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O Que Explica as Altas Taxas de Desmatamento no Cerrado?

Em 28 de novembro de 2023
O Que Explica as Altas Taxas de Desmatamento no Cerrado

Os dados atuais são preocupantes quanto o aumento do desmatamento no Cerrado. Diferentemente da Amazônia que diminuiu as taxas de desmatamento nos últimos meses, as taxas do Cerrado cresceram. O domínio cobre uma grande parte do Brasil Central, com mosaico de fitofisionomias. Além disso, o Cerrado fornece uma série de serviços ecossistêmicos, como o estoque de carbono, qualidade da água e do ar. Cabe ressaltar, que o domínio possui abundância de frutos, sementes, raízes, cascas que são largamente utilizadas pelas populações locais e tradicionais que vivem no entorno da vegetação. Assim, é indiscutível a importância do Cerrado para a conservação e para a sociedade. Portanto, o desmatamento ocasiona perdas substanciais para as pessoas e o meio ambiente, bem como intensifica as mudanças climáticas. Nesse contexto, deve-se entender as causas do desmatamento e propor alternativas iniciativas para frear a perda da vegetação do Cerrado. Logo, surge a pergunta, o que explica as altas taxas de desmatamento no Cerrado? Tal pergunta será respondida ao longo do texto.

Cerrado

O Cerrado é um domínio brasileiro que se estende por uma grande parte do território do Brasil, principalmente nas regiões centrais do país. O domínio cobre cerca de 25% do território nacional alcançando uma área entre 1,8 a 2 milhões de km². Dessa forma, o Cerrado é o segundo maior bioma do Brasil em área, perdendo apenas para a Floresta Amazônica. O domínio está distribuído nos estados de Goiás, Tocantins, Mato Grosso do Sul, sul do Mato Grosso, oeste de Minas Gerais, Distrito Federal, oeste da Bahia, sul do Maranhão, oeste do Piauí e porções de São Paulo.

O Cerrado possui uma biodiversidade única, com uma grande quantidade de espécies endêmicas e ameaçadas, tanto da flora quanto da fauna. Apesar disso, o Cerrado sofre com as atividades antrópicas, como agricultura, pecuária, especulação imobiliária, mineração que levam a abertura de áreas e aumento das taxas de desmatamento. Além disso, outras atividades impactam substancialmente o domínio, como a caça ilegal, incêndios criminosos, contaminação dos rios, e erosão dos solos. Tais fatos, levaram ao Cerrado a ser considerado como um dos hotspot mundiais para a conservação da biodiversidade.

O Cerrado é conhecido por apresentar árvores baixas e retorcidas, além de uma diversidade de plantas herbáceas, gramíneas e arbustos. No entanto, existem uma grande variedade de fitofisionomias, em virtude das diferentes formações vegetais associadas às variações do solo, clima e topografia. Dessa forma, cada tipo de fitofisionomia possui características específicas de flora e fauna, adaptadas às condições particulares de cada ambiente. Assim, as fitofisionomias vão desde campos, formações savânicas e áreas florestais. Cabe ressaltar, que as fitofisionomias não são mutuamente exclusivas e podem se sobrepor em determinadas áreas do Cerrado.

Importância do Cerrado

O Cerrado desempenha um papel crucial na manutenção do equilíbrio ecológico e na provisão de uma série de serviços ecossistêmicos essenciais. Além disso, o domínio abriga uma grande variedade de espécies de flora e da fauna, incluindo aves, mamíferos, répteis e insetos. Nesse sentido, o domínio possui uma grande importância para a conservação da biodiversidade e para a sociedade.

O Cerrado se situa nas principais bacias hidrográficas e abriga diversos rios mais importantes do país, sendo considerado a caixa d’água do Brasil. Portanto, pode-se considerar a regulação do ciclo hidrológico, um dos serviços ecossistêmicos mais celebres prestados pelo Cerrado. O domínio atua como um regulador natural do ciclo da água, contribuindo para a formação de importantes bacias hidrográficas. As características de solo e vegetação do Cerrado desempenham um papel imprescindível na infiltração e recarga de aquíferos, ajudando a manter a disponibilidade de água para rios e córregos. Além disso, o Cerrado atua como um sumidouro de carbono, contribuindo para a regulação do clima. A vegetação armazena grandes quantidades de carbono, ajudando a mitigar os efeitos das mudanças climáticas.

