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Retrospectiva 2025: Qual Foi o Protagonismo Ambiental?

Em 20 de dezembro de 2025

Jingle bell, já tocam os sinos… As luzes piscam freneticamente anunciando que o Natal está logo ali e que 2025 se despede! Quantas experiências, desafios e vitórias contemplamos ao longo de 2025. Com certeza, esse foi um ano de crescimento e de muitos aprendizados, mas também de alertas importantes. O meio ambiente voltou ao centro das discussões globais. Mas, qual foi, de fato, o protagonismo ambiental? As estratégias adotadas foram preventivas ou apenas corretivas?

O grande evento

O Brasil sediou, em novembro de 2025, o mais relevante evento global das Nações Unidas para a discussão e negociação intergovernamental sobre mudanças climáticas: a COP30 (Conferência das Partes), reafirmando seu protagonismo ambiental no cenário internacional. Durante todo o ano, ações e debates prévios geraram expectativas sobre o quanto essa importante reunião poderia transformar as tomadas de decisão frente ao maior problema já enfrentado nas últimas décadas: as mudanças climáticas.

O encontro, realizado no coração da Amazônia, foi marcado por importantes conquistas, momentos de êxito e, também, para alguns, controversos. Em síntese, o encerramento do evento contou com a aprovação, por meio das 195 partes integrantes, do “Pacote de Belém”. Ao todo, foram aprovadas, em consenso, 29 decisões que englobam a transição para energias limpas, orçamentos para a adaptação climática, etc.

Entre os marcos, em 7 de novembro, foi assinada a Declaração de Belém contra o Racismo Ambiental. A proposta da declaração centra-se em indicar a justiça racial como uma das diretrizes que guiam a governança climática. Em outras palavras, a ideia é que se tenha um reconhecimento que, populações negras, indígenas e comunidades tradicionais são mais vulneráveis aos impactos da crise ambiental. Outro fato é a demarcação de terras indígenas. Tal procedimento estava estagnado desde 2018, mas voltou a ter foco em 17 de novembro, quando se oficializou a demarcação de dez terras indígenas.

Os debates durante a COP30 também levaram a um acordo sobre indicadores para mensurar a velocidade e como os países estão trabalhando e se adaptando às mudanças climáticas. Por fim, uma pauta relevante, a orçamentária, resultou em uma perspectiva de se triplicar o valor destinado a projetos relacionados à adaptação.

Clima: o ano dos extremos

Os eventos climáticos extremos se tornaram mais frequentes. Secas prolongadas, enchentes severas e ondas de calor deixaram de ser exceção. Um cenário climático cada vez mais confuso, traz preocupação e alerta. Enquanto a Espanha viveu, em agosto, a onda de calor mais intensa em sua história, do outro lado do mundo, Hong Kong registrou a chuva mais intensa em um século.

No Brasil, o cenário não é diferente! Cidades na região sul e sudeste do país sofreram o efeito de um ciclone extratropical nos últimos meses, deixando rastros assustadores. Em São Paulo, rajadas de vento chegaram a quase 100 km/h, provocando danos em estruturas, queda de galhos e árvores, dentre outros. No Paraná, frio atípico, chuvas acima da média, granizo e tornados durante a primavera. Outras regiões, como no Tocantis, também sofreram com extremos climáticos, ora com chuvas intensas e concentradas, ora com estiagens prolongadas e ondas de calor mais intensas.

As consequências desses eventos impactam diretamente diversas esferas do nosso dia a dia. Meio ambiente, economia e aspectos sociais, nenhum quesito é imune. Deslizamento de terra em função das fortes chuvas: perdas estruturais, mas também de vidas! Alagamentos, falta de energia: serviços de saúde, transporte, educação, tudo paralisado!

Como contornar os efeitos negativos dos eventos climáticos extremos é foco constante das discussões. Por exemplo, em novembro, o Ministério Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), a Marinha do Brasil e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) chegaram a mais uma iniciativa. O grupo assinou um protocolo de intenções que tem como cerne a prevenção, monitoramento e resposta a desastres naturais no Brasil. Em suma, a proposta busca uma cooperação técnica com foco em capacitação, pesquisa e inovação no âmbito das ações de enfrentamento dos eventos climáticos extremos.

Florestas, restauração e mercado de carbono

Uma oportunidade surge e se destaca nos últimos tempos através do mercado de carbono. A saber, a restauração de áreas degradadas deixou de ser tratada exclusivamente como obrigação legal. Cada vez mais, a iniciativa é associada à geração de serviços ecossistêmicos, por exemplo, o sequestro de carbono, regulação hídrica e conservação da biodiversidade. Nesse contexto, soluções baseadas na natureza ganharam força, integrando conservação, produção e desenvolvimento territorial.

