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Biodiversidade em Sistemas Silvipastoris Autóctones

Em 11 de janeiro de 2025

Os Sistemas Silvipastoris Autóctones (SSA) são sistemas produtivos instalados a partir de diferentes motivações e baseados em inúmeras premissas (colocar link do texto de critérios de seleção). Nesses sistemas, diversos serviços ecossistêmicos de regulação, provisão e cultural podem ser obtidos em quantidades e arranjos variáveis. Entretanto, por manter prioritariamente espécies nativas em seu componente arbóreo, os serviços de preservação e regulação da biodiversidade são uns de seus maiores benefícios.

Sistemas Produtivos e Biodiversidade

Paisagens produtivas montadas como Sistemas Silvipastoris podem abrigar níveis variáveis de diversidade dos diferentes grupos de organismos, e por isso são mais biodiversas que sistemas de uso intensivo da paisagem. A variação desses componentes pode ser influenciada por um conjunto de fatores interligados, mas geralmente a intensidade de uso é o maior impulsionador da perda de diversidade. Assim, a composição e diversidade de espécies herbáceas de pastagens costuma apresentar uma maior biodiversidade quando conduzidas com práticas de manejo pouco intensivas. Além disso, em diferentes paisagens antropogênicas, o grau de isolamento da matriz de cultivo e sua distância até os ambientes florestais modulam a riqueza de espécies vegetais e de insetos, e até mesmo de vertebrados.

Em Sistemas Silvipastoris Autóctones, diferentes espécies de árvores remanescentes influenciam de forma variável a diversidade da macrofauna nos solos, como demonstrado para o sul da Amazônia brasileira. Isso demonstra que a diversidade vegetal e pedobiologia são altamente relacionadas. Sistemas agroflorestais e SSA também são capazes de manter a riqueza, abundância e diversidade da pedofauna em níveis semelhantes a sistemas de referência com baixos níveis de influência antrópica. Adicionalmente, altos valores de diversidade vegetal em pastagens produzem efeitos positivos. Entre esses feitos estão a maior produção líquida do ecossistema, aumento da resistência e resiliência, produção de forrageira para os animais e prestação de outros SA de provisão. Neste contexto, sistemas de pastagens com maior diversidade possuem uma produtividade mais estável. Portanto, fornecem maior segurança ao agricultor quanto à tomada de decisão na gestão da fazenda, incluindo a comercialização dos seus produtos e SA.

A partir da relação estabelecida com a diversidade vegetal, os indicadores de degradação de pastagens podem ser utilizados como medidas de Serviços A derivados da diversidade arbórea. Assim, a biodiversidade nas pastagens é responsável por impulsionar a disponibilidade dos demais tipos de serviços ecossistêmicos. De modo geral, fatores como endemicidade e raridade são considerados em abordagens em que a diversidade é avaliada pela riqueza de espécies de grupos faunísticos-chave. As aves podem ser o principal indicador, principalmente pela sua facilidade de observação, e podem ser complementadas por estudos de borboletas, formigas e moluscos. Adicionalmente, a flora em sistemas integrados de produção é comumente avaliada com métricas de riqueza e diversidade. Um exemplo é o Índice de Diversidade de Shannon-Weaver, pois são indicadores de fácil obtenção e que resumem informações complexas.

Disponibilidade de hábitat

A perda e fragmentação de habitats naturais têm sido apontadas como os principais fatores para a perda de biodiversidade global. Paisagens de uso antrópico intensivo podem ter taxas muito baixas de conectividade entre os fragmentos remanescentes de vegetação nativa, influenciando a dinâmica comunitária de diferentes grupos da fauna. Portanto, árvores remanescentes ou plantadas em sistemas como os SSA são capazes de aumentar a conectividade da paisagem. Um dos SA promovidos por essas árvores para conservar a biodiversidade é a provisão de hábitat alternativo para a fauna nativa. Assim, os componentes florestais em paisagens altamente antropizadas, como parques urbanos, plantações agrícolas e árvores isoladas, podem impulsionar a riqueza de espécies de aves residentes e migratórias. Além disso, essas áreas também favorecem a diversidade de mamíferos, contribuindo para a conservação da fauna.

Diferentes variáveis estão relacionadas com a quantidade e a qualidade de hábitat disponível para o forrageamento dos animais e podem ser medidas para avaliar a qualidade e disponibilidade de hábitat. Muitas espécies vegetais oferecem recursos alimentares para animais, o que é um grande indicativo de qualidade de hábitat. Portanto, o número de espécies arbóreas consumidas pelos animais pode ser avaliado para determinar a interação com a fauna. Além disso, o componente arbóreo, sobretudo as copas – que funcionam como poleiros – é utilizado como ambiente de refúgio, descanso, forrageamento, acasalamento e nidificação. Nesse contexto, a composição de espécies, estrutura da comunidade, densidade e tamanho das árvores influenciam a distribuição, comportamento e reprodução de aves, por exemplo.

