Inventários florestais e programas de monitoramento de biodiversidade vem ganhando destaque nas áreas de conservação e manejo dos recursos naturais. Os inventários, em especial, têm sido considerados ferramentas eficazes para estimar o volume, identificar espécies e a condição dos recursos florestais em grandes áreas, de forma a elaborar planos de manejos sustentável de uso múltiplo.
Todos os inventários realizados em grandes áreas compartilham uma característica metodológica comum “as unidades amostrais são rigorosamente selecionadas por regras probabilísticas como um meio de garantir a credibilidade das estimativas”. É o que acontece, por exemplo nos inventários florestais regionais e nacionais. Para isso, tem-se como apoio a amostragem estatística, que está diretamente ligada as medições periódicas nas unidades amostrais permanentes. Dessa forma, é possível fornecer dados que representem as mudanças que ocorreram ao longo do crescimento das árvores e da biodiversidade em estudo, a fim de construir modelos e estimar tendências.
Os inventários atuais enfocam no levantamento dos múltiplos produtos e recursos naturais, considerados na elaboração de planos de manejo florestal. Assim, além de acompanhar o crescimento das árvores é possível analisar a diversidade biológica da floresta.
O monitoramento da biodiversidade natural é um requisito essencial para apoiar as decisões no manejo e manter as múltiplas funções do ecossistema florestal a longo prazo. E isso é o que justificaria a implementação e custo dos inventários de múltiplos produtos.
De acordo com o pesquisador Piermaria Corona, para a revista Forest Ecology and Management, as melhorias das práticas de inventário em torno do levantamento dos multiusos têm ampliado o escopo das suas aplicações a nível (i) da expansão da população, de forma a incluir atributos não tradicionais, como por exemplo as florestas urbanas, que situam-se dentro ou próxima a uma zona urbana. O (ii) potencial das florestas em atuar como sumidouros de carbono a partir das estimativas de absorção, como também (iii) melhorar os critérios de avaliação para o desenvolvimento das florestas. Ainda segundo o pesquisador, a melhoria dos inventários florestais só será possível a partir do levantamento simultâneo das variáveis relacionados a silvicultura e à biodiversidade, apesar dos custos adicionais, que são considerados inferiores aos custos de projetar e implementar inventários, com essa mesma finalidade, separados. O interessante é que, a partir desse tipo de inventário seria possível relacionar a dinâmica da biodiversidade na regeneração natural, às mudanças nas métricas de paisagem, que podem ser avaliadas por técnicas de sensoriamento remoto ou do dossel principal, utilizando medições realizadas em campo, com base nas variáveis dendométricas.
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Os dados disponibilizados pela FAO demonstram que, nos últimos 20 anos houve mudanças significativas na gestão das florestas ao redor do mundo. A área de florestas protegidas aumentou em cerca de 36%. No continente americano a proporção de área protegida é relativamente alta (10-17%), quando comparados aos demais continentes do globo.
Por outro lado, a conservação das florestas tropicais naturais tem sido um grande desafio, principalmente devido o aumento da extração madeireira, agricultura e crescimento urbano que tem causado perdas significativas. Além disso, a composição e a estrutura das florestas tropicais ainda são pouco conhecidas, o que dificulta as decisões referentes ao plano de manejo que deve ser adotado.
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Uma alternativa é utilizar o inventário como ferramenta para fornecer informações sobre a biodiversidade e a estrutura florestal, para desenvolver planos de manejo e conservação, sobretudo nas regiões cujas florestas tenham sido fragmentadas, devido a ações antrópicas. De acordo com o pesquisador Elias Ganivet, autor do trabalho “Towards rapid assessments of tree species diversity and structure in fragmented tropical forests: A review of perspectives offered by remotely-sensed and field-based data”, o sensoriamento remoto pode ser a principal ferramenta para a realização do inventário nesse tipo de situação.
Segundo Elias Ganivet, os métodos de sensoriamento remoto podem superar os limites dos métodos utilizados em campo e fornecer informações em escalas geográficas maiores. Embora não possuam a precisão da maioria das observações em campo, o método permite não apenas minimizar o tempo, como também facilitar o acesso à coleta de dados contínuo em grandes áreas, incluindo florestas inacessíveis localizadas em regiões remotas, que é característico dos cenários de muitas florestas nativas ao redor do mundo, inclusive as tropicais no Brasil.
A avaliação da diversidade de espécies arbóreas e da composição florestal é necessária a níveis local e regional, de forma a entender o status atual das florestas tropicais, a fim de desenvolver estratégias de manejo eficazes para sua conservação.
Dados de sensoriamento remoto devem ser usados para prever e mapear a diversidade das espécies em escala regional, enquanto os inventários de campo fornecem informações precisas em escalas locais e permitem a validação de dados de sensoriamento remoto. Por isso, os métodos de monitoramento que combinem dados de campo e sensoriamento remoto podem fornecer respostas econômicas aos desafios de monitoramento das florestas nativas.
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