O domínio está localizado nas áreas centrais do Brasil, onde classifica-se relevo como plano e as terras são cultiváveis. Dessa forma, muitas áreas do Cerrado são utilizadas para a agricultura, sendo uma região crucial para a produção de alimentos no Brasil. Porém, práticas agrícolas sustentáveis são essenciais para frear o desmatamento e equilibrar a produção agrícola com a conservação do ecossistema. E por fim, o Cerrado é lar de várias comunidades indígenas e tradicionais, que dependem diretamente dos recursos naturais para sua subsistência. Além disso, o bioma é parte integrante da identidade cultural dessas comunidades.

Desmatamento no Cerrado

Infelizmente, a última estimativa do desmatamento do Cerrado atingiu um novo recorde. Estima-se que o Cerrado já perdeu cerca de 110 milhões de hectares, o que representa um total de 49% da cobertura original. Os últimos dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), mostraram que entre janeiro e novembro de 2023, já foram desmatados 7.125,73 km² do domínio. Tais informações, demonstraram que o ano de 2023 apresentou maiores taxas de desmatamento no Cerrado desde 2018, com um aumento de cerca de 30% quando comparado ao ano de 2022. Os estados que apresentaram maiores taxas de desmatamento foram o Maranhão seguido por Bahia, Tocantins e Piaui.

Fronteira Agrícola

Os estados citados fazem parte da região que é conhecida como o MATOPIBA, devido as iniciais desses estados. A região expandiu rapidamente a agricultura a partir da década de 1980 e hoje apresenta como uma fronteira agrícola. Nesse sentido, a região tem sido apontada como uma área de grande preocupação em relação ao desmatamento, devido a conversão das áreas naturais do Cerrado, em terras agrícolas. A agricultura da MATOPIBA se baseia especialmente para a produção de commodities como soja, milho e algodão. A cultura de grãos como estas necessitam de grandes áreas para o desenvolvimento. Além disso, na região existe uma antiga produção pecuária, que ocasiona na abertura de pastagens para a criação de gado, que muitas vezes resulta na derrubada de áreas extensas de vegetação nativa. Dessa forma, o desmatamento no MATOPIBA gera diversos impactos ambientais, incluindo a perda de biodiversidade, a degradação do solo e mudanças nos padrões climáticos locais.

Outros fatores

Outros fatores também ajudam a explicar o aumento do desmatamento do Cerrado. Dessa forma, uma delas é o crescimento das áreas urbanas e a expansão da infraestrutura, como estradas e rodovias, que contribuem para a fragmentação e degradação do Cerrado. A urbanização desordenada pode resultar na perda de habitats naturais e na degradação do solo. Além disso, a mineração com a exploração de recursos minerais, como minério de ferro, alumínio e fosfato, também é uma ameaça ao Cerrado. A mineração pode causar danos ambientais significativos, incluindo a destruição de habitats e a contaminação da água. A saber, os incêndios criminosos também ocasionam em diversos problemas. Embora o fogo seja uma parte natural do ciclo ecológico do Cerrado, o uso inadequado do fogo na agricultura e na pecuária, muitas vezes associado a práticas de manejo não sustentáveis, pode levar a incêndios descontrolados que contribuem para o desmatamento. O desmatamento no Cerrado tem impactos negativos significativos na biodiversidade, nos serviços ecossistêmicos, no ciclo da água e na regulação do clima. Além disso, muitas comunidades indígenas e tradicionais dependem diretamente dos recursos naturais do Cerrado para sua subsistência.

