A silvicultura é o ramo da ciência e da prática florestal que visa contribuir para com os plantios comerciais, no manejo sustentável das florestas nativas e na restauração florestal. Assim, os principais objetivos da silvicultura são o de assegurar a produção sustentável de madeira, fibras e produtos não madeireiros. Garantir a regeneração de florestas naturais e recuperação de áreas degradadas. Promover os serviços ambientais, a conservação da biodiversidade e a mitigação das mudanças climáticas.
Ademais, a silvicultura, de uma forma geral, desempenha um papel fundamental na gestão responsável das florestas e no equilíbrio entre os aspectos econômicos, ambientais e sociais.
Crescimento econômico
De acordo com os dados divulgados pelo IBGE, a silvicultura atingiu o marco histórico de R$ 27,4 bilhões, um avanço de 14,9% ao ano em 2021. Ao todo somam-se R$ 33,7 bilhões em produção florestal brasileira. Destaca-se ainda que em 2021, segundo o IBA (2022), a produção de eucalipto atingiu seu maior nível, com 38,9 m³/ha/ano. O pinus, por sua vez, acumulou 29,7 m³/ha/ano. O Brasil abriga 9,93 milhões de hectares em áreas plantadas, sobretudo, com as duas espécies acima mencionadas. Em suma, pode-se destacar os números do Brasil, primordialmente, ao conhecimento avançado e novas tecnologias propulsoras ao crescimento moderno do setor.
Antes de adentrar às novas tecnologias que caracterizam o termo silvicultura 4.0, é preciso se confrontar com as interfaces do prognóstico silvicultural. Em suma, os avanços na pesquisa científica, principalmente, no melhoramento genético, garantiu otimização e qualidade na produção de madeira, papel, celulose e outros produtos florestais. Ademais, este avanço foi significativo no ãmbito de promover resistência a pragas e doenças. A saber, o Programa de Melhoramento Genético do Eucalyptus spp. da Embrapa, como resultado, desenvolveu estratégias na seleção de germoplasma com híbridos interespecífico, propagação clonal e lançamento de novas cultivares. Atualmente, a produção do eucalipto é basicamente por mudas clonais e não mais via seminal, o que mantém alto padrão nas características de crescimento e na qualidade da matéria-prima. Inclusive, o eucalipto é a principal espécie florestal cultivada no Brasil.
Progresso da silvicultura no Brasil
Ainda que muitos são os avanços obtidos no cultivo de espécies florestais, cabe salientar que, a silvicultura tradicional foi por muito tempo empreendida. Tal fato se deu, a séculos atrás, quando a gestão florestal estava centrada em técnicas tradicionais, como a seleção manual de árvores para corte e o plantio manual de mudas.
A introdução de maquinaria e equipamentos nas operações florestais, especialmente após a década de 80, representou um grande avanço na produtividade e eficiência da silvicultura moderna. Assim, máquinas florestais como Harvester e Forwarder, maximizam o rendimento operacional e a diminuição de custos de operação.
Transição
A adoção de sistemas de informação geográfica (SIG) e software de gerenciamento florestal nas décadas de 1980 e 1990, permitiu uma melhor organização e análise de dados sobre florestas. Tais fatores melhoraram a gestão florestal, mas ainda não eram considerados Silvicultura 4.0. Em outras palavras, por exemplo, de acordo com estudos apresentados por Gingras e Charette (2017) e Manjer (2018), novas ferramentas foram sendo desenvolvidas e condicionaram ao avanço tecnológico na gestão florestal.
A partir das últimas décadas do século XX e início do século XXI, a tecnologia de sensoriamento remoto, incluindo imagens de satélite e drones, começou a ser utilizado para otimização dos processos de produção. Em suma, esta nova abordagem passou a permitir a coleta de dados em larga escala e em tempo real sobre as condições das florestas nativas e povoamentos florestais.
Para mais, o uso de sensores IoT, para coletar informações sobre o ambiente florestal, e a análise de Big Data para processar essas informações, tornaram-se mais comuns nas práticas de silvicultura a partir do início dos anos 2000.
Tecnologia
O desenvolvimento de robôs e máquinas autônomas para plantio, colheita e monitoramento de florestas avançou a silvicultura 4.0. Máquinas altamente especializadas podem realizar tarefas de manejo de florestas com precisão e eficiência. A exemplo, tem-se a primeira máquina automatizada desenvolvida para o Brasil, D61EM Planter. A mesma faz a cova, plantio, irrigação e fertilização. Além, também, do robô de plantio YuMi, com capacidade de produzir 600 mudas em poucas horas. Da mesma forma, a inovação nos processos silviculturais, com sensoriamento remoto e geoprocessamento para acompanhamento de suas atividades, como análise de uso e cobertura do solo pelo programa QGis.
Contribuições
Destaca-se o monitoramento em tempo real do desmatamento pelo MapBiomas. A ocorrência de focos de incêndios pela Rede de Informações Socioambientais Georreferenciadas da Amazônia (RAISG). Ainda, a modelagem de dados florestais e o uso de algoritmos para prever o crescimento das árvores, avaliar riscos e otimizar estratégias de manejo são elementos-chave da silvicultura 4.0.
O software Mata nativa, por exemplo, auxilia a coleta de dados pelo aplicativo no celular. Através dele, é possível obter os dados dendrométricos, localização via GPS, suficiência amostral e, principalmente, garantir a precisão dos cálculos em inventários.
Como surgiu
Diante disso, o termo “silvicultura 4.0” surgiu à medida que todas essas tecnologias e práticas avançadas foram integradas nas operações florestais. Promoveu uma abordagem mais eficiente, sustentável e orientada por dados na gestão das florestas.
Essa evolução histórica está em constante desenvolvimento, à medida que novas tecnologias e métodos continuam a ser incorporados para enfrentar os desafios da gestão florestal moderna.
O termo “4.0” é derivado da ideia da Indústria que envolve a aplicação de tecnologias digitais avançadas para melhorar processos industriais e de produção. Na silvicultura 4.0, a tecnologia desempenha um papel fundamental na gestão florestal, visando otimizar a produção de madeira, proteger o meio ambiente e atender às necessidades econômicas.
Tipos
Alguns dos principais elementos da silvicultura 4.0 incluem:
- Sensoriamento Remoto: Utilização de imagens de satélite, drones e sensores terrestres para monitorar as condições florestais, como fitossanidade, densidade do povoamento e qualidade ambiental.
- Big Data e Analytics: Coleta de grandes volumes de dados florestais e a aplicação de análise de dados para tomar decisões informadas sobre o manejo florestal.
- Internet das Coisas (IoT): Instalação de sensores em campo para monitorar condições em tempo real, como umidade do solo, temperatura e crescimento das árvores.
- Modelagem e Simulação: Uso de modelos computacionais para prever o crescimento das árvores, os impactos das mudanças climáticas e as melhores práticas de manejo.
- Automação: Implementação de sistemas autônomos para realizar tarefas como plantio, colheita e manutenção de florestas de forma eficiente.
- Sