As mudanças climáticas se definem como alterações nos padrões de temperatura e precipitação. Nos últimos anos, tais alterações são cada dia mais evidentes. Nesse sentido, faz-se necessário a criação e estabelecimento de estratégias que visem a diminuição dos efeitos das mudanças climáticas. Tendo em vista o cenário e a busca por soluções, políticas públicas, normas, decretos, leis e relatórios são elaborados com o intuito de guiar para ações efetivas. A exemplo, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) tem atuado no monitoramento das mudanças climáticas globais. A saber, a sexta edição do relatório de avaliação do IPCC (AR6) já teve sua publicação realizada.
O que é IPCC?
IPCC é uma sigla em inglês que faz menção ao Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas. Em suma, o painel representa uma equipe de profissionais e cientistas que tem como principal atribuição monitorar e fornecer subsídios sobre as questões globais relacionadas às mudanças climáticas. Ressalta-se que, os membros do IPCC são estabelecidos pela Organização das Nações Unidas.
Durante a década de 1950, foram realizadas observações sobre a previsão do aquecimento global antropogênico. A partir disso, diversos cientistas começaram a discutir a temática e, em 1979 ocorreu, em Genebra na Suíça, a Primeira Conferência Climática Mundial, a qual proporcionou o primeiro encontro de discussão sobre o tema. Após esse encontro, outros vieram a acontecer, e dessa forma, percebeu-se a necessidade da criação de um órgão para regulamentar as mudanças climáticas. No entanto, somente em 1988, na Conferência em Toronto, que se criou o IPCC mediante uma ação conjunta da Organização Meteorológica Mundial (OMM) e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
Por que foi criado o IPCC?
A saber, o objetivo da criação do IPCC está centrado no fornecimento de informações no que concerne as mudanças do clima e quais são as implicações, impactos e riscos que tal evento pode ocasionar. Além disso, o relatório de avaliação do IPCC tem como intuito estabelecer e propor estratégias para a mitigação dos problemas. Atualmente, a entidade conta com a participação de 196 países membros, incluindo o Brasil.
Cabe ressaltar que, o IPCC não tem uma produção de pesquisa própria. Contudo, a entidade realiza um copilado de trabalhos e os avalia, interpretando os achados e implicações de cada pesquisa no que diz respeito ao clima. Assim, a partir de tais análises, produz e sintetizam-se as informações a serem disponibilizadas. Em síntese, os relatórios são produzidos por cientistas de diferentes países, possuindo, inclusive, representantes do Brasil.
A nível mundial, considera-se o IPCC como a maior e principal entidade em relação ao aquecimento global. Dessa forma, considera-se esta autoridade como uma das principais fontes para a elaboração de políticas sobre o clima, tanto em nível mundial quanto nacional.
Como surgiu o IPCC?
O IPCC surgiu em 1988, a partir de discussões sobre o tema. Em julho deste ano, estabeleceu-se a proposta de criação da entidade na Conferência em Toronto, no Canadá. Nessa ocasião, cientistas focados em trabalhos sobre gases de efeito estufa estavam presentes. Contudo, tais pesquisadores não tinham autonomia para impor qualquer que fosse a recomendação, uma vez que eles não tinham representatividade oficial.
No referido ano, em razão das ondas de calor que ocorriam nos Estados Unidos, o Senado realizou uma reunião com cientistas, buscando por explicações. Assim, na oportunidade, James Hansen, um renomado climatologista, apresentou um relatório sobre os gases de efeito estufa e aquecimento global.
A partir desses eventos e estudos, neste mesmo ano, no mês de dezembro, em conjunto com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, foi formalizado a criação do IPCC na Assembleia Geral das Nações Unidas.
Como o IPCC é dividido?
O IPCC desenvolve relatórios e avaliações sobre clima de forma corriqueira. Para a construção e validação dos estudos, a entidade possui três grupos de trabalho. Basicamente, o Grupo de Trabalho I se direciona para a avaliação das questões científicas do sistema climático e de mudança climática. O Grupo II tem como intuito avaliar a vulnerabilidade dos sistemas socioeconômicos e naturais frente às mudanças climáticas, assim como quais são os efeitos negativos. Por fim, o Grupo III concentra-se na avaliação de estratégias que envolvam uma limitação ou até mesmo que evite as emissões de gases do efeito estufa. Para tanto, os procedimentos realizados pelo Grupo III envolvem os sistemas econômicos, seja de energia, indústria, agricultura, manejo de florestas e resíduos.
