Os produtos florestais não madeireiros, como o próprio nome indica, são todos os produtos advindos da floresta que não sejam madeira, como: folhas, frutos, flores, sementes, castanhas, palmitos, raízes, bulbos, ramos, cascas, fibras, óleos essenciais, óleos fixos, látex, resinas, gomas, cipós, ervas, bambus, plantas ornamentais, fungos e produtos de origem animal.
Pensando-se na importância desses produtos, observa-se que os PFNMs são fundamentais para a subsistência de muitas pessoas em todo o mundo, especialmente para aquelas que vivem no interior de florestas ou em áreas próximas dela. Eles são utilizados na alimentação, produção de medicamentos, usos cosméticos, construção de moradias, tecnologias tradicionais, produção de utensílios e tantos outros usos.
De acordo com a FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), cerca de 80% da população de países em desenvolvimento usam os PFNMs para suprir algumas de suas necessidades de vida e pelo menos 150 PFNMs apresentam significativa participação no mercado internacional, chegando a US$ 10 bilhões ao ano. Países como a China, Índia, Indonésia, Malásia, Tailândia e Brasil são grandes players de exportação de produtos florestais não madeireiros para países como Estados Unidos, União Europeia e Japão. Consumidores nos Estados Unidos e na Europa cada vez mais optam por cosméticos naturais e por medicamentos fitoterápicos, sendo um mercado melhor regulado e estabelecido.
Promovendo a manutenção não só de sua estrutura e funções ecológicas, como também a integralidade de sua biodiversidade, os PNMFs são uma alternativa de desenvolvimento com bases realmente sustentáveis para áreas onde ainda haja florestas. Além disso, é uma forma de tornar a floresta rentável e de valorizá-la ainda mais por isso.
É também uma atividade que valoriza e garante a continuidade de padrões culturais de povos e comunidades, funcionando como uma boa opção para complementar a renda familiar, aumentando o bem estar de povos e comunidades da floresta, considerando-se as espécies que têm mercado estabelecido ou em expansão. Desta forma, ele pode ser uma alternativa econômica que pode diminuir o êxodo rural.
Além das vantagens já mencionadas, também podemos citar: a geração de produtos de qualidade e exóticos, alguns deles com propriedades únicas e já com boa aceitação de mercado e a forma simples como o manejo pode ser feito (alguns dentro das próprias práticas de extrativismo que os povos e comunidades já conduzem).
Mas mesmo com tantos pontos positivos, devemos lembrar da preocupação com os riscos associados com o aumento de sua escala de produção, passando do uso de subsistência para uma escala comercial. Assim, é fundamental que se faça o manejo dessas atividades, de modo que se tenha o controle e a diminuição do impacto de sua extração sobre a floresta e sobre as populações. Para isso, é necessário que um técnico ou o empreendedor capacitado no assunto, esteja ciente de quais serão as práticas adotadas no manejo dos produtos não madeireiros e quais serão os produtos obtidos, considerando-os parte do agronegócio regional. Além disso, deverão ser considerados aspectos como: concorrentes; fornecedores de insumos; canais de distribuição; oscilação das demandas nos principais segmentos do mercado; e as expectativas que o cliente tem em relação ao produto esperado.
Levando em consideração todos os aspectos citados anteriormente, o tomador de decisão deve construir uma ampla base de dados, para que possa ponderar sobre os seguintes aspectos: mercado, manejo da espécie florestal, concorrentes, armazenamento/beneficiamento, qualificação da mão-de-obra, aspectos sócioculturais da comunidade, política econômica, política florestal nacional e regional, transporte da produção/acesso à área do manejo florestal e aspectos ambientais do manejo.
PFNMs no Brasil
Alguns produtos não madeireiros são velhos conhecidos, como é o caso da resina. O setor brasileiro de produção de resina ocupa uma posição de destaque no mercado mundial. A resinagem no Brasil teve início na década de 70, evoluindo de tal forma que, em 1989, o país passou da condição de importador para a de exportador destes produtos e de seus derivados. Tal reversão possibilitou não somente a redução de dispêndios, como passou a gerar divisas para o País. Outros velhos conhecidos são as ceras, látex, óleos essenciais e sementes.
É interessante observar como alguns desses produtos ganharam importância nos últimos anos. O açaí, por exemplo, que era tradicional na alimentação de apenas alguns estados do Brasil, vem se difundido rapidamente por todo o país. E a quantidade de cosméticos à base de babaçu, andiroba, castanha-do-pará e copaíba?
O potencial de PFNM’s no país vem crescendo conforme a demanda, o aumento da exploração de novos produtos não madeireiros em florestas ou do cultivo em Sistemas Agroflorestais. É enorme a quantidade de PFNM’s e os serviços oferecidos pelos biomas brasileiros a disposição das comunidades rurais que podem ser utilizados para diversos fins. Dentre os biomas, a Amazônia é o bioma que possui maior potencial para exploração de PFNM’s, devido a sua grande biodiversidade de espécies vegetais e animais, importância ambiental diferenciada em âmbito nacional e internacional, por conta da manutenção do clima no planeta, os serviços oferecidos como sequestro de carbono e proteção da sua biodiversidade.
Por fim, eu gostaria de dizer que escrevi este texto por sugestão de um leitor. Nós lemos todas as sugestões dos nossos leitores e elas são sempre bem-vindas. Assim, quando quiserem ver algum assunto no blog Mata Nativa, não deixe de nos escrever.
Referências
- EMBRAPA – EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. Manejo florestal não madeireiro em unidade de conservação de uso direto. Rio Branco: EMBRAPA, 2000. 4p. (Folheto).
- FIELDER, N. C.; SOARES, T. S.; SILVA, G. F. Produtos Florestais Não Madeireiros: Importância e Manejo Sustentável da Floresta. Revista Ciências Exatas e Naturais, Vol.10 nº 2, Jul/Dez 2008.
- MACHADO, F.S. Manejo de Produtos Florestais Não Madeireiros: um manual com sugestões para o manejo participativo em comunidades da Amazônia. Rio Branco, Acre: PESACRE e CIFOR, 2008.
- Central Florestal. Produtos Florestais Não Madeireiros. Disponível em: http://www.centralflorestal.com.br/2017/05/produtos-florestais-nao-madeireiros.html
- SHANLEY, P.; PIERCE, A.; LAIRD, S. Além da Madeira: certificação de produtos florestais não-madeireiros. Bogor, Indonésia: Centro de Pesquisa Florestal Internacional (CIFOR), 2005.
__________ xxx __________