O mercado de carbono surge como um dos principais vetores desse movimento. A possibilidade de monetizar a captura e a manutenção de carbono nas florestas criou incentivos para projetos de restauração, manejo florestal sustentável e conservação de vegetação nativa. Além disso, esse mercado ampliou o diálogo entre setor ambiental, financeiro e produtivo, aproximando agendas que historicamente caminharam de forma separada.

Exemplos claros dessas iniciativas envolvem grandes corporações, como a Petrobrás e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que assinaram um Protocolo de Intenções, o ProFloresta+. A partir do programa, espera-se restaurar até 50 mil hectares de áreas degradas na Amazônia. Como resultado, acredita-se que cerca de 15 milhões de toneladas de carbono serão capturados. Outro exemplo é o acordo firmado entre o Governo do Pará e a empresa Systemica. A parceria conta com um contrato para a primeira concessão de reflorestamento de terras públicas no Brasil com aproveitamento de Créditos de Carbono de Restauração (ARR). As medidas tomadas afirmam, mais uma vez, o protagonismo ambiental do país, dessa vez, de forma positiva.

Política ambiental e governança

A legislação ambiental brasileira esteve nos holofotes durante o ano de 2025. Primeiramente, destaca-se a mais discutida das aprovações: a Lei Geral do Licenciamento Ambiental (Lei nº 15.190). Aprovada em 8 de agosto de 2025, a lei cria um novo marco regulatório para o licenciamento ambiental. Há quem acredite que a nova norma trará mais uniformidade e eficiência ao processo, mas também há quem discorde. Para pesquisadores, cientistas e ambientalistas, a lei implica uma diminuição da proteção legal de populações indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais. Além disso, esse grupo aponta a possibilidade de um distanciamento em relação à urgência da crise climática e à conservação de biomas ameaçados, como a Amazônia, o Cerrado e o Pantanal.

Outro importante fator para o protagonismo ambiental do país foi a aprovação para a criação da Política Nacional de Economia Circular (PNEC). O texto aprovado busca promover a transição do modelo linear de consumo para um sistema econômico baseado na eficiência dos recursos, na valorização de produtos ao longo do ciclo de vida e na redução de resíduos e emissões. A política estabelece diretrizes para a integração entre governo, setor produtivo e sociedade civil, além de prever instrumentos como planos de ação, incentivos à inovação e critérios de circularidade nas compras públicas. Nesse sentido, a PNEC representa um avanço institucional ao alinhar a agenda ambiental brasileira às tendências internacionais de sustentabilidade, ao mesmo tempo em que impõe desafios relacionados à governança, à coordenação federativa e à efetiva implementação das medidas propostas.

O ano de 2025 consolidou-se como um período de intensos debates e redefinições no campo da política ambiental brasileira, evidenciando tanto oportunidades de fortalecimento da governança quanto tensões entre desenvolvimento econômico, proteção ambiental e segurança jurídica.

O que esperar? Quais são os próximos passos?

A retrospectiva de 2025 mostra que não faltam diagnósticos, houve um protagonismo ambiental. Em suma, o que ainda precisamos fortalecer é a ação contínua, integrada e baseada em ciência. Apesar do espaço que a ciência vem ganhando, o da conscientização gradual da sociedade em relação ao meio ambiente e das ações necessárias, ainda há muito desafios. É preciso produzir sem degradar, crescer sem esgotar… Que 2026 traga mais ações e menos adiamento quanto às tomadas de decisão assertivas. Que as soluções baseadas na natureza se fortaleçam a cada dia! Cuidar do meio ambiente não é uma meta, é um dever!

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Autor(a)

Engenheira Florestal, redatora, mestre e doutora em Engenharia Florestal. Apreciadora da natureza e apaixonada pela ciência. Ao longo dos últimos anos, tenho trabalhado com inventário, manejo e biomassa florestal, estimativa de carbono e seus direcionadores, assim como na avaliação da dinâmica florestal. Atuei no levantamento de informações qualitativas e quantitativas em floresta natural de pinus (Idaho/EUA), bem como em vistorias ambientais em empresas produtoras de carvão vegetal e recuperação de áreas degradadas. Sou apaixonada por conteúdos sobre meio ambiente, com foco em conservação e preservação dos recursos naturais, dinâmica florestal e estoque de carbono. Amo trocar experiências e acredito que este seja o melhor caminho para o crescimento profissional e pessoal.