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Bioeconomia no Contexto Florestal

Bioeconomia no Contexto Florestal

O atual modelo de produção e consumo, denominado economia linear, promove a exploração dos recursos naturais e seu rápido descarte. No entanto, é consenso que tal prática é insustentável. Nesse sentido, surge a bioeconomia. Considerado um conceito recente, a bioeconomia visa promover o desenvolvimento sustentável a partir do uso de recursos biológicos renováveis, de maneira mais eficiente e com menor emissão de gases do efeito estufa.

O conceito de bioeconomia

O uso do termo “bioeconomia” iniciou-se com Georgescu-Roegen, onde o autor aponta a natureza como um limitante do processo econômico. Em outras palavras, não há meios de produzir, se há falta de recursos. Portanto, a utilização de tecnologias que reduzem os recursos não renováveis é considerada inviável.

Apesar de ser um conceito já difundido, segundo relatório do BNDES (2018), ainda não há definição única para bioeconomia. No mesmo relatório é apresentada a definição dada durante a Convenção sobre a Diversidade Biológica (1992). Assim, a designação de bioeconomia é “qualquer aplicação tecnológica que utilize sistemas biológicos, organismos vivos ou derivados para fabricar ou modificar produtos”. Ademais, o documento apresenta a definição segundo a Comissão Europeia (2012), sendo bioeconomia a: “produção a partir de recursos biológicos renováveis da terra, água e mar, assim como dos resíduos de processos produtivos e sua conversão em alimentos, rações […]”.

Hoje, o termo bioeconomia atrela-se à biotecnologia. De acordo com Faria e Pires (2020), prevê-se que até 2050 a população chegará a 9 bilhões. Consequentemente, haverá o aumento da demanda de bens, produtos e serviços advindos do meio ambiente. Contudo, visando reduzir a pegada ecológica, desponta-se “uma bioeconomia orientada pela inovação”. Nesse sentido, promove-se a conservação dos recursos naturais ao passo que prospera economicamente.

Abordagens da bioeconomia

Apesar do parâmetro geral do conceito de bioeconomia, observa-se que, em contextos diversos, o termo pode apresentar diferentes significados. A exemplo, em países industrializados, o termo é mais associado a redução de emissão de gases do efeito estufa e a transição da matriz energética do que a conservação de recursos biológicos.

De acordo com o estudo realizado pelo projeto Nova Economia da Amazônia (2022), as definições de bioeconomia se classificam em três abordagens, sendo:

  • Biotecnológica;
  • Biorrecursos;
  • Bioecológica.

A bioeconomia biotecnológica tem como objetivo o crescimento econômico e a geração de empregos. Aqui, o atendimento aos critérios de sustentabilidade é secundário. Em síntese, promove um modelo tecnológico e produtivo e, por isso, é considerada uma abordagem de sustentabilidade fraca (Vivien et al. 2019 apud Costa et al. 2022).

Já a bioeconomia de biorrecursos apresenta maior equilíbrio entre crescimento e sustentabilidade. Segundo o estudo supracitado, tal abordagem baseia-se na introdução de produtos da natureza como redução e aproveitamento de resíduos. No entanto, também é considerada uma abordagem de sustentabilidade fraca pela produtividade se sobressair à conservação do ecossistema, por exemplo, em função da pressão sobre o uso do solo.

Por fim, na bioeconomia bioecológica, o atendimento aos critérios de sustentabilidade deve se sobrepor aos econômicos. Aqui, os processos visam a promoção da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos, além da prevenção da degradação do solo. Nesse sentido, têm-se práticas orgânicas e ecológicas. Portanto, esta visão é classificada por Vivien et al. (2019) como uma abordagem de sustentabilidade forte.

Aplicação no contexto florestal

A bioeconomia é vista como estratégia para enfrentar problemas globais, como a fome e as mudanças climáticas. Dessa maneira, o Brasil se desponta como uma potência para promoção da bioeconomia, visto sua biodiversidade riquíssima, dimensão continental e variabilidade climática.

A aplicação da bioeconomia pode ser observada em produtos que utilizam recursos biológicos. No Brasil, os maiores exemplos são o etanol e o biodiesel, além da produção de bioinseticidas, bem como de soja, milho e algodão. Nesse sentido, este processo destaca-se ainda, pela capacidade de viabilizar a abordagem bioecológica.

Posto a gama de aplicações da bioeconomia, pontua-se a valorização das florestas brasileiras. A maioria dos estudos sobre a temática envolvem a aplicação da bioeconomia no contexto florestal amazônico. Segundo Strand et al. (2018), a floresta amazônica mantida em pé tem um valor de US$ 7 trilhões. Contudo, a valorização não deve ser restrita somente a tal floresta.

As florestas tropicais são provedoras de serviços ecossistêmicos. Sobretudo as nacionais, são as mais biodiversas do mundo. Em vista disso, os processos produtivos devem considerar a diversidade dos recursos naturais e estratégias possíveis, fomentando a economia local e regional.

De acordo com Costa et al. (2022), “a conservação do ativo florestal deve ser prioridade dentro de qualquer modelo de crescimento econômico”. Cabe ressaltar também a relevância da mediação sociedade-natureza. Em suma, é preciso reconhecer que além da floresta viva, importam-se as pessoas que vivem dela e com ela, bem como seus saberes. Dessa forma, é necessário integrar as comunidades, cooperativas e lideranças locais para uma prática mais sustentável.

Bioeconomia x Economia Circular

A bioeconomia é a prática de produção sustentável e eficiente a partir de recursos renováveis. Portanto, pensa-se em novas propostas de produção que explorem menos o meio ambiente. Já a Economia Circular visa o fim da sociedade do descarte, reduzindo a extração de matérias-primas da natureza e a destinação de resíduos com potencial de uso.

Dado o contexto, é justo dizer que a bioeconomia e economia circular são alternativas econômicas atuais que se complementam. Desse modo, traz circularidade aos processos e gera menor impacto negativo ao meio ambiente. Com a possibilidade de integração, nota-se a oportunidade de produzir com matéria-prima renovável, limpa e com menor emissão de gases do efeito estufa.

Estratégias para o futuro

Constantemente, expõem-se as necessidades de rever os modos de produção para manter o equilíbrio do meio ambiente e as condições climáticas atuais. Aqui, destaca-se a bioeconomia como uma prática de fomento à sustentabilidade. Cabe, então, fortalecer as atividades de bioeconomia e incentivar pesquisas na área, para que assim, se expanda. Ao que parece, apesar da conceituação do termo ser recente, as suas práticas, não são. E o Brasil, bem como suas florestas, se destacam por suas contribuições já feitas e as com potencial para se desenvolver. Em suma, este processo se dá em apoio ao futuro.

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Autor(a)

Licenciada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI), professora de Ciências da rede pública e redatora do Mata Nativa. Guiada pelos pilares da sustentabilidade, acredito que a Educação Ambiental seja a chave para a transformação e formação de cidadãos mais críticos e engajados com as pautas ambientais. Atuei com o desenvolvimento de planos setoriais urbanos e criação de cursos para comunidades tradicionais. Também participei de projetos de extensão, organizações não governamentais e dediquei-me a realizar pesquisas sobre Unidades de Conservação e Educação Ambiental.
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