Infelizmente, nos últimos tempos, muito tem se ouvido falar sobre deslizamentos de terra. Se refletirmos por um minuto conseguiremos nomear vários incidentes trágicos que aconteceram no Brasil recentemente. Os deslizamentos de terra vem ocorrendo com maior frequência, principalmente em lugares com ocupações em áreas de risco, nos topos de morros e em áreas descobertas de vegetação. A saber, a vegetação tem papel fundamental na contenção e manutenção dos solos, tornando as áreas mais estáveis. No entanto, por negligência, essas áreas não têm recebido a atenção adequada. Em outras palavras, ainda existe uma carência pela elaboração de alternativas que busquem mitigar tais problemas, bem como auxilie na prevenção dos deslizamentos de terra. A exemplo, o conhecimento dos recursos disponíveis por meio do inventário florestal pode subsidiar a tomada de decisões e propor estratégias preventivas.
Deslizamentos de terra: conceitos e causas
Os deslizamentos de terra são caracterizados pelo deslocamento de pedaços de solo, fragmentos de rocha ou outros detritos. Esse fenômeno ocorre principalmente em áreas de encostas de morros e serras, no entanto, também há relatos de deslizamentos de terra em ambientes com relevo mais suave. O fenômeno está atrelado a causas naturais ou antrópicas, porém a intervenção humana é a principal força motriz para que esse evento ocorra. As causas naturais são principalmente chuvas fortes e de longa duração, que encharca o solo e causa o desprendimento de materiais do solo. Além disso, relevos muito acentuados e solos muito permeáveis podem provocar a desintegração de materiais do solo.
Como supracitado, as ações humanas intensificam e aumentam os casos de desastres por causa dos deslizamentos de terra. A principal atividade que acarreta nesse fenômeno é o desmatamento de encostas, que gera a desestabilização do solo e o torna mais vulnerável as chuvas e ventos. Outro fator são as construções em áreas declivosas que, além de alterar a superfície da encosta, altera as propriedades do solo. Além dessas causas citadas, o descarte incorreto de lixo também configura como um motivador de grande impacto na paisagem, uma vez que afeta diretamente no escoamento da água, o que pode ocasionar em entupimento e encharcamento do solo.
Crescimento das cidades
Com o forte crescimento populacional, as pessoas passaram a ocupar as áreas que antes eram cobertas por vegetação. Contudo, cabe ressaltar que, foi a partir da revolução industrial que as cidades cresceram. Nessa época houve um grande avanço na tecnologia, o que levou a criação e ao aumento das indústrias. Tal fato também acarretou grande êxodo rural, pois as pessoas que viviam no meio rural passaram a morar nas cidades para trabalhar. Com isso, as cidades tornaram superpopulosas e, consequentemente, cresceu a demanda por produtos, serviços e, principalmente, casas, comércios e hospitais.
Nesse contexto, o processo de ocupação das cidades brasileiras não seguiu modelos de organização de ocupação urbana. As casas e prédios foram construídos, por muitas vezes, em locais que eram inadequados e sem nenhuma gestão urbana. Dessa forma, a ocupação de forma irregular cresceu e as classes mais pobres foram as que mais sofreram, uma vez que estas ocuparam principalmente as áreas mais desfavorecidas dos grandes centros urbanos. Essas áreas se encontram, em muitos locais, com condições topográficas e geográficas irregulares. Tal fato é decorrente dessas áreas estarem localizadas em regiões declivosas, em topos e encostas de morros. Essas regiões são classificadas como áreas de risco, uma vez que possuem maior probabilidade da ocorrência de deslizamentos de terra.
Desmatamento e ocupações irregulares
O crescimento das cidades tem sido a grande causa do desmatamento de áreas naturais. A necessidade de espaço para construções de casas, prédios, indústrias e outras atividades produtivas levam a derrubada da vegetação para abertura de áreas. No entanto, o desmatamento contínuo, em locais inapropriados e sem que ocorra o manejo correto, acarreta prejuízos em escalas globais. Dado que os prejuízos são ambientais, sociais e econômicos, estes afetam diretamente a vida e saúde das pessoas.
Nesse contexto, as ocupações irregulares, principalmente em áreas declivosas, procederam de um desmatamento nocivo para o homem. É certo que o desmatamento em topos de morros e encostas compromete o solo, gerando uma maior exposição a chuvas e erosão. Além disso, áreas descobertas de vegetação estão sujeitas a um maior escoamento superficial da água e, consequentemente, o carreamento de partículas do solo e os deslizamentos de terra. Com isso, existe um maior risco de encharcamento do solo, em chuvas intensas, e assoreamento dos rios. Portanto, o desmatamento e as ocupações irregulares podem acarretar deslizamentos de terra e, portanto, em profundos riscos para a população que vive nesses locais.
