Atualmente, muito se fala sobre segurança alimentar, geração de renda e mitigação dos efeitos das mudanças climáticas. O solo tem uma grande importância nesse cenário, pois tem um papel crucial na produção de alimentos, fibras e energia.
Além disso, juntamente com a biota, oceanos, atmosfera e formações geológicas, o solo é um dos cinco reservatórios de carbono orgânico do ecossistema terrestre. Ele também é responsável por cerca de dois terços de todo o reservatório global. No entanto, segundo dados da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), um terço dos solos do mundo encontra-se em processo de degradação. Como resultado, esse cenário torna-se mais preocupante.
Os solos possuem uma enorme importância para a mitigação das mudanças climáticas. Isto porque funcionam, ao mesmo tempo, como fonte e sumidouro de carbono. Quando mal manejados, emitem CO₂ para a atmosfera, contribuindo então para o aquecimento global, pelo fato do CO₂ ser um dos Gases de Efeito Estufa (GEEs). No entanto, o papel mais importante dos solos é como sumidouro, pois sequestram o carbono da atmosfera e o estabiliza na matéria orgânica do solo.
Quanto maior o conteúdo de matéria orgânica de um solo, maior o seu poder de sequestrar o carbono. Portanto, cabe aos gestores e tomadores de decisão gerar políticas públicas que possam manter e aumentar a matéria orgânica contida nos solos.
De acordo com dados da FAO, o Brasil ocupa o primeiro lugar entre os 15 países que detêm o maior potencial para estocar carbono. Com isso, investir em estudos do solo é fundamental para as políticas de descarbonização da agricultura brasileira.
Os mapas
Com os novos mapas de estoque de carbono orgânico dos solos do Brasil, elaborados pela Embrapa Solos, é possível diferenciar áreas com maiores e menores estoques de carbono, auxiliando o Brasil a cumprir os compromissos que assumiu na agenda global de redução de emissões de GEEs.
Esses novos mapas foram apresentados pelo presidente da Embrapa, Celso Moretti, durante a 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26), que aconteceu em Glasgow, Escócia. Segundo Moretti, “Trata-se de mais uma contribuição da ciência para a agricultura brasileira, de fundamental importância para o enfrentamento das alterações climáticas”.
Intitulado “Mapas Nacionais de Atributos do Solo: Contribuição ao PronaSolos, GlobalSoilMap e Aliança Mundial pelo Solo”, o relatório técnico anexado ao mapa apresenta a metodologia usada, estatísticas dos dados de entrada e mapa produzido, índices de erro das predições, forma de citação do mapa e aviso sobre o seu uso.
Os mapas e políticas públicas
A chefe geral da Embrapa Solos, Maria de Lourdes Mendonça Santos Brefin, também se pronunciou e disse que “Os novos mapas são uma linha de base para saber o que temos de carbono estocado nos solos do país, contribuindo dessa forma para diversos estudos, como o Programa ABC+, onde já são usados, e em outras políticas públicas. Permitem identificar áreas degradadas, quando a matéria orgânica não está mais presente, áreas com grandes estoques de carbono, mas alta vulnerabilidade às mudanças climáticas, como as de mangue e solos orgânicos, além de potencial para gerar mapas de sequestro de carbono, entre outros usos”.
O Secretário-Adjunto de Clima e Relações Internacionais do Ministério do Meio Ambiente, Marcelo Freire, elogiou a iniciativa de elaboração dos mapas de estoque de carbono orgânico do solo. Ele ressaltou a importância desse conhecimento para a descarbonização da agricultura, que é a meta do Brasil para 2050. “A ideia é que a preservação dos solos resulte em benefícios econômicos para os produtores. Trata-se, portanto, de um processo ganha-ganha, para o qual o Brasil tem uma enorme vocação natural”, frisou.
Comparação com o mapa de 2017
Em 2017, foi lançado o primeiro mapa global de estoque de carbono orgânico do solo com participação brasileira. Este é um mapa de estoque de carbono orgânico do solo de 0 a 30 centímetros de profundidade. Por outro lado, os mapas de 2021 possuem um quilômetro de resolução espacial com profundidade de até um metro.
Segundo o chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Solos e líder da equipe que elaborou os mapas de estoque de carbono orgânico do solo, Gustavo de Mattos Vasques, os novos mapas estão destrinchados em seis camadas: 0-5cm, 5-15, 15-30, 30-60, 60-100 e 100-200 cm. O carbono estocado de 0 a 30 cm tem muito a ver com manejo e uso agrícola do solo. Já o de 30 cm até um metro está muito ligado ao alcance das raízes, que aportam matéria orgânica e carbono ao longo do tempo nessa profundidade.
“Os mapas de 2017 e 2021 mostram que o estoque total de 36 bilhões de toneladas de carbono, 5% do estoque global, é bastante similar entre as duas versões do mapa, o que nos traz uma confiança que estamos acertando no alvo. O Brasil é nação de destaque, pelo seu tamanho, contribuindo para o estoque global”, afirma Vasques.
Resultados dos novos mapas
Observando os mapas de estoque de carbono orgânico do solo, é possível ver que o Sul e a Amazônia possuem maior quantidade de carbono. No Sul do país existe um grande bolsão com altos estoques de carbono nas serras, com solos formados com materiais mais ricos, como o basalto. Esse ambiente propicia o acúmulo porque a degradação é mais lenta por causa do frio e existe uma boa produção de massa vegetal. Já na Amazônia, a produção de massa vegetal e a produtividade primária são muito grandes. Apesar do clima quente e do excesso de chuva, que promovem a degradação, a ciclagem de nutrientes é intensa, promovendo o acúmulo de carbono no solo.
Já no Pantanal, os solos são mais arenosos. Apesar da grande quantidade de solo alagado, esses solos acumulam muito pouco. Isto porque não têm material argiloso onde o carbono pode ficar retido, então ele é perdido nas chuvas. A Caatinga é outro exemplo onde tem estoques baixos, porque a pouca chuva produz pouca vegetação. Como resultado, esses solos, ao longo de milhares de anos, acumularam pouco carbono.
Disponibilidade dos mapas
Além da plataforma do Programa Nacional de Solos do Brasil (PronaSolos), os mapas de carbono e respectivos metadados também estão disponíveis para consulta pública na Infraestrutura de Dados Espaciais da Embrapa (GeoInfo), que disponibiliza à sociedade dados espaciais para aprimorar a pesquisa, desenvolvimento e inovação da agropecuária brasileira. Clique aqui para visualizar os mapas e os metadados.
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