Uma das áreas da Engenharia Florestal que tem se desenvolvido de forma significativa, principalmente nas últimas décadas, é a arborização urbana. Em suma, esta atividade surge como uma solução para os problemas estruturais das cidades, que crescem na mesma proporção que o desenvolvimento das cidades. Assim, a arborização apresenta um papel essencial na redução dos problemas da urbanização, seja no contexto social, ambiental ou estético. A seguir serão abordadas algumas vantagens da presença de árvores nos centros urbanos.
Regulação microclimática
A relação entre o clima e a vegetação é bastante próxima. Pensando em escala global, o clima pode influenciar a presença de vegetação, a distribuição de determinadas espécies, a composição dos ecossistemas, etc. Por outro lado, em escala local, o balanço de calor entre o espaço construído e a vegetação, é responsável por alterar as características do clima. Todos nós já sentimos o efeito que a sombra de uma árvore pode proporcionar no dia a dia. Por exemplo: quem nunca escolheu o lado mais arborizado da rua para andar em um dia quente? Ou então, na hora de estacionar o carro, buscou aquela vaga embaixo de uma árvore?
Nos centros urbanos é comum a ocorrência de ilhas de calor. A saber, essas ilhas são formadas pela união das construções com materiais de alta capacidade térmica, impermeabilização do solo e aquecimento pela queima de combustíveis fósseis. Nesses locais existe uma grande absorção e emissão de calor e baixa dissipação. Assim, a presença de vegetação nessas áreas tem a capacidade de: dissipar o calor, pela reflectância das folhas; reduzir a incidência da radiação no solo, pela sombra; absorver materiais poluentes, por meio da fotossíntese; e regular a umidade do ar, pela evapotranspiração; gerando um microclima mais agradável aos seres humanos.
Estudos realizados em Curitiba pela UFPR encontraram uma redução na temperatura de 1,8 a 3,9 °C, comparando áreas arborizadas e não arborizadas. Também, estudos na Argentina e Alemanha comprovaram uma regulação de 5% da umidade relativa do ar em áreas arborizadas.
Redução da frequência e intensidade de enchentes
Um dos grandes problemas nas cidades são as enchentes. Estes eventos ocorrem quando há um volume muito grande de chuva e as galerias pluviais não dão conta de escoar toda a quantidade de água. Tal fato ocorre tanto por entupimento das galerias pluviais quanto pelo mau planejamento ou eventos climáticos extremos.
Em centros urbanos com grandes níveis de impermeabilização, o problema das enchentes pode ser ainda pior. A impermeabilização do solo é causada principalmente pelo asfalto ou outros materiais que impedem a infiltração da água no solo. Quando a água não encontra locais para infiltrar no solo, ela escoa superficialmente até encontrar um bueiro. Se ocorrer desse bueiro estar entupido ou saturado, a água continua escoando para os locais mais baixos até encontrar o rio, podendo causar as enchentes.
Um bom planejamento de praças, parques e a presença de árvores nas calçadas com um canteiro permeável, compatível com o seu desenvolvimento, pode atenuar os problemas de enchentes em uma cidade. Isso porque a vegetação auxilia na absorção e infiltração de água de diferentes formas. No caso das chuvas, o primeiro contato entre a vegetação e a água se dá na copa, pela intercepção da água da chuva nas folhas. Em um segundo momento, ocorre também, a infiltração da água no solo e absorção da água pelas raízes. Quanto maior a quantidade de árvores nas ruas, menor será a quantidade de água escorrida superficialmente e menor a intensidade e frequência de enchentes.
Redução da poluição atmosférica
A poluição do ar nas cidades ocorre pelos gases emitidos durante a queima de combustíveis fósseis e pelo material particulado disperso, chamado de fuligem. A arborização urbana pode melhorar a qualidade ambiental retendo o material poluente disperso e também fixando carbono e convertendo outros gases poluentes.