Por outro lado, a própria comunidade faunística pode ser avaliada para determinar a qualidade dessa disponibilidade. Isso poe que os atributos da fauna refletem não apenas a disponibilidade, mas como os animais estão acessando esses recursos. Por exemplo, o estudo da riqueza e diversidade de aves e mamíferos associados a sistemas arbóreos remanescentes como parques urbanos, SSA e fragmentos de diferentes tamanhos, são medidas para verificar a adequabilidade de habitat disponível. Além disso, as condições fisiológicas e comunitárias de aves podem determinar a qualidade de habitats oferecidos por florestas e plantações de dendezeiro em paisagens agrícolas.

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Polinização e Diversidade de Abelhas

Os serviços de polinização ocorrem nas diferentes áreas que abrigam componentes vegetais. Embora sejam essenciais para a manutenção dos ecossistemas, esses serviços podem ser subestimados pela falta de estudos ou de valoração para Pagamento por Serviços Ambientais (PSA). Diversos fatores relacionados ao regime e intensidade de manejo, composição da paisagem, tamanho e riqueza de espécies vegetais do sistema, distância até uma área florestal, diversidade da paisagem, mudanças da comunidade vegetal circundante e características pedotopográficas influenciam a composição de espécies de abelhas e outros polinizadores. Assim, paisagens altamente antropizadas e distantes de habitats naturais ou seminaturais tendem a experimentar uma diminuição na intensidade e qualidade dos serviços de polinização.

Em paisagens agropecuárias de uso intenso, como os SS, a polinização é prioritariamente estabelecida por abelhas. Entretanto, várias plantas cultivadas e árvores nativas dependem da polinização realizada por outras espécies de polinizadoras selvagens. Assim, a riqueza de espécies vegetais é intimamente relacionada não somente à riqueza de abelhas, mas também ao número de espécies de outros polinizadores. A relação mutualística entre estes dois grupos de organismos é baseada na disponibilidade de alimento (pólen e néctar) para as abelhas. Em contra partida, elas favorecem a polinização e reprodução das espécies vegetais. Portanto, o aumento da conectividade paisagística e da abundância de plantas disponíveis para a polinização impulsionam melhorias quali-quantitativas desse Serviço Ambiental.

A oferta da polinização como um Serviço Ambiental pode ser analisada de diferentes formas para programas de PSA. A avaliação da taxa de visitação dos polinizadores é uma variável amplamente utilizada para determinar o sucesso da polinização e é obtida com observações de campo. Adicionalmente, a riqueza de abelhas e outros polinizadores pode ser uma medida indireta de polinização. Essa métrica pode ser obtida de forma direta, através da contagem de espécies na área, utilizando diferentes metodologias de captura e coleta dos insetos.

Por fim, métodos de modelagem baseados em análises de regressão podem ser utilizados para determinar a riqueza a partir de variáveis independentes que afetam a comunidade de abelhas. Em última análise, uma forma mais efetiva de medir os serviços de polinização é através da mensuração da produção agrícola (frutos e sementes, por exemplo). Isso é possível pelo fato de que essa produtividade é fortemente influenciada pelo declínio da diversidade e intensidade da polinização natural.

Banco genético

O arranjo espacial do componente florestal em paisagens altamente fragmentadas tende a reduzir a diversidade genética das árvores. Nesse contexto, prevalecem grupos filogenéticos com características relacionadas à adaptação e resistência às perturbações. Entretanto, o aumento e interação da conectividade da paisagem e da disponibilidade de hábitat favorecem a regeneração de espécies florestais nativas. Isso assegura o fluxo e conservação gênicos, tanto de comunidades vegetais como animais. No Sul da Amazônia Brasileira, são conduzidos SSA com alta riqueza de árvores remanescentes. Essas árvores resguardam exemplares das populações nativas, os quais podem ser utilizados para resgate genético. Assim, sistemas de pastagens seminaturais como os Sistemas Silvipastoris Autóctones, podem abrigar uma alta diversidade genética, quando comparadas a paisagens agropecuárias tradicionais.

O componente arbóreo em pastagens pode ter diversas origens, como árvores remanescentes, plantadas em diferentes arranjos ou oriundas da invasão de espécies oportunistas. Essa variedade de origens faz com que a preservação de espécies arbóreas em sistemas de pastagem possibilite o fornecimento de recursos genéticos. Tais recursos podem ser utilizados para o melhoramento de plantas cultivadas, o que é de importância intangível para a humanidade e, portanto, de difícil mensuração.

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Autor(a)

Técnico Florestal pelo Instituto Federal de Rondônia e Engenheiro Florestal pelo Instituto Federal de Mato Grosso. Desde o início de sua carreira sempre apresentou entusiasmo pela parte de taxonomia, botânica e dendrologia. Durante a graduação conduziu estudos sobre a vegetação de Cerradão na Região de Cáceres – MT, onde atuou como consultor em botânica e dendrologia, colaborando na elaboração de laudos fitossociológicos. Participou de inventários florestais para pesquisas no Cerrado, trabalhando principalmente com estrutura de comunidades arbóreas. Mestre em Ciência Florestal pela Universidade Federal de Viçosa, onde atualmente é doutorando, com concentração na área de Manejo Florestal, desenvolvendo sua pesquisa sobre a distribuição e modelagem do estoque de carbono em florestas secundárias da Mata Atlântica na Zona da Mata Mineira.
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