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Múltiplos Produtos da Floresta

Por Natielle Gomes Cordeiro

Em 23 de abril de 2020
Produtos da Floresta - Alguns exemplos de derivados da floresta

O território brasileiro abrange uma diversidade faunística e florística imensurável. Dada a biodiversidade, destaca-se os seis domínios fitogeográficos presentes: Caatinga, Campos, Cerrado, Floresta Amazônica, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal. Estes ecossistemas se destacam por apresentar uma riqueza significativa, dispondo de recursos naturais que fornecem produtos madeireiros e não madeireiros.

A crescente demanda por produtos tem ocasionado em uma exploração desenfreada das formações vegetais e isto tem feito que alguns domínios sejam classificados como hotspot mundial. Também chamado de hotspot ecológico ou de biodiversidade, o conceito define uma região biogeográfica em que há uma grande riqueza de plantas e animais, mas que sofre uma ameaça de destruição. No Brasil, os principais domínios considerados como hotpots são o Cerrado e a Mata Atlântica. O conceito de hotspot surgiu devido ao dilema atrelado à conservação, tornando essas áreas prioritárias, isto é, onde há uma biodiversidade ameaçada por atividades antrópicas.

Para que se alcance a conservação e utilização correta dos ecossistemas, estão sendo propostas alternativas que viabilizem o uso sustentável dos recursos naturais. Inicialmente, faz-se necessário o conhecimento da estrutura horizontal e vertical da fitofisionomia, bem como a dinâmica da comunidade de interesse. Tais informações permitem inferir quanto ao manejo a ser realizado na área, e dessa forma, pode-se proceder o aproveitamento múltiplo da floresta.

Nesse sentido, é sabido que a formação vegetal fornece uma série de produtos, sejam eles madeireiros ou não madeireiros. Muitas das vezes não nos atentamos e nem temos o conhecimento de que uma gama de produtos que são parte do nosso cotidiano advém da natureza. A exemplo, tem-se repelentes naturais, desinfetantes, cosméticos, xaropes, madeira, resina, sorvetes, etc.

Os produtos florestais são tidos como todo bem e serviço oriundo da natureza, sendo estes classificados, como supracitado, madeireiros e não madeireiros.

Produtos florestais madeireiros

Os produtos madeireiros são facilmente reconhecidos em nosso dia a dia, pois vai desde a mesa, cadeira, lápis, pisos laminados, lenha até o carvão vegetal. Entende-se por madeireiro, todo e qualquer material lenhoso que esteja apto para utilização no setor de serraria, estacas, mourões, compensados, laminados e outros.

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Produtos florestais não madeireiros (PFNMs)

Fazendo jus ao nome, estes são os produtos de origem não lenhosa e que por vezes passam despercebidos. Contudo, estes produtos são de igual importância como os madeireiros, sendo representados por plantas medicinais e ornamentais, resina, cipó, óleos, látex, taninos, sementes, etc. A se destacar, nesse subconjunto de produtos, podemos citar os serviços ecossistêmicos prestados pelas formações vegetais, como por exemplo o estoque de carbono que está intrinsecamente relacionado com a mitigação climática. De forma geral, os PFNMs podem ser empregados na alimentação, produção de cosméticos e medicamentos.

Exemplos de produtos não madeireiros

Óleos: São considerados como importante matéria-prima para as indústrias alimentícias, farmacêuticas e de cosméticos. Os óleos, tidos como essenciais, podem ser extraídos de diversos órgãos da planta como folhas, flores, frutos e da própria madeira em si. Dentre as espécies em que são extraídos os óleos, tem-se: Copaifera langsdorffii Desf. (Copaíba), Carapa ssp. (Andiroba), Bertholletia excelsa Bonpl. (Castanheira).

Resina: Mais conhecida pela extração de goma-resina, este produto é oriundo de espécies coníferas, destacando-se o gênero pinus. A resina é mundialmente utilizada e no Brasil, a sua produção se tornou de grande importância, pois promoveu o país como o segundo maior produtor mundial. Dentre as espécies de pinus, destaca-se o Pinus elliottii que oferece uma alta produção da goma-resina.

Látex: Ao relatarmos sobre o látex, que se caracteriza por ser um líquido viscoso de cor amarelo-esbranquiçada, é imprescindível se destacar a seringueira (Hevea brasiliensis). Esta espécie é nativa do território brasileiro e dá origem à borracha natural.

Tanino: Assim como os óleos essenciais, os taninos podem ser encontrados em diversos compartimentos de uma planta, no entanto são geralmente extraídos da madeira ou casca. Este produto se destaca por apresentar uma importância significativa no setor florestal, se destacando na economia da região nordeste do Brasil. As espécies que se destacam na extração do tanino são: Acacia mearnsii de Willd (Acácia-negra), Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan (Angico vermelho), Stryphnodendron adstringens (Mart.) Coville (Barbatimão).

Espécies mais comuns utilizadas para produtos não madeireiros

Euterpe oleracea Mart.: Conhecida popularmente como juçara, açaí ou palmiteiro, esta espécie se destaca por fornecer dois importantes produtos utilizados no cardápio humano, que são o palmito e o fruto, em que a polpa do açaí é empregada de forma ampla na produção de sorvetes, geleias e licores.

Agave tequilana Weber: Conhecida vulgarmente como agave-azul.  Esta espécie fornece a possibilidade da extração das folhas para fabricação de tequila, que é uma bebida alcoólica conhecida em diversos lugares do mundo.

Caryocar brasiliense Cambess.: Esta espécie, característica do Cerrado, é comumente conhecida pelo seu fruto, o pequi. Este se destaca por ser um dos frutos nativos mais consumidos e comercializados do domínio de origem. O pequi, além do consumo in-natura, pode ser utilizado para a produção de tempero, licores, sorvetes e ração para animais.

A diversidade de produtos que são obtidos por meio dos recursos florestais é de grande relevância, pois possibilita atender as necessidades humanas. Ao empreender o uso de forma consciente, estes produtos, principalmente no que se refere aos não madeireiros, fornecem subsídios para as comunidades que vivem no entorno da vegetação. Ressalta-se que a exploração dos produtos não madeireiros são uma alternativa para a conservação da vegetação, pois não há a necessidade de cortar a árvore e sim realizar o uso de forma apropriada e consciente.

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Autor(a)

Natielle Gomes Cordeiro

Engenheira Florestal, redatora, mestre e doutora em Engenharia Florestal. Apreciadora da natureza e apaixonada pela ciência. Ao longo dos últimos anos, tenho trabalhado com inventário, manejo e biomassa florestal, estimativa de carbono e seus direcionadores, assim como na avaliação da dinâmica florestal. Atuei no levantamento de informações qualitativas e quantitativas em floresta natural de pinus (Idaho/EUA), bem como em vistorias ambientais em empresas produtoras de carvão vegetal e recuperação de áreas degradadas. Sou apaixonada por conteúdos sobre meio ambiente, com foco em conservação e preservação dos recursos naturais, dinâmica florestal e estoque de carbono. Amo trocar experiências e acredito que este seja o melhor caminho para o crescimento profissional e pessoal.

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