiste no conjunto de sementes dispersadas em um determinado local, por diferentes formas de dispersão, como por exemplo, a dispersão pelo vento e por animais. A coleta da chuva de sementes de fragmentos próximos ao ecossistema degradado é uma forma de buscar a diversidade de espécies da região e com isso favorecer a conectividade entre a área conservada e área degradada.
Poleiros Artificiais
O uso dos Poleiros Artificiais, como técnica nucleadora, possui como principal objetivo a atração de aves e morcegos, que pousam nesses colocais e depositam sementes dos fragmentos das florestas próximos às áreas em recuperação.
Diferentes trabalhos recomendam o uso de estruturas altas, tipo torre de cipó, com 10 m de altura, formado por varas de eucalipto, nos quais é importante conduzir trepadeiras como maracujás nativos ou cipó-de-são-joão, promovendo desta maneira maior atração de animais.
Abrigos artificias
Os abrigos artificias também conhecidos como transposição de galharia, são compostos por pilhas de lenha ou resíduo florestal, proveniente de árvores exóticas eliminadas, podas de árvores urbanas, desmatamentos para mineração e antes da inundação de florestas para hidrelétricas, bem como na limpeza de seus reservatórios artificiais após o alagamento.
Todo esse material pode ser enleirado na área a ser recuperada, formando assim uma técnica nucleadora inicial. Esta ação atende, principalmente, à formação de abrigos artificiais para a fauna, mas também promove a atuação de decompositores e possui grande potencial de recuperação de solos após a formação de húmus.
Núcleos de cobertura viva
Para formação dos núcleos de cobertura viva é recomendado o plantio de espécies rústicas herbáceas arbustivas, dentre as quais podem ser utilizadas, girassol, milheto e alguma leguminosa semi-perene para cobertura. Essas espécies devem apresentar, dentre outras características, ciclo de vida anual, florescimento precoce, o que vai atrair animais polinizadores, dispersores de sementes e consumidores.
Por apresentar ciclo curto, as plantas utilizadas vão servir de alimento aos decompositores, reciclando a matéria orgânica no solo. Ainda que o uso de espécies nativas seja o ideal, em algumas situações de falta de sementes nativas de ervas e arbustos no mercado, opta-se por determinadas plantas usadas tradicionalmente na adubação verde, que sejam exóticas, porém, não invasoras e não perenes, saindo naturalmente do ecossistema em pouco tempo.
Núcleos de árvores
O plantio de árvores nativas em núcleos, também conhecido por grupos de Anderson, é caracterizado pelo plantio em grupo de cinco a nove mudas, espaçadas a 0,5 m ou 1 m de distância entre elas, ou seja, altamente adensadas dentro do grupo, porém com espaçamento amplo entre os grupos da área a ser recuperada.
Trata- se de uma forma para ampliar o processo de nucleação, sendo que sua importância está na escolha das espécies que formarão a nova comunidade e que possibilitarão resgatar a biodiversidade local.
Núcleos de bromélias
Buscando complementar as técnicas nucleadoras, o plantio em núcleos de bromélias terrestres também pode ser utilizado. Essa espécie apresenta como característica importante, a presença de tanque para armazenamento de água, responsável por atrair diversos animais para a área degradada.
Sendo assim, as ações nucleadoras representam um avanço em modelos de restauração. Os núcleos formados mostram que pequenas interferências a nível local, representam gatilhos ecológicos promotores de conectividade e de integração das áreas naturais e produtivas, ou seja, são uma força motriz do potencial de regeneração natural de áreas degradadas.
Os gatilhos ecológicos são mecanismos que disparam e aceleram a sucessão natural através de pequenas interferências a nível local, cabendo aos profissionais envolvidos promovê-los.
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