Biomas do Brasil

Principais desafios para combater o desmatamento

O combate ao aumento das taxas de desmatamento no Cerrado apresenta uma série de desafios, muitos dos quais são semelhantes aos enfrentados em outras regiões do Brasil. No entanto, existem algumas peculiaridades do Cerrado, que dificultam o combate ao desmatamento. Um dessas razões é a dificuldade em monitorar as autorizações de desmatamento. Em muitos casos, os órgãos ambientais locais emitem uma série de autorizações sem que haja o devido controle por parte do estado. Além disso, como já destacada, existe um maior desmatamento em determinadas regiões. Assim, o estado deve definir áreas prioritárias para o combate do desmatamento. Outro ponto indispensável é a criação de plano de ação contra o desmatamento. A saber, a Amazônia possui o plano desde 2004, sendo que foi suspenso durante o governo nos anos de 2019-2022. Enquanto, para o Cerrado, o plano foi lançado em outubro desse ano.

A expansão contínua da fronteira agrícola e as práticas associadas à agricultura e à pecuária intensivas contribuem significativamente para o desmatamento no Cerrado. Além disso, a pressão econômica para expandir a agricultura e a pecuária muitas vezes supera as considerações ambientais. A necessidade de equilibrar o desenvolvimento econômico com a conservação ambiental é um desafio crucial. Dessa forma, para enfrentar esses desafios, exige-se uma abordagem integrada que envolva ações governamentais eficazes, cooperação entre diferentes setores da sociedade, investimentos em tecnologias de monitoramento, desenvolvimento sustentável e a promoção de práticas agrícolas e pecuárias sustentáveis. Assim, a busca por soluções deve envolver uma colaboração efetiva entre governos, setor privado, organizações não governamentais e comunidades locais.

Iniciativas para combater o desmatamento

Diante do cenário atual do Cerrado, deve-se pensar em estratégias para combater as altas taxas de desmatamento. Para conseguir maior êxito, as iniciativas devem envolvem ações de governos, organizações não governamentais (ONGs), setor privado e comunidades locais. Assim, um dos principais pontos para o combate ao desmatamento é a criação de políticas e legislação ambiental que fortaleçam a conservação do Cerrado. Portanto, deve-se reforçar as leis ambientais existentes para o Cerrado. A saber, enquanto o Código Florestal obriga a criação de reservas legais que cobrem 80% da área na Amazônia, no Cerrado são apenas 20 a 35%. Além disso, deve-se aumentar a cobertura de áreas protegidas no domínio. Por exemplo, o Cerrado possui apenas 8,21% da sua área total com unidades de conservação. 

O conhecimento das ocorrências do desmatamento e focos de incêndios também permite o controle e ações mitigadoras dessas questões. Assim, a utilização de tecnologias de monitoramento por satélite permite o acompanhamento em tempo real das mudanças na cobertura vegetal. Além disso, o estado deve criar programas que oferecem incentivos econômicos para proprietários de terras que adotam práticas sustentáveis ou mantêm áreas de preservação. Por exemplo, o pagamento por serviços ambientais e certificações sustentáveis que são eficazes para o combate ao desmatamento.

Nesse contexto, as iniciativas devem abordar os desafios multifacetados associados ao desmatamento no Cerrado, promovendo a conservação do domínio enquanto consideram a necessidade de desenvolvimento econômico sustentável. Além disso, os esforços de conservação e sustentabilidade são fundamentais para proteger o Cerrado e garantir sua preservação a longo prazo. O reconhecimento da importância desse bioma para o equilíbrio ambiental e para a manutenção da diversidade biológica é essencial para garantir sua sobrevivência e o bem-estar das comunidades que dependem dos recursos naturais dessa região.

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Autor(a)

Engenheira e Mestre em Engenharia Florestal, atualmente doutoranda em Ecologia Aplicada. Possui experiência em Florestas de Mogno, onde tive o prazer de conhecer desde o plantio até o manejo das florestas e o consórcio do Mogno com café em áreas áridas do Norte de Minas. Além disso, tenho conhecimento em inventários florestais em diversas fitosionomias de Cerrado e coleta de informações funcionais de espécies e do solo na Mata Atlântica em fitosionomias Mistas e alagadas. Atuo no mapeamento remoto por meio do geoprocessamento de áreas da Mata Atlântica. Tenho interesse, principalmente, nas temáticas de conservação da biodiversidade, dinâmica da vegetação, mapeamento do uso e cobertura do solo, modelagem ecológica e estocagem de carbono.
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