O processo de retenção do material particulado ocorre pela deposição da fuligem na folha ou na casca das árvores. Quando depositada na árvore, a fuligem é lixiviada pela chuva, reduzindo a quantidade de material suspenso na atmosfera. Já a absorção dos gases poluentes ocorre durante a fotossíntese, pela fixação/estoque do carbono (CO₂), e também absorção de outros gases poluentes como ozônio (O₃), dióxido de enxofre (SO₂), entre outros.
Aspectos econômicos associados
A melhoria ambiental proporcionada pela arborização urbana também impacta nos fatores econômicos das cidades. Isso porque a melhoria do microclima, resultante da evapotranspiração, fotossíntese e da redução da radiação incidente no solo pela sombra, apresenta grande influência sobre o consumo de energia elétrica, já que em locais com microclima equilibrado, a necessidade de resfriadores artificiais, como os ventiladores e aparelhos de ar condicionado, é menor. Nesse sentido, pesquisas confirmam que arborização urbana é responsável pela economia de US$101 milhões de dólares em refrigeração por ano na Califórnia. Além disso, no verão, espaços arborizados apresentam uma redução de 40% no consumo de energia elétrica.
Outro fator econômico influenciado pela arborização urbana é a valoração imobiliária. Como as áreas arborizadas apresentam melhor qualidade de vida para população, elas influenciam diretamente o valor dos imóveis. Imóveis em bairros arborizados tem maior valor agregado, quando comparado a bairros não arborizados. Por exemplo, na Califórnia, a arborização dos bairros contribuem com um aumento de US$838 milhões de dólares sob o valor dos imóveis. De modo geral quanto maior o número de árvores por habitantes, maior o valor dos imóveis.
A melhoria na qualidade de vida
Além dos aspectos de melhoria ambiental citados anteriormente, outros aspectos sociais estão atrelados à melhoria da qualidade de vida proporcionada pela arborização. A arborização urbana, principalmente em praças e parques, incentiva a prática de atividades físicas ao ar livre. Essas práticas, por consequência, reduzem a ocorrência de doenças causadas pelo sedentarismo, por exemplo, as doenças cardiovasculares e respiratórias. Outras pesquisas também associam à qualidade psicológica, em que pacientes expostos frequentemente a ambientes arborizados, apresentam menor índice de depressão. Outro fator associado foi a redução da dosagem de medicamentos para o transtorno do déficit de atenção com hiperatividade para pacientes expostos à arborização.
O inventário da arborização urbana
É importante ressaltar todos os benefícios associados à arborização para lembrar a população que as árvores de ruas não são um “problema”. Infelizmente muitas cidades apresentam uma arborização desordenada, sem planejamento e monitoramento, o que gera na população um sentimento de descaso. Por isso, atualmente, muitas cidades brasileiras têm adotado a elaboração dos Planos Municipais de arborização urbana, a fim de garantir a qualidade da arborização pelo bem-estar ambiental, social e ecológico.
Entre as etapas que envolvem os Planos Municipais de arborização urbana está o inventário e diagnóstico, realizado de forma parecida com o inventário convencional. Entretanto, vale lembrar que a arborização urbana não tem objetivo comercial. Assim, as variáveis mensuradas no inventário da arborização urbana incluem as características dendrométricas e do meio físico. Para a dendrometria são avaliadas, por exemplo, a espécie, altura total, diâmetro à 1,30 metros do solo (DAP), altura da inserção de copa e tortuosidade do tronco. Para as características do meio físico, avalia-se a localização da árvore, posição da mesma na calçada e distâncias dos mobiliários urbanos.
O software Mata Nativa é uma ótima solução para mensuração dos dados dendrométricos da arborização urbana. Com o software é possível otimizar o tempo de coleta e processamento, reduzir a quantidade de equipamentos utilizados, já que é possível mensurar a altura com o próprio APP no celular. Além disso é possível também calcular a intensidade amostral, e o melhor, todos os seus dados ficam salvos em formato digital.
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