Ao falarmos sobre políticas públicas na área de ciência e tecnologia na região amazônica nos deparamos com os enormes desafios enfrentados como um todo. Neste texto não serão apresentados exemplos específicos, pois a abordagem aqui será a de olhar para a necessidade de buscar a sustentabilidade, partindo da premissa de que ciência, tecnologia e inovação são essenciais na busca desta tão sonhada sustentabilidade.
O modelo de desenvolvimento rural na amazônia
O desmatamento na Amazônia brasileira aumentou de 10 milhões de hectares na década de 1970 para mais de 60 milhões de hectares na virada do século. Conforme esses dados chegaram ao conhecimento da sociedade houve uma crescente conscientização sobre os impactos do desmatamento. Diversas iniciativas envolvendo o campo da ciência e tecnologia surgiram para abordar as questões de desmatamento, emissões de gases de efeito estufa, perda de biodiversidade e desenvolvimento sustentável na Amazônia.
O modelo de desenvolvimento rural da Amazônia brasileira, baseado na substituição das florestas pela agricultura e pecuária está ultrapassado, visto que o produto agrícola bruto da floresta amazônica representa menos de 0,5% do PIB brasileiro. A conclusão é: cinquenta anos de desmatamento não resultaram em riqueza ou melhor qualidade de vida para a maioria dos brasileiros. Contrapondo-se a essa constatação, o cenário econômico atual conspira contra a floresta amazônica, valorizando as commodities agrícolas como a soja e a carne.
O desafio é conciliar a manutenção das atividades agrícolas tradicionais, mas com maior eficiência, tendo em mente que mais de 750.000 quilômetros quadrados da Amazônia brasileira já foram desmatados, enquanto outra parcela igual se encontra em um processo acelerado de degradação, tanto para a biodiversidade, como para a água, fontes de energia renováveis, etc. O grande desafio é a definição de uma nova Ciência e Tecnologia para servir de base para um novo modelo de desenvolvimento regional.
O grande desafio
A região amazônica é um dos maiores desafios do mundo na busca pelo desenvolvimento de práticas sustentáveis de produção e consumo. Esse enorme desafio de desenvolvimento social, econômico e ambiental sustentável e a conservação desse inigualável recurso biológico, inclui necessariamente a questão da produção sustentável – principalmente a criação de emprego e renda a partir da exploração dos recursos naturais.
Portanto, é preciso deixar claro que o grande desafio de mudar o modelo de desenvolvimento regional é político e que a ciência e a tecnologia, por si só, são insuficientes quando sozinhas. No entanto, a ciência e a tecnologia desempenham um papel fundamental no desenvolvimento sustentável da Amazônia, considerando a necessidade de novos conhecimentos para o pleno desenvolvimento das cadeias produtivas, valorizando a biodiversidade e os serviços ambientais dos ecossistemas.
Temos também que os benefícios mais tangíveis da ciência e da tecnologia não são aqueles originados diretamente de novos conhecimentos, mas os derivados do uso de conhecimentos já existentes, traduzidos em bens e serviços. Ainda mais relevante do que o avanço do conhecimento em si, é a criação de uma força de trabalho capaz de compreender e aplicar o conhecimento existente.
Veja mais: Os desafios e contradições do Manejo Florestal Sustentável na Amazônia
A capacitação tecnológica provou ser uma ferramenta fundamental para manter as economias emergentes de importantes países em desenvolvimento. Nos últimos cinquenta anos, o Brasil tem sido capaz de criar ilhas de excelência em ciência e tecnologia, que são mais semelhantes às dos países desenvolvidos do que as de baixa ou média renda. No entanto, as desigualdades regionais históricas, especialmente as da educação, criaram impedimentos limitando drasticamente o uso intensivo de ciência e tecnologia para as economias e o desenvolvimento social das regiões mais pobres e menos favorecidas, incluindo a Amazônia e o Nordeste brasileiro. A pobreza está quase sempre associada à degradação ambiental, que, em um círculo vicioso, afeta a renda e a qualidade de vida dos mais pobres, além de afetar a saúde e a capacidade de adaptação às mudanças ambientais e climáticas.
No entanto, o paradigma de intensa aplicação do conhecimento existente não se aplica ao desenvolvimento sustentável da Amazônia, visto que o conhecimento existente e praticado para o desenvolvimento da agricultura não se mostrou adequado para os trópicos úmidos, com alto custo social e ambiental. Em outras palavras, o fato de não haver um país tropical plenamente desenvolvido e industrializado resulta em falta de modelos para imitar.
Como encontrar um caminho sustentável para o futuro da Amazônia?
Já existe um grande número de programas piloto para a produção ambientalmente sustentável na Amazônia, como a produção de produtos não-madeireiros nas reservas extrativistas e nas cooperativas de pequenos produtores. Porém, a maioria deles não tem responsabilidade sobre se eles realmente estão cumprindo os parâmetros de sustentabilidade econômica, social e ambiental.
Em termos práticos, a revolução científica e tecnológica necessária para a Amazônia deve criar condições favoráveis para “agregar valor à floresta”. Atualmente, poucas cadeias produtivas baseadas nos produtos da Amazônia atingem os mercados globais com benefícios para um amplo estrato social. Na verdade, ocorre exatamente o contrário: mais e mais produtos de outras regiões estão sendo usados na região amazônica para substituir os produtos tradicionais.
Embora esse diagnóstico não seja novo, a questão permanece: por que essa nova realidade econômica ainda não começou a se desenvolver, já que hoje está claro que existe um desejo nacional de interromper o atual estado de desenvolvimento baseado no desmatamento? Em outras palavras, como podemos atender ao desejo nacional de encontrar um caminho sustentável para o futuro da Amazônia? Assim, uma nova visão da ciência e tecnologia é necessária.
Entre outras condições gerais, como a melhoria da educação básica, é essencial investir nas instituições para ensino superior, pós-graduação, laboratórios de pesquisa básica e tecnologia avançada, com foco específico tanto na floresta quanto nos recursos aquáticos. Além disso, as instituições devem estar conectadas, alcançando todos os cantos distantes da Amazônia e interconectadas por tecnologia da informação de ponta.
Esses institutos devem estar envolvidos com o desenvolvimento e agregação de valor em toda a cadeia produtiva de dezenas de produtos da Amazônia, desde a bioprospecção, desenvolvimento de produtos até a comercialização e marketing global. Embora pareça uma receita simplista para o desenvolvimento regional, nenhum país tropical o adotou em larga escala. A tecnologia de ponta possibilitaria que algumas instituições desenvolvessem pesquisas sofisticadas em biotecnologia e nanociência aplicadas.
Portanto, vimos que ciência e tecnologia, por si só, não são suficientes. A questão fundamental ainda é como chegar a um novo modelo de desenvolvimento não apenas para a Amazônia, mas para o Brasil.
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