Inventários florestais são geralmente baseados em dois métodos de amostragem: a amostragem com área fixa ou a amostragem com raio variável. Sabemos que a amostragem com áreas fixas (quadrada, retangular ou circular) vem sendo usada há mais de um século. Já o sistema de raio variável foi introduzido em 1947 por Bitterlich, que criou o termo Relascopia.
Neste texto serão abordadas algumas das particularidades deste método de amostragem, que polemizou pesquisadores da época visto que o método concebido permitia a estimativa da área basal de uma área sem a necessidade de estabelecer uma unidade de amostra, mas, principalmente, por não haver necessidade da medição direta do diâmetro, medida esta indispensável na amostragem de área fixa.
O início da Relascopia
Inicialmente utilizava-se uma bitola angular denominada de Barra de Bitterlich, que era mais indicada para áreas com superfícies planas, pois ao ser utilizado em áreas acidentadas requeria correções que tornavam o método mais demorado. Assim, Bitterlich trabalhou para desenvolver um instrumento capaz de eliminar este problema. Em 1949 ele criou então o termo Relascopia, cuja origem Rela do Latim significa contagem e Skopein do Grego significa olhar, que mostrou-se apropriado para expressar o método que avalia a área basal simplesmente olhando e contando, e no ano seguinte, Bitterlich patenteou o Relascópio de Espelho que corrigia as distâncias horizontais caso o terreno não fosse plano ao passo que media variáveis usualmente avaliadas nos inventários florestais.
Mais tarde, Bitterlich desenvolveu o Relascópio de Banda Larga que além de ter diversas possibilidades de ângulos teve alteração em relação às escalas complementares, trazendo mais alternativas para medições como alturas e diâmetros ao longo do tronco. Este novo Relascópio dava a possibilidade de medir diâmetros a diferentes alturas, porém esta medida mostrava-se acurada apenas para pequenas distâncias e pensando nesta limitação, Bitterlich desenvolveu na década de 70 o Telerelascópio que possui um telescópio acoplado que permite trazer o distante diâmetro para próximo do operador que pode então fazer medidas acuradas.
Usos do Relascópio
Originalmente, o Relascópio foi desenvolvido com a finalidade de facilitar a operacionalidade da teoria de amostragem por pontos, ou seja, obter estimativas da área basal por hectare. Mas ao passo que novos equipamentos eram desenvolvidos algumas escalas adicionais eram inseridas, aumentando o leque de medidas ou estimativas que poderiam ser obtidas pelas duas versões de Relascópio e pelo Telerelascópio.
As condições impostas pela floresta podem dificultar ou até mesmo não permitir obter os dados que buscamos, mas em geral, as três versões desenvolvidas por Bitterlich possibilitam obter as seguintes estimativas:
- Área basal por hectare;
- Número de árvores por hectare;
- Volume por hectare;
- Distâncias horizontais;
- Diâmetros em qualquer altura do troco;
- Alturas;
- Altura formal relativa e absoluta;
- Fator de forma;
- Ângulos de inclinação;
- Altura de Pressler.
Vejamos a seguir as características do Relascópio de Espelho, Relascópio de Banda Larga e do Telerelascópio.
O Relascópio de Espelho de Bitterlich
O Relascópio de Espelho de Bitterlich (REB) é também conhecido como Relascópio de Banda Estreita, tendo em vista que a segunda versão foi denominada de Relascópio de Banda Larga. Ambas as versões têm o mesmo protótipo e a mesma concepção teórica, diferindo apenas na escala.
O REB trata-se de um instrumento pequeno (13×6,5cm) e leve (400g), cujas escalas internas possibilitam várias medições dendrométricas. Apesar de poder ser usado no próprio punho, o ideal é utilizá-lo sobre um tripé para ter mais segurança nas medições.
