É incontestável que os esforços desprendidos com a finalidade de se obter dados primários, em campo, são essenciais para obtenção de resultados satisfatórios ao se elaborar inventários florestais, estudos de impacto ambiental, laudos qualitativos ou quantitativo, relatórios e demais estudos necessários em um processo de licenciamento ambiental, assim como na defesa de uma tese ou embasamento para um trabalho de pesquisa.
No entanto, para que os trabalhos de campo resultem em dados concisos e exatos, é essencial que o pesquisador responsável tenha muito cuidado no planejamento, pois um campo mal programado pode não somente resultar em desperdício de tempo e recursos financeiros, como também pode influenciar uma coleta incorreta de dados primários, o que certamente comprometerá todo o trabalho, podendo resultar em graves consequências para o pesquisador, devido à prestação de informações não condizentes com a realidade.
O dicionário Aurélio da Língua Portuguesa (1999) define o termo “falso” como “algo contrário à realidade, em que há mentira, fingimento, dissimulação ou dolo”. Já o termo “enganar” é definido pelo mesmo dicionário como “induzir ao erro”. Logo, uma informação incorreta no que se diz respeito aos dados primários, pode ser interpretado como uma atitude antiética do pesquisador ou consultor, mesmo que este não tenha ciência da inconsistência de seus resultados e os julgue como corretos.
Ramos (2012) afirma que a apresentação de dados ou fatos incorretos é considerado pelo ambiente acadêmico como atitude fraudulenta. O autor completa ainda que, no Brasil, a manipulação ou apresentação de dados imprecisos não se configura como crime, mas adverte que o pesquisador que apresenta tais elementos está sujeito a punições nas esferas civil e administrativa. Completo ainda, que a situação descrita acima pode prejudicar permanentemente a vida acadêmica ou até mesmo profissional de um pesquisador, que pode ser visto pela comunidade científica ou pelo mercado de trabalho como um fraudador.
Para os profissionais que atuam diretamente com o licenciamento ambiental, vale lembrar que a Lei 9.605, que “dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências”, prevê as devidas punições legais referente à prestação de informações falsas aos órgãos ambientais.
Ela define em seu Art. 69 que elaborar ou apresentar, no licenciamento, concessão florestal ou qualquer outro procedimento administrativo, estudo, laudo ou relatório ambiental total, ou parcialmente falso, ou enganoso, inclusive por omissão, sujeita o infrator a pena de reclusão, de (3) três a (6) seis anos, e multa.
No parágrafo segundo do referido artigo está previsto que a pena pode ser aumentada 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se há dano significativo ao meio ambiente, em decorrência do uso da informação falsa, incompleta ou enganosa.
Mediante as informações contidas acima, podemos perceber que o simples fato de se coletar dados de maneira desordenada, sem planejamento ou incompleto, pode induzir o pesquisador e /ou consultor a erros graves em seus laudos, tendo ele que responder pelas informações prestadas, estando ou não ciente do erro.
Nessa perspectiva, o presente texto traz à tona alguns dos principais erros ao se planejar um trabalho de campo, assim como, maneiras de se evitar tais descuidos. É importante ressaltar que cada campo possui suas particularidades, que variam de acordo com o objetivo do estudo e devemos sempre estar atentos a estes detalhes.
Primeiro erro: Partir para campo sem conhecer a área de estudo.
Muitas vezes, por pressão de prazos para apresentação de resultados, o pesquisador é induzido a iniciar um trabalho de campo sem verificar a área de estudo e suas particularidades, logo, a equipe de campo pode se deparar com uma situação totalmente diferente do esperado, que forçará alterações drásticas na metodologia de campo e até mesmo dos equipamentos a serem utilizados.
Como exemplo, podemos citar um caso fictício de uma equipe que iniciou um campo com finalidade de Inventário Florestal, em uma região de cerrado.
Por se tratar de uma fitofisionomia de Cerrado Ralo, já definida pela bibliografia e de conhecimento da equipe por meio de dados secundários, as parcelas foram previamente definidas com dimensões 20 x 50m, com algumas repetições ao logo da área de estudo. No entanto, ao se chegar in loco, verificou-se a existência de uma vegetação completamente diferente do esperado, com um adensamento vegetal significativo.
Nesse contexto as parcelas tiveram de ser redimensionadas para 20 x 10m, visando maximizar a eficiência do estudo. No entanto, devido à necessidade de redução da área das parcelas, há também a exigência do aumento do número de parcelas.
Após todos os ajustes, analisando a nova realidade do campo, percebeu-se que a logística para a realização do trabalho foi alterada completamente, pois, com a modificação do esforço amostral, altera-se também a necessidade do número de profissionais, permanência em campo, quantidade de materiais e demais cálculos previamente elaborados.
