Comemora-se no dia 2 de fevereiro o Dia Mundial dos Pântanos. A Organização das Nações Unidas (ONU) aderiu oficialmente o Dia Mundial dos Pântanos em seu calendário, em Assembleia Geral, em agosto de 2021. A iniciativa foi uma tentativa de atrair foco para a conservação desse ecossistema.
Comemoração do Dia Mundial dos Pântanos
No dia 2 de fevereiro de 2022, a ONU celebrou pela primeira vez o Dia Mundial dos Pântanos. Contudo, a data já era comemorada por outras entidades como o Dia Mundial das Áreas Úmidas. A data comemorativa surgiu em 1971 na Convenção sobre Zonas Úmidas de Importância Internacional, em Ramsar, no Irã. Nesse sentido, o objetivo foi de evidenciar a importância da biodiversidade local e dos recursos naturais em ecossistemas como pântanos, charcos, turfas, estuários, mangues, etc.
A Convenção de Ramsar
A Convenção sobre as Zonas Úmidas de Importância Internacional é mais conhecida como Convenção de Ramsar. Sua realização foi um marco para o uso racional dos recursos das áreas úmidas e a conservação do ecossistema. Durante a Convenção, 18 (dezoito) países assinaram um tratado reconhecendo o valor ecológico, econômico, social e científico das áreas úmidas. Hoje, 171 (cento e setenta e um) países são signatários, sendo assim, responsáveis por designar uma área úmida para lista de áreas úmidas de importância internacional (Sítios Ramsar).
A missão da Convenção é urgente para um futuro sustentável. Além disso, é parte da solução para as mudanças climáticas. O Brasil é um dos países signatários, ou seja, ele faz parte da colaboração internacional para conservação do ecossistema e tem o dever de promover o uso sustentável do ambiente.
Ecossistema de área úmida
As áreas úmidas são classificadas como ambientes de transição entre os terrestres e aquáticos, continentais ou costeiros e que se mantém permanentemente ou periodicamente inundados por águas rasas ou solos encharcados, sejam naturais ou artificiais. Portanto, a biodiversidade local deve ser adaptada à variação hídrica. A profundidade dessas áreas pode atingir até 06 (seis) metros. Dessa forma, a radiação solar consegue perpassar por todo o ambiente aquático e, por consequência, manter a área aquecida.
Tais características garantem a manutenção da biodiversidade, do equilíbrio ambiental e social, por isso, possuem relevância econômica e ecológica a nível global. De acordo com o Relatório de Ramsar (2018), 40% das espécies do planeta vivem nos ecossistemas de áreas úmidas. Além disso, são grandes estoques de carbono e, também, contribuem para o abastecimento de água para consumo e geração de energia.
Serviços Ecossistêmicos e Mudanças Climáticas
Segundo Junk e colaboradores (2014), além dos serviços ecossistêmicos citados, as áreas úmidas proporcionam:
- Estocagem periódica de água e devolução lenta aos rios;
- Recarregamento dos aquíferos e dos lençóis freáticos;
- Retenção dos sedimentos;
- Purificação da água;
- Irrigação da lavoura;
- Regulação do microclima;
- Fornecimento de produtos (madeiras, fibras, frutas, plantas medicinais);
- Fornecimento de moradia para populações tradicionais;
- Recreação.
Ainda, as áreas úmidas formam reservatórios de água, ou seja, são capazes de amenizar as secas. Os pântanos e os charcos atuam como esponjas, capazes de absorver águas das chuvas e controlar as enchentes. Enquanto os mangues e os recifes de corais formam barreiras naturais contra ressacas. No entanto, esses ambientes estão ameaçados pela substituição para áreas de pastagem e monoculturas. Ademais, as mudanças climáticas estão alterando o regime hídrico e ameaçando a biodiversidade local.
Considerando os impactos das mudanças climáticas e da quantidade de serviços ecossistêmicos promovidos pelas áreas úmidas, a atenção sobre esses ambientes deve ser maior, pois eles são diretamente responsáveis pelo equilíbrio das condições ambientais atuais. Faz-se então necessário um esforço de todos os países pela preservação e restauração ecológica.