Em síntese, o Grupo I estuda a relação das ações humanas com as mudanças climáticas; o Grupo II estuda as consequências impostas pela mudança do clima, tanto para com o meio ambiente quanto para com a sociedade; e, o Grupo III avalia as melhores alternativas para combater as mudanças climáticas.
Quais são as funções do IPCC?
Desde a sua criação, em 1988, o IPCC publica documentos e pareceres técnicos. Em outras palavras, o painel tem como função produzir e fornecer informações científicas sobre as mudanças climáticas. No entanto, tais informações devem ser viáveis para os governantes em todo o mundo. Afinal, tais dados são de relevância para a elaboração de políticas climáticas.
Ademais, as informações advindas do relatório de avaliação do IPCC são fontes essenciais nas negociações internacionais sobre mudanças climáticas.
O que diz o relatório de avaliação do IPCC?
O primeiro relatório emitido pelo IPCC surgiu em 1990. Também conhecido como AR, o documento tem como nome Relatório de Avaliação. No ano e documento supracitado, o AR incluía pareceres que impulsionaram a criação da Convenção do Quadro das Nações Unidas para Mudanças do Clima (UNFCC, em inglês).
Em sua sexta edição, os demais relatórios foram publicados nos anos de 1995, 2001, 2007, 2013/2014 e 2021/2022/2023. Tais documentos podem ser acessados no site do IPCC.
Principais pontos de cada relatório
Como mencionado acima e em acordo com os grupos de trabalho, o relatório se subdivide em três etapas. Em 2021, o IPCC emitiu a primeira parte do Sexto Ciclo de Avaliação (AR6), no qual trata sobre o impacto das ações humanas no aumento da temperatura na Terra. O relatório aponta que as atividades antrópicas são responsáveis pelo aumento da temperatura no planeta. Além disso, o documento destaca que parte das ações antrópicas apresentam consequências irreversíveis. Ainda sobre o relatório de 2021, os estudos apontaram que 1,07°C do aumento da temperatura do planeta é decorrente das ações do homem.
Ao considerar um aumento contínuo da temperatura, espera-se que os eventos climáticos extremos sejam cada dia mais frequentes. A exemplo, do que já se vivencia na atualidade, cita-se as ondas de calor, chuvas e secas intensas, inundações, dentre outros.
A segunda etapa, publicada em fevereiro de 2022, retrata sobre como se deve lidar com o aquecimento global. Em outras palavras, o documento traz informações quanto aos impactos das alterações climáticas, a vulnerabilidade global, bem como quais são as alternativas de adaptação.
A última etapa, publicada no dia 20 março de 2023, é um relatório síntese do Sexto Ciclo de Avaliação (AR6). O documento dimensiona as perdas das mudanças climáticas e quais as perspectivas para o futuro. Além disso, o relatório mostra que a temperatura já está 1,1 °C acima dos níveis pré-industriais. Essas constatações mostram que as mudanças estão afetando de forma mais contundente os ecossistemas mais sensíveis, como manguezais, e as pessoas que estão em condições mais vulneráveis. Nesse sentido, o documento traz alternativas, as quais veremos algumas a seguir, para mitigar as mudanças climáticas.
O que deve ser feito?
O pontapé inicial para diminuição dos impactos oriundos das mudanças climáticas se dá a partir de ações e políticas que visem a redução de emissão de gases de efeito estufa. Segundo o relatório, aproximadamente 3,3 bilhões de pessoas estão dentro da classe altamente vulnerável às mudanças climáticas. Assim, deve se estabelecer incentivos para a diminuição de gases de efeito estufa.
Para alcançar as metas estabelecidas no Acordo de Paris (não permitir o aumento da temperatura acima de 1,5 °C dos níveis pré-industriais), o AR6 propõe medidas urgentes e necessárias. Como exemplo, a utilização de forma ampla das energias limpas, transporte com baixa emissão de carbono, aumento do financiamento ao combate das mudanças climáticas, participação ativa dos governos e do G20 (Grupo dos Vinte).
De forma geral, deve-se criar urgentemente políticas, leis e normas que visem a diminuição da degradação ambiental, assim como intensificar as fiscalizações. Além disso, recomenda-se elaborar alternativas para erradicação do desmatamento e, consequentemente, diminuir as emissões de carbono, este que é um dos principais gases que contribuem para o aumento do efeito estufa. A exemplo de estratégias, fazer uso de fontes renováveis para geração de energia.