Deslizamentos de terra: efeitos e soluções
Em muitas situações, os deslizamentos de terra podem ter danos irremediáveis para a população atual e a vindoura. Os efeitos dos deslizamentos incluem a destruição de casas, estradas, cidades, bem como podem gerar inundações pelo assoreamento dos rios. Mas, o efeito mais assustador é a morte de pessoas que, infelizmente, tem acontecido com certa frequência. As consequências de um deslizamento de terra são imensuráveis e irreparáveis, principalmente para as pessoas que estão inseridas nesses locais de risco. No entanto, é possível adotar medidas e políticas públicas de contenção e interrupção de novas tragédias.
A principal medida é a proteção do solo, com a vegetação. A vegetação possui papel fundamental na contenção de encostas e, consequentemente, nos deslizamentos de terra, uma vez que recobre o solo, promovendo o escoamento da água para o lençol freático. Além disso, as raízes promovem o estabelecimento do solo, evitando o desprendimento de materiais. No entanto, para isso é necessário que haja políticas públicas de gestão urbana para afastar as construções em áreas de encostas e, ao mesmo tempo, fornecer moradia segura para a população. Além disso, deve-se promover a educação ambiental sobre a importância do descarte correto do lixo e as consequências que os resíduos proporcionam para as cidades e o meio ambiente. Por fim, medidas estruturais, como a instalação de canaletas para o escoamento da água, também se fazem de grande relevância.
Deslizamentos de terra recentes
Infelizmente, as tragédias por meio de deslizamentos de terra de grandes proporções, principalmente em áreas descobertas de vegetação, têm ocorrido de forma corriqueira no Brasil. Muitos são os casos de deslizamentos, após chuvas intensas, que fecham rodovias e estradas. No entanto, outros deslizamentos de terra vitimaram muitas pessoas. Segundo o levantamento do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), entre os anos 1988 e 2022, os deslizamentos de terra levaram a perda de mais 4 mil pessoas. Os estados que apresentaram maior quantidade de vítimas foram o Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. Além disso, o ano de 2011 apresentou uma maior quantidade de mortes, quase mil, seguido de 2022 que apresentou 443 mortes.
Rio de Janeiro
No ano de 2011, na região serrana do Rio de Janeiro, ocorreu um desastre que afetou as cidades de Nova Friburgo, Petrópolis e Teresópolis. A região enfrentou chuvas em grandes proporções, que ocasionaram deslizamentos de terra e transbordamento dos rios. Além das perdas já citadas, aproximadamente 35 mil pessoas perderam suas casas ou ficaram desabrigadas. Em 2022, um novo desastre ocorreu na região serrana, na cidade de Petrópolis, em que foram detectados mais de 775 deslizamentos de terra, após chuvas de proporções históricas. Essa tragédia vitimou mais de 200 pessoas e 4000 foram desabrigadas.
São Paulo
No estado de São Paulo são diversos casos de deslizamentos de terra. Nesse ano, 2023, durante o carnaval, ocorreu uma tragédia no litoral norte do estado. As cidades mais afetadas foram Ubatuba, São Sebastião, Guarujá, Ilhabela, Caraguatatuba e Bertioga, que declararam estado de calamidade pública. A saber, a causa para a ocorrência dos deslizamentos foram chuvas intensas, com acúmulo de 600 milímetros em um dia. Essa tragédia vitimou mais de 60 pessoas e o número de pessoas que deixaram suas casas ou foram desabrigadas superou 3000.
Maranhão
Na cidade de Buriticupu, no Maranhão, deslizamentos de terra tem provocado a abertura de grandes voçorocas na cidade. Esse evento tem ocorrido há mais de 30 anos em áreas que estão descobertas de vegetação. Na cidade, soma-se mais 20 buracos gigantes, que possuem em torno de 70 metros de profundidade. Toda essa situação tem ameaçado a população e a existência da cidade.
Diante de todo o exposto, os deslizamentos de terra causam danos imensuráveis. Por isso, faz-se necessário medidas urgentes do poder público para coibir que novas tragédias aconteçam. No entanto, infelizmente, pouco tem se realizado e cada dia mais são noticiados novos casos. Por fim, para frear que deslizamentos de terra ocorram é urgente a conservação dos recursos naturais, uma vez que a vegetação possui papel insubstituível na contenção de encostas e na infiltração de água no solo. Além disso, a manutenção da vegetação auxilia na mitigação das mudanças climáticas e, dessa forma, a diminuição da incidência de eventos climáticos extremos, como as chuvas concentradas de grandes proporções que estão acontecendo.
Links recomendados
- Deslizamentos de terra – causas e consequências
- Papel da vegetação
- Processo de ocupação das cidades
- Medidas de contenção de deslizamentos de terra
- Levantamento do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT)
- Tragédia Região Serrana no Rio de Janeiro, em 2011
- Tragédia Petrópolis em 2022
- Tragédia Litoral norte de São Paulo em 2023
- Voçoroca no Maranhão
