As pessoas se apaixonam por temas específicos e é normal que, neste estado, apresentem um excesso de entusiasmo ao falar daquele objeto da paixão. Como engenheira florestal que sou, atesto meu fascínio e paixão por esta área do conhecimento. A Ciência Florestal estuda quantitativa e qualitativamente as florestas nativas e as plantações florestais. Além disso, está presente também no contexto do desenvolvimento sustentável, dimensionando potencialidades e impactos da exploração florestal, visando garantir a manutenção dos recursos naturais. O Inventário Florestal é uma ferramenta fundamental para caracterização e obtenção de informações sobre a floresta. O inventário guia a utilização e manejo da floresta para seus objetivos produtivos ou de conservação, por isso, está presente na rotina do(a) Engenheiro(a) Florestal. Pretendo apresentar neste texto as 10 razões que podem ser responsáveis pela atração pelo inventário florestal:
Veja também: 4 dicas para aumentar a sua produtividade nos Inventários Florestais
1. A caracterização de áreas de florestas
O inventário florestal viabiliza o levantamento de inúmeras características das florestas: tipos e espécies florestais existentes, DAP (diâmetro a altura do peito), altura, fitossanidade da floresta, dentre outras. As metodologias utilizadas para amostragem em inventário florestal viabilizam o conhecimento de uma determinada área e algum tipo de extrapolação para caracterização de áreas adjacentes de um mesmo bioma e fitofisionomia.
2. A atividade de campo e seus desafios
Estar em uma área de florestas é sempre inspirador! A oportunidade de vivenciar novas experiências práticas, seja um encontro inesperado com exemplares inéditos da nossa fauna/ flora ou o risco real e inerente a atividade de encontros com animais peçonhentos, por exemplo, aceleram o coração. Alternar a dinâmica de trabalho entre atividades de campo e de escritório enriquecem as percepções práticas do profissional. Poder estar em uma área de floresta, coletar dados, ver in loco as características das árvores e outros seres, pode ser mais um motivo para se apaixonar pela prática do inventário florestal.
3. A estimativa volumétrica e a produtividade florestal
De posse dos dados coletados em campo, após sistematização, cálculos e análises é possível gerar informações quantitativas de alta precisão e relevância para as atividades florestais. Quantificar os estoques da floresta em termos de madeira e outros produtos florestais não madeireiros é importante para os profissionais dimensionarem as atividades de colheita e beneficiamento, visando à comercialização. O inventário florestal permite ao profissional realizar este levantamento de maneira objetiva, gerando as informações volumétricas que são fundamentais para atividades de exploração florestal, por exemplo.
4. Prospecção produtiva
Seguindo a lógica do 3º motivo para se apaixonar pela prática do inventário florestal, destaco agora a possibilidade dos resultados do inventário serem utilizados para gerar estimativas de crescimento e uma análise de prospecção produtiva. Consegue imaginar o que seria uma empresa florestal fazendo planejamento sem dados quantitativos de seus plantios? Impossível! Todas as etapas de colheita e manejo florestal dependem das informações quantitativas acerca dos plantios florestais. O inventário florestal fornece dados dos estoques atuais e também pode gerar índices de crescimento que facilitam a operação e planejamento futuro das atividades florestais em suas diferentes modalidades.
5. Coleta de material botânico
Sim, coletar material botânico é apaixonante! Claro que também desafia os profissionais que devem seguir um protocolo rigoroso para coleta, armazenamento e análise. O desafio se inicia na lista de materiais necessários para a atividade em campo (EPI – equipamento de proteção individual, tesoura de poda ou podão, prancheta, lupa, binóculos, facão, prensa de campo, papelão, fita crepe, lápis, saco plástico, entre muitos outros) e depois ainda tem o processo da coleta que muitas vezes depende de uma escalada, ou ainda pode ter surpresas como presença de ninhos de abelhas, maribondos ou outros, bem no local onde se deseja extrair o material botânico para posterior análise. Por outro lado, a paixão reside nas possibilidades de se acrescentar novos exemplares botânicos aos acervos de herbários nacionais. O aumento do número de espécies incorporado aos herbários e xilotecas pode fornecer subsídios para estudos de variabilidade intra e interespecífica, melhorar o entendimento sobre a área de distribuição das espécies e facilitar também futuras identificações botânicas.