Implicações das mudanças climáticas
O acelerado processo de urbanização e industrialização traz consequências diretas ao meio ambiente. Tendo em vista a demanda por bens, produtos e serviços, o homem possui forte influência nas alterações atualmente impostas ao meio ambiente. Por exemplo, o uso desenfreado dos recursos naturais, desmatamento, incêndios ou poluição, uma vez que tais ações implicam em mudanças na biodiversidade e estrutura das florestas. Consequentemente, as alterações no meio ambiente possuem relação direta com as alterações no clima. A depender da atividade antrópica realizada, os danos ao meio ambiente e bem-estar da sociedade é irreversível.
O relatório de avaliação emitido pelo IPCC aponta que o aquecimento global pode ocasionar em consequências drásticas, até mesmo para nações que não possuem uma alta taxa de emissões de gases do efeito estufa. A exemplo, tem-se Tavalu, uma ilha situada no meio do Oceano Pacífico. Em consequência de tais eventos, a ilha pode desaparecer devido ao aumento do nível do mar.
Os eventos climáticos extremos se fazem cada dia mais evidentes, sendo um alerta do IPCC. Estes fenômenos possuem impacto direto nos quesitos ambiental, social e econômico. A não regulação do clima implica em uma diminuição da produtividade esperada da agricultura e, consequentemente, no fornecimento de alimentos, água e outros produtos. Ademais, imensuráveis são as catástrofes e perdas observadas diante de tais eventos. A exemplo, nos últimos anos, tem-se aumentado a perda de pessoas em função de eventos como secas, enchentes e tempestades.
Cenário brasileiro
No Brasil ocorreram diversos eventos extremos nos últimos tempos, que são notórios como efeitos das mudanças climáticas. A exemplo, aconteceu enchentes inesperadas na Bahia, caracterizada e conhecida como uma região árida. Também, foi identificada uma seca na região Sul, em que são encontrados altos índices pluviométricos. Tais constatações, levaram ao relatório apontar o Brasil como uma das regiões vulneráveis às consequências das mudanças climáticas. Além disso, o documento evidencia que a Amazônia pode perder uma grande porcentagem de sua cobertura vegetal, transformando-se em áreas de savana.
Impactos das mudanças climáticas
As alterações advindas das mudanças climáticas e, consequentemente, do aquecimento global originam uma série de problemas. Contudo, tais situações se intensificam em função de fatores como a desigualdade social, pobreza e densidade populacional. Além disso, no quesito ambiental, tem-se como principais impulsionadores o desmatamento, degradação do solo e destinação do uso do solo para fins diversos. Por fim, no âmbito econômico e social, ocorrência de tais eventos podem aumentar, por exemplo, a pobreza e a marginalização.
Em relação aos fenômenos climáticos decorrentes do aquecimento global, espera-se que nos anos vindouros ocorra quatro vezes mais situações de eventos extremos. Eventos, hoje já presenciados, como inundações, secas, tempestades, ondas de calor, terão maiores chances de se intensificarem.
Efeito do aquecimento global na saúde humana
Ao falar sobre mudanças climáticas e aquecimento global, não se faz referência somente às consequências ao meio ambiente. De fato, o bem-estar do ser humano está ameaçado em razão das mudanças ocorridas no clima, como aumento da temperatura, poluição do ar, baixa ou alta umidade relativa do ar. A exemplo, o aumento de temperatura pode provocar um maior desconforto do ser humano, ocasionando estresse, problemas cardíacos e pulmonares. Tais doenças podem levar as pessoas a óbito.
Considerações finais
Para preservar e proteger o ecossistema e todos aqueles que fazem parte no mesmo, faz-se necessário a implementação urgente de medidas preventivas e corretivas. Ainda que, atualmente, estamos enfrentando um cenário preocupante quanto aos impactos das mudanças climáticas, o Relatório de Avaliação do IPCC permite inferir que ainda é possível reverter este cenário. Claro, é evidente a urgência e gravidade do problema, contudo, ainda podemos agir para atenuarmos as consequências do aquecimento global. Por fim, é de grande relevância a conscientização da sociedade e governantes quanto à importância dos recursos naturais, necessidade de manutenção e proteção dos mesmos. E você, como tem contribuído para a conservação ambiental? Você acredita que podemos ter um cenário diferente? Compartilhe sua opinião conosco.
Links Relacionados
- Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas
- Site do IPCC
- Ações urgentes contra mudança climática
- Relatório síntese do AR6
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