Mais de 100 mil quilômetros quadrados foram consumidos pelo fogo na Austrália desde que os incêndios começaram em novembro de 2019. A temporada de queimadas atual, que já é considerada como uma das piores das últimas décadas, matou pelo menos 27 pessoas e 1 bilhão de animais, destruiu 2 mil casas e obrigou dezenas de milhares de australianos a deixarem suas cidades. Centros urbanos como Melbourne, Sydney e a capital, Canberra, sofreram com os efeitos colaterais, sendo cobertas por uma nuvem espessa de fuligem.
Todos os oito estados ou territórios do país foram atingidos de alguma forma pelas chamas. Os estados de Victoria e Nova Gales do Sul, porém, foram os mais comprometidos, chegando a declarar estado de emergência. E o problema maior é que o verão está apenas começando e, assim, possivelmente o número de focos de incêndio não deve diminuir.
A intensidade do fogo nas últimas semanas e o número anormal de focos de incêndio são resultado da seca recorde de 2019, que foi o mais quente e seco desde o início do século 20. As ondas de calor que chegaram ao país em dezembro ajudaram a agravar o problema, fazendo os termômetros passarem dos 40 graus e deixando a vegetação seca, o que facilita a propagação das chamas. Em dezembro do ano passado, o país chegou à marca recorde dos 41,9 °C.
Mas não somente o aumento da temperatura é o responsável por tudo que está acontecendo na Austrália. A intensificação das queimadas na região também diz respeito a eventos climáticos específicos que vêm atravessando a região, como o Dipolo do Oceano Índico positivo, também conhecido como El Niño Índico. O evento aparece quando a temperatura da superfície do oceano está mais quente numa metade do oceano e fria na outra banda. Estima-se que a diferença entre essas temperaturas seja a maior dos últimos 60 anos.
Os ventos também contribuíram para tornar os incêndios incontroláveis, intensificados por um fenômeno assustador: nuvens de fogo que pairam sobre as cidades.
Esse combo climático intensifica o calor e a ausência de chuvas nas porções central e sul da Austrália. Com a vegetação mais seca há menos evaporação, e as chamas acabam se alastrando mais rapidamente. Como resultado, a média de chuvas no país em 2019 ficou 40% abaixo do normal. A tendência é que o aumento das temperaturas torne fenômenos como as queimadas ainda mais frequentes e intensos.
Mais que coalas e cangurus
Embora coalas e cangurus mortos e queimados tenham se tornado os símbolos da vida selvagem que sofre nos piores incêndios que já atingiram a Austrália, os conservacionistas observam que essas espécies não correm risco de extinção.
De maior preocupação ecológica são os animais incomuns que podem desaparecer de um continente com a maior taxa de extinção de mamíferos do mundo.
Entre os mais vulneráveis: o potoroo de pés longos, um marsupial que vive em um habitat úmido da floresta que pode não se recuperar dos incêndios e a cacatua preta brilhante da Ilha Canguro, que come apenas as sementes dos carvalhos que se incendiaram.
E depois há todos os insetos, a base de uma floresta viva. Eles representam metade de toda a biomassa animal e são a principal fonte de alimento para praticamente tudo o que se move na floresta.
Os insetos também quebram a matéria orgânica e ajudam a polinizar as plantas. Dentro de galhos, debaixo de folhas, dentro de troncos escavados e em bolsos no chão, dezenas de milhões de insetos estão sendo queimados vivos. Alguns podem desaparecer sem nunca serem descobertos.
As autoridades federais da agricultura dizem que pelo menos 100.000 bovinos morrerão antes do fim dos incêndios. As vacas pararam de alimentar os bezerros porque suas tetas estão queimadas.
A fome e a doença fazem parte dos danos que o fogo deixa para trás. Os animais que sobrevivem podem ter dificuldade para encontrar comida em uma paisagem cinzenta, desprovida de plantas que fornecem nutrientes ou abrigo.
Sem árvores para fazer seus ninhos, os pássaros podem não se reproduzir. Presas, incluindo insetos, podem ser escassas.
Uma comparação com queimadas na Amazônia
As emissões de gases de efeito estufa causadas pelos devastadores incêndios florestais na Austrália estão agora quase no mesmo patamar das geradas pelas chamas que atingiram a Amazônia brasileira no ano passado.
De setembro a 6 de janeiro, os incêndios florestais na Austrália emitiram 370 milhões de toneladas de dióxido de carbono, de acordo com o Serviço de Monitoramento da Atmosfera Copérnico.
Em comparação, os incêndios que atingiram os estados brasileiros localizados na Amazônia emitiram 392 milhões de toneladas de gases de efeito estufa entre 1º de janeiro e 15 de novembro do ano passado.
De acordo com a Global Forest Watch, um serviço de monitoramento florestal, de outubro de 2019 a 8 de janeiro nos estados de Nova Gales do Sul, Queensland, Austrália do Sul e Vitória, as zonas em alerta de incêndio representavam cerca de 5,4 milhões de hectares. Entretanto, o tamanho da área que sofreu queimadas no estado do Amazonas, durante todo o ano de 2019, totalizou 567 mil hectares.
De qualquer forma, comparações entre os dados de emissões de queimadas da Austrália e do Brasil são complexos devido às diferentes dinâmicas do fogo, tais como o tipo de vegetação e como os incêndios são iniciados.
Seguimos torcendo para que a situação na Austrália melhore. Não há muito o que fazer. O governo australiano segue acusando pessoas pelos focos de incêndio e uma série de fatores climáticos também interfere na questão. Enfim, vamos torcer para o melhor.
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