6. Comunicação Florestal
Um inventário florestal pode ter uma infinidade de desdobramentos. A comunicação florestal pode ser compreendida como um conjunto de atividades para a disseminação de informações sobre as florestas para públicos distintos. Os resultados do inventário florestal podem ser então traduzidos para uma linguagem apropriada para cada tipo de público que se deseja alcançar, considerando também o objetivo do que se quer comunicar. Depois da tradução dos resultados do inventário, a comunicação se apropria das informações e encaminha as mensagens de acordo com os objetivos determinados. Um exemplo simples seria a mensagem da riqueza (biodiversidade de fauna e flora) de uma área de floresta nativa conservada para que os moradores da região tenham conhecimento e possam também auxiliar em determinados cuidados com a área como riscos de incêndios, invasões, caças e etc. A infinidade de meios de comunicação existentes hoje, permite que os profissionais inovem na difusão da mensagem florestal, seja por meio de textos, vídeos, imagens ou áudios. Todos esses meios apresentam grande potencial de difusão de informação para o alcance de objetivos do negócio florestal.
7. Produção de informações e conhecimentos sobre as florestas
Conhecer a existência e distribuição de diferentes tipologias e espécies é extremamente importante para definir políticas de uso e conservação dos recursos florestais. Além disso, conhecendo a floresta através do inventário florestal é possível entender seu estágio de desenvolvimento, grau de conservação ou degradação e consequentemente, estabelecer medidas adequadas para cada situação. Informações resultantes de inventários florestais geram livros, boletins técnicos e manuais operacionais que ao longo dos anos sistematizam e aprimoram as informações sobre as florestas.
8. O conhecimento científico da floresta
O inventário florestal gera inúmeras análises da floresta, desde sua composição em termos florísticos com todo levantamento taxonômico até a análise da dinâmica dos indivíduos encontrados. Estas informações são preciosas para o campo científico já que poderão ser usadas para resultar registro de novas espécies ou novos produtos a serem extraídos da floresta.
9. Uma importante ferramenta para a gestão dos recursos florestais do mundo
O inventário florestal de um país é considerado uma ferramenta estratégica para a gestão e manejo de seus recursos florestais. Em tratados internacionais sobre o clima, efeito estufa e diversidade biológica, este instrumento tem ganhado cada vez mais a atenção dos pesquisadores e tomadores de decisão. Muitos países ao redor do mundo estão realizando ou realizaram inventários florestais. Destaque para Estados Unidos, Finlândia, Suécia e Noruega que realizam inventários florestais desde a década de 1920 (SFB, 2018). Recentemente a prática do inventário florestal vem extrapolando os limites da floresta e incluindo também análises das árvores fora da floresta, sua condição, produtos e serviços, e também a sua importância para a sociedade.
SAIBA MAIS SOBRE O INVENTÁRIO FLORESTAL NACIONAL EM:
https://www.florestal.gov.br/inventario-florestal-nacional
10. Inovações: ferramentas, equipamentos e softwares
Fazer um inventário florestal pode ser uma atividade desafiadora, mas cada dia fica mais divertida visto que nos últimos anos, novas ferramentas, softwares e equipamentos vem sendo empregados com sucesso nesta prática. Para as atividades de campo, equipamentos como a suta eletrônica, medidores de altura, drones e os coletores de dados tornam o trabalho mais preciso e mais prático. Aplicativos como o Mata Nativa Móvel são empregados para coleta de dados (coordenadas geográficas das parcelas e das árvores, DAP e altura, registros fotográficos) facilitando a organização e sistematização futura dos dados. A etapa do inventário florestal que se refere ao processamento e análise de dados pode ser facilitada hoje através da utilização do Software Mata Nativa. Esta ferramenta inovadora substitui o trabalho manual de cálculos e análises, aumentando a precisão e praticidade desta tarefa.
Diante da dimensão desta atividade e do seu potencial, é difícil não se envolver ou se apaixonar!
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
- Serviço Florestal Brasileiro – https://www.florestal.gov.br/inventario-florestal-nacional
Saiba Mais
- Tecnologias para inventário florestal
- O que aprendemos com mais de 1000 inventários florestais
- Como elaborar uma proposta e o contrato de inventário florestal
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