Desde o começo, a pandemia tem promovido mudanças de hábitos a níveis globais. Com foco nas questões ambientais, os impactos causados pelos resíduos hospitalares e domésticos têm se tornado um dos grandes problemas na pandemia. No Brasil, nem todas as cidades possuem estrutura suficiente para receber os resíduos gerados, mas os maiores prejudicados com a poluição são os oceanos e a fauna marinha.
Resíduos Sólidos
Comumente chamados de “lixos”, define-se como resíduos sólidos os materiais descartados e sem mais utilidade para o consumidor. Ao direcionar esse resíduo para a reciclagem ou promover sua reutilização, é possível atribuir um novo valor para esse material. O encaminhamento desse resíduo para a disposição final só deve acontecer quando o mesmo já passou por todas as possibilidades de tratamento e recuperação. Ou seja, quando se torna rejeito. Contudo, de todo lixo gerado no Brasil, apenas 3% é efetivamente reciclado.
A gestão inadequada dos resíduos sólidos pode trazer grandes prejuízos ambientais como contaminação de rios e solos, geração de gases poluentes e atração de vetores de doenças. Ainda, o aumento populacional e a alta necessidade de consumo tem fortalecido a exploração dos recursos ambientais para desenvolvimento de produtos. Além disso, ocorre o estímulo à criação de hábitos de acumulação e desperdício. Destaca-se aqui que, na verdade, a nível planetário, não existe a opção “jogar o lixo fora”. Nesse sentido, a conscientização da sociedade se torna fundamental para encontrar o equilíbrio entre o consumo, o ambiente e a qualidade de vida humana.
Na contramão do ideal, a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) estimou um aumento entre 15% a 25% no volume dos resíduos domiciliares e um crescimento de 10 a 20 vezes dos resíduos hospitalares em consequência do isolamento social causado pela pandemia do novo Coronavírus. Dessa maneira, o descarte correto, bem como a gestão dos resíduos sólidos estão ligados à saúde do meio ambiente e dos seres humanos. Neste momento, o manejo dos resíduos é, sobretudo, uma medida sanitária para conter a contaminação causada pelo vírus.
Resíduos sólidos gerados na pandemia da COVID-19
A pandemia da COVID-19 reflete uma crise generalizada que atinge questões sanitárias, econômicas, sociais e ambientais. Considerada uma doença respiratória altamente infecciosa e com sintomas variáveis, as medidas de proteção incluem o distanciamento social, uso de máscara, higienização das mãos e a desinfecção de superfícies. Esse quadro levou à escassez de suprimentos considerados básicos em determinados países, como alimentos, água, gás e combustível. Não obstante, em meio a tantas transformações, também se consolidaram novos hábitos de consumo.
Durante a pandemia, as pessoas passaram mais tempo em casa, o que naturalmente gera maior produção de resíduos. Também, essas pessoas passaram a utilizar mais serviços de delivery, o que aumentou o uso de materiais descartáveis e o excesso de plásticos. Além disso, aumentou a demanda por seringas, material hospitalar, máscaras, toucas, luvas, agulhas, etc. Segundo estimativas, desde o início da pandemia até o final de 2020, descartavam-se diariamente 1,6 milhão de toneladas de plásticos, além de 3,4 bilhões de máscaras por dia.
Somado a isso, houve a diminuição do serviço de catadores – para que eles também se protegessem. Como consequência, a maior parte dos resíduos coletados foi diretamente para os aterros sanitários. No entanto, ainda há mais de 3 mil municípios no Brasil que não possuem destinação correta para os resíduos, jogando-os em lixões. De acordo com estudos realizados pela Universidade de Nanquim, China, produziu-se mais de 8 milhões de toneladas de plásticos durante a pandemia, onde 25 mil toneladas foram parar nos oceanos.
Impactos causados pelos resíduos ao meio ambiente
Com o isolamento social, notou-se uma rápida mudança na dinâmica ambiental: diminuição da poluição atmosférica e das emissões de carbono, corpos d’águas mais limpos, praias vazias. Isso retrata como o consumo moderado favorece o desenvolvimento sustentável. Entretanto, não significa que a natureza se restaurou e os problemas se solucionaram. Um exemplo é como a geração de resíduos e o descarte incorreto afetam o meio ambiente.
O primeiro fato é que o aumento de resíduos hospitalares e a falta de manejo dos mesmos promovem ameaça à saúde humana. Segundo o relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), os materiais podem expor os profissionais de saúde a queimaduras, patógenos e ferimentos com agulhas. Isso evidência a urgência em melhorar o processo de descarte dos materiais. O segundo fato é a poluição causada aos oceanos através dos resíduos que chegam das cidades, colocando em risco a fauna marinha, como nas situações seguintes:
- As máscaras possuem estruturas de metais capazes de machucar os animais. Quando ingeridas, podem perfurar o sistema digestivo e levá-los à morte;
- A ingestão de plásticos pelos animais “engana” a fome, fazendo que se sintam satisfeitos e consumam menos nutrientes. O que também pode levá-los à morte;
- A interação dos animais com os resíduos podem causar asfixia, perda de mobilidade, aprisionamento e impedi-los de se alimentarem.
O descarte incorreto afeta toda a teia alimentar, pois contaminam algas e animais filtradores que são ingeridos por outros animais, inclusive os seres humanos. Além disso, os resíduos ficam à deriva da maré e retornam para as faixas litorâneas. Diante de tal cenário, até as questões econômicas são afetadas, visto que os turistas recuam a visitação no local e os órgãos públicos precisam destinar verbas para limpeza.
Como contribuir na diminuição dos impactos causados pelos resíduos na pandemia?
A problemática dos resíduos não é recente, mas é evidente que se ampliou nos últimos anos. Para reverter os impactos causados pela geração de resíduos na pandemia, primeiramente, é necessário que ocorra a reflexão sobre as ações humanas individuais e coletivas. Nessa lógica, a Educação Ambiental é um caminho que deve ser reforçado.
Também, é necessário que políticas de monitoramento, desenvolvimento de trabalhos e apoio financeiro sejam implementados, além de desenvolver materiais alternativos aos plásticos. Além disso, é importante priorizar embalagens ecológicas, materiais reutilizáveis ou biodegradáveis e investir em tecnologias de apoio a reciclagem. E, por fim, diminuir o consumo, escolhendo produtos que tenham maior ciclo de vida.
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