Ecossistema: Pântanos
Os pântanos são constituídos por planícies total ou parcialmente inundadas por águas doces ou salgadas. Por essa razão, a vegetação é variável, incluindo plantas aquáticas e árvores tolerantes ao excesso de água. O solo é rico em materiais orgânicos em decomposição.
Comparado às florestas tropicais, os pântanos podem sequestrar carbono da atmosfera 50 vezes mais depressa. Isso porque as plantas capturam CO₂ e, mais tarde, são enterradas pelas inundações, que enterram as folhagens e raízes na lama – sedimentando o carbono por milhares de anos.
Áreas úmidas no Brasil
A maior área úmida do planeta abriga-se em 62% no Brasil: o Pantanal, que se estende pela Bolívia e Paraguai. Dessa forma, o Pantanal atua como um grande reservatório de água doce, com extensão de 150.000 km². Em novembro, ocorre o período de cheias e inundações das planícies. Todavia, em maio, com a diminuição das chuvas, as águas abaixam. Aliás, é essa dinâmica hídrica que garante o equilíbrio do ambiente e da biodiversidade.
Estima-se que mais de 20% do território nacional é considerado área úmida, sendo 27 áreas delimitadas como Sítios Ramsar:
- Área de Proteção Ambiental Baixada Maranhense
- Área de Proteção Ambiental de Cananéia – Iguapé – Peruíbe
- Arquipélago de Fernando de Noronha
- Estação Ecológica de Guaraqueçaba
- Estação Ecológica de Taiamã
- Estação Ecológica do Taim
- Estuário e Manguezais Amazônicos
- Guaratuba
- Ilha do Bananal
- Lago do Peixe
- Lund Warming
- Mamirauá
- Parque Estadual do Rio Doce
- Parque Estadual Marinho do Parcel Manoel Luís
- Parque Nacional da Ilha Grande
- Parque Nacional de Anavilhanas
- Parque Nacional do Cabo Orange
- Parque Nacional do Pantanal Matogrossense
- Parque Nacional do Viruá
- Parque Nacional Marinho dos Abrolhos
- Reentrâncias Maranhenses
- Reserva Biológica Atol das Rocas
- Reserva Biológica Guaporé
- Reserva Particular do Patrimônio Natural Fazenda Rio Negro
- Reserva Particular do Patrimônio Natural SESC Pantanal
- Rio Juruá
- Rio Negro
Degradação do ecossistema
Relatórios apontam que em 45 (quarenta e cinco) anos, já se perdeu 35% (trinta e cinco por cento) das áreas úmidas. Esses ecossistemas estão sendo perdidos numa velocidade 03 (três) vezes mais rápida do que as florestas. Como resultado, firmam-se como os ecossistemas mais ameaçados pela destruição do homem. Ao passo que, o manejo inadequado, os projetos agropecuários e o crescimento urbano diminuem a extensão do ecossistema e aumentam as erosões e poluições das águas.
No cenário nacional, observa-se o aumento das queimadas nesses ambientes, ausência de regulamentações de proteção aos ecossistemas e baixa comunicação entre os órgãos públicos e a comunidade científica. Inegavelmente, isso dificulta o direcionamento de medidas de conservação e pode gerar prejuízos irreversíveis para a humanidade.
A importância do Dia Mundial dos Pântanos
Em suma, é seguro dizer que o futuro sustentável depende da proteção das áreas úmidas. Nesse sentido, a estratégia da ONU em adotar o Dia Mundial dos Pântanos é uma oportunidade de divulgar em maior amplitude a importância das áreas úmidas e, especificamente, dos pântanos. Além disso, resgata o cuidado com a natureza.
Portanto, para as futuras celebrações, é necessário promover reflexões sobre a nossa dependência em relação ao ecossistema, estabelecer compromissos e fortalecer as redes de proteção. Pois, em um futuro não muito distante, a mera delimitação de Sítios Ramsar não será suficiente, se não for acompanhada de ação. Espera-se, então, que a inclusão ao calendário da ONU aumente a visibilidade sobre o ecossistema e sensibilize os tomadores de decisão a preservar o que lhes é dever.
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