É nesse ponto que muitas vezes a equipe é induzida à coleta inadequada de dados, pois há prazos para finalização do campo e orçamento previsto, que comumente são fatores limitantes.
Sendo assim, é imprescindível que a equipe conheça a área de estudo antes de iniciar qualquer amostragem. Caso não seja viável estar in loco antes do início do campo, é prudente que se verifique a área por meio de sistemas de geoprocessamento, imagens de satélite, fotos aéreas ou fotos registradas por alguém que possua acesso à área. Esse hábito facilita o planejamento do campo com maior exatidão.
Segundo erro: Falta de metodologia ou conhecimento técnico para a tarefa a ser desempenhada.
Certamente esse erro é o mais polêmico se tratando do mercado da consultoria, pois não é surpresa que muitos consultores oferecem aos clientes, serviços os quais não estão aptos a desempenhar, na expectativa de atender a demanda contratada.
Não entrando em méritos éticos e atendo a atenção apenas na questão técnica, a definição de uma metodologia de campo bem embasada é essencial para que os esforços não ultrapassem o prazo de execução ou o orçamento previsto, de maneira a evitar prejuízos aos envolvidos.
É importante que, para definição da metodologia a ser aplicada em campo, o pesquisador consulte sempre a bibliografia, seguindo metodologias já existentes e aceitas tanto pela comunidade científica quanto por órgãos ambientais.
No caso específico de estudos destinados ao licenciamento, é imprescindível que a metodologia respeite o que está definido na legislação local e nos termos de referência dos órgãos licenciadores.
Terceiro erro: Falta de logística bem definida
Alguns profissionais, especialmente os mais experientes, poderão dizer que esse erro não é tão comum assim, no entanto, ele é bem corriqueiro dentre os profissionais com pouca experiência.
A falta de equipamentos de campo pode certamente comprometer a qualidade dos dados e, consequentemente, a veracidade dos mesmos.
Leia também: Dicas de materiais e equipamentos utilizados na coleta de dados em campo
Novamente vamos citar um campo com a finalidade de inventário florestal como exemplo. Consideramos que a equipe providenciou todos os materiais necessários, tais como, facão, exsicatas, podão, câmera carregada, EPIs, GPS, fitas, cordas e afins. No entanto, se esqueceram de que sem uma bateria reserva, não seria possível fotografar a realização completa do campo.
Aparentemente, esse é um pequeno problema, que pode ser facilmente resolvido. No entanto, considerando que a área de estudo seja muito afastada da cidade mais próxima, o que é bem comum, apesar de ser um problema de fácil resolução, esse erro pode comprometer várias horas de trabalho, refletindo diretamente no planejamento geral.
Outro fator que merece atenção no que se refere a logística, é desconsiderar gastos de campo como alimentação, hospedagem, aluguel de equipamentos e deslocamento. Todas essas variáveis devem ser consideradas e incluídas no orçamento e planejamento.
Quarto erro: Realização do campo sem a presença de alguém que conheça bem a área.
Em áreas afastadas e com grandes extensões territoriais esse erro pode até mesmo colocar a equipe de campo em uma situação de risco de vida. Vamos imaginar um caso em que um integrante da equipe sofre um acidente e precisa de atendimento médico.
Sem conhecer a área de estudo, levando em conta o estado psicológico que a situação coloca a equipe, há grandes possibilidades da mesma se perder no caminho em busca de ajuda.
Saiba também: Mateiro x Identificador Botânico
Além da possibilidade exposta acima, de acordo com o objetivo do estudo, a presença de um mateiro local pode facilitar consideravelmente o alcance de resultados, pois este pode direcionar à equipe diretamente para o que está sendo procurado.
Quinto erro: Não consideração de imprevistos – condições climáticas, perdas ou danos em equipamento, acidentes, dentre outros.
Quando não se considera no planejamento executivo e orçamentário possíveis imprevistos que poderão surgir, caso estes ocorram, a coleta de dados pode ser parcialmente comprometida enquanto esforços são desprendidos para resolver a situação que surgiu.
Como dica final, sugiro que, antes de iniciar um campo, o planejamento seja discutido com outros colegas atuantes na área. Lembre-se: diferentes pontos de vista detectam diferentes problemas e soluções.
Veja também:
- Como reduzir os custos do inventário florestal com o Mata Nativa Móvel
- Maiores motivos de reprovação de inventários florestais junto ás secretarias de Meio Ambiente
- Como estabelecer o custo do inventário florestal
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