Internamente, as escalas estão inseridas sobre uma armação circular em torno de um eixo, como um pêndulo. Ao olhar pelo visor do instrumento, o operador verá parte desta escala que corresponde à metade inferior do campo circular observado, sendo que na parte superior o operador verá a paisagem. A parte que separa esses campos visuais recebe o nome de Orla de Medida ou Linha Diretriz de Avaliação, sobre a qual se faz todas as medidas permitidas pelo instrumento.
Ao apertar o botão e mantendo-o pressionado, o pêndulo é liberado e oscilará até estabilizar por gravidade. Ao soltar o pêndulo é realizada a correção automática da distância horizontal devido a geniosa construção das escalas que afilam do centro para as extremidades. É no momento que ocorre a estabilização que devem ser feitas as medições sobre a Linha Diretriz de Avaliação. O REB possui as seguintes escalas:
– Escalas de enumeração: usadas para avaliar a área basal/há e também para medir diâmetros a diferentes alturas;
– Escala de distâncias horizontais: medem distâncias horizontais de 15, 20, 25 e 30m, necessárias para posterior medição de diâmetros a diferentes alturas e também para medir qualquer altura desejada.
– Escalas hipsométricas ou das tangentes: medem alturas para as escalas de distâncias horizontais de 20, 25 e 30m.
Relascópio de Banda Larga
Este segundo modelo de Relascópio foi produzido e direcionado para florestas que têm árvores de grandes diâmetros.
Externamente ambas as versões são iguais, e quando se observa pelo visor do banda larga, o campo de visão é igual ao REB, ou seja, é dividido em duas metades. Porém internamente o conjunto de escalas difere, permitindo a obtenção de informações adicionais à aquelas disponíveis no REB. A nova versão também dá novas alternativas para medir diâmetros devido à possibilidade de mais opções de distâncias horizontais (4, 6, 8,…., 20m) que foram inseridas ao longo das faixas, além de possibilitar a medição de desníveis em percentagem e graus, diretamente com as novas escalas inseridas, denominadas P e D.
Portanto, a nova versão apenas acrescentou novas alternativas sem maiores dificuldades.
Telerelascópio
Inicialmente, o Telerelascópio foi direcionado para realizar medições precisas de diâmetros a diferentes alturas por ter um dendrômetro capaz de realizar essa medição. Apesar desse objetivo específico ele pode realizar outras funções, como medir a área basal ou número de árvores por hectare.
O Telerelascópio é um instrumento bem distinto das duas versões anteriores apesar do seu mecanismo ser muito parecido. Este equipamento difere no manuseio, principalmente quanto ao sistema de escalas e unidades de medições. O aparelho possui o formato de uma câmera filmadora pequena, sendo leve como o Relascópio. Para seu manuseio é necessário o uso de um tripé, uma régua horizontal e uma cabeça basculante que dá ao Telerelascópio movimentos em três direções.
As escalas estão montadas sobre um tambor em forma de aro e o conjunto de escalas em todo seu comprimento. Acoplado ao equipamento encontra-se um telescópio com capacidade de aumentar o objeto de visada em até 8 vezes. Observando pela ocular, o campo visual é dividido em duas metades, assim como nos relascópios.
Inventários florestais e a Relascopia
Desde a proposição de sua teoria em 1947, Bitterlich divulgou seu método sempre adicionando novas alternativas que o tornavam mais completo e interessante, sem contar o desenvolvimento de novos instrumentos, métodos e técnicas que tornaram possíveis a obtenção de complexas estimativas de maneira eficiente.
Muitos pesquisadores têm comparado a amostragem de área variável com o método de área fixa ao longo dos anos, porém, em termos de Brasil, poucos inventários florestais são realizados adotando a Relascopia. Algumas empresas apenas empregam este método esporadicamente, porém seu uso poderia ser muito interessante para plantios que já possuem equações de povoamento ou para florestas naturais.
Ficou interessado sobre a Relascopia? Mais detalhes podem ser encontrados no próprio livro de Bitterlich intitulado The Relascope Idea, de 1984, que trata sobre todo o desenvolvimento da amostragem por pontos, bem como o desenvolvimento dos equipamentos.
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