Introdução
Antes de apresentar o que é e como funciona a muvuca, é preciso entender alguns conceitos.
De acordo com a Society for Ecological Restoration International (SER), a restauração florestal é a ciência e prática de assistir e manejar ecossistemas naturais, alterados ou degradados, para a recuperação da sua integridade ecológica.
Em suma, a prática inclui atender a um nível mínimo de biodiversidade e de variabilidade na estrutura e funcionamento dos seus processos naturais, considerando também seus valores econômicos e sociais.
E o que esses conceitos têm a ver com a muvuca?
Muvuca: uma técnica de plantio
Primeiramente a muvuca de sementes corresponde a uma técnica, ancestral e indígena, composta por uma mistura de sementes de espécies nativas. Tais espécies são selecionadas e com alta diversidade. Juntamente com espécies agrícolas de adubação verde e algum substrato seguem a lógica de sucessão florestal.
Nesse sentido, essa técnica de plantio é uma forma mais barata e eficiente de recompor a vegetação de áreas degradadas. A estratégia é principalmente empregada para Áreas de Preservação Permanente (APP) e Reserva Legal (RL).
Ainda, a muvuca consiste em um mix de sementes com variações de tamanho, categorias sucessionais e crescimento. Além disso, se diferenciam pelo uso, cobertura da copa, frutos e sementes atrativas à fauna, formação de biomassa, fixação de nitrogênio, dentre outros.
Tais características visam reduzir a competição com as gramíneas invasoras e cobrir a área o mais rapidamente possível. Assim, busca o estabelecimento e desenvolvimento de uma floresta à longo prazo.
Em síntese, a muvuca de sementes consiste em uma semeadura direta de um misto de sementes, com alta variabilidade de espécies florestais de diferentes categorias ecofisiológicas.
Como funciona?
Após entender o que é a muvuca, é fundamental entender como a técnica funciona. Como foi dito acima, uma mistura de sementes variadas é feita. Essa variação de sementes permeia não só em variabilidade de espécies, como também, de estágios sucessionais.
Um questionamento que pode vir a mente é: qual a quantidade de sementes ideal para realizar o plantio da muvuca? Segundo a indicação do Guia da Muvuca, do “Caminhos da semente”, a formação de uma floresta depende não só de qual semente, mas também do número que será plantado.
Nesse sentido, o indicado é que se tenha um mínimo de espécies que vivem até 1 ano e de arbustos e trepadeiras que vivem até 3 anos, árvores que vivem até 30 anos e árvores centenárias. Ainda, todas as sementes devem ser misturadas em proporção calculada de forma a garantir boa cobertura de solo desde o segundo mês pós-plantio.
Como se dá o plantio?
Os métodos pelos quais se pode fazer a semeadura são: a lanço em toda área, em linhas, em núcleos e em covetas.
- Semeadura a lanço em toda área
Como o nome já diz, a distribuição da muvuca de sementes a lanço em área total consiste em espalhar a mistura de sementes, de forma aleatória, em toda a extensão da área de plantio.
- Semeadura em linhas
A semeadura da muvuca de sementes em linhas nada mais é que seguir um padrão de distribuição em linha reta, com um espaçamento pré-definido entre as linhas.
- Semeadura em núcleos
O plantio da muvuca de sementes em núcleos funciona ao contrário da semeadura a lanço em área total. Ainda mais, tem como princípio disseminar as sementes de maneira aleatória em vários espaços, com tamanhos pré-definidos. Contudo, há vários núcleos dentro da área a ser recomposta.
- Semeadura em Covetas
A semeadura em covetas segue o princípio da semeadura em linhas, porém, as sementes são distribuídas em covetas dispostas ao longo da linha, em espaçamentos padronizados e pré-definidos.
Quais são as espécies e sementes indicadas?
Entende-se que não há uma “receita de bolo” quando se trata de espécies e sementes utilizadas na muvuca. Contudo, apesar da não existência de regras, cabe destacar que, de acordo com o Guia da Muvuca, há algumas diretrizes importantes a serem seguidas.
Em suma, o procedimento consiste em realizar a seleção das sementes e espécies na mesma vegetação e região que se deseja plantar. Ainda, uma dica valiosa é de não utilizar espécies invasoras, que poderão dificultar, ou até mesmo impedir a regeneração da vegetação no local. Além disso, é indicado que as sementes sejam armazenadas de forma adequada, se atentando a temperatura e teores de umidade, até o momento do plantio.
Ao olhar de uma especialista
De acordo com a professora Lausanne Almeida, professora de sementes florestais da Universidade Federal de Viçosa, a muvuca de sementes “vem sendo desenvolvida em várias regiões do Brasil”. Além disso “tem como inspiração os trabalhos realizados pela Associação da Rede de Sementes do Xingu”.
A professora também contou que “a iniciativa denominada “Caminhos da semente” também tem contribuído para que a semeadura direta ganhe escala.” Ainda, “em seu site há uma série de informações técnicas e experiências realizadas em todo o país e agrupadas pela equipe.”
Nesse sentido, Lausanne finaliza trazendo uma reflexão sobre a importância ambiental e social da muvuca de sementes:
“Nossas sementes têm grandes potenciais que precisam ser mais valorizados, como a colheita coletiva de sementes por meio das redes, fortalecendo a permanência do homem no campo, o apego ao meio ambiente e a geração de renda. Assim, poderão ser utilizadas em sua propriedade ou comercializadas à viveiristas, pesquisadores e iniciativas que utilizam a semente como seu principal insumo, seja na restauração, na alimentação, na confecção de artesanatos e biojóias.
Seu olhar sobre as sementes florestais nativas não será mais o mesmo. Reflita, observe, pesquise e se apaixone pelo maravilhoso mundo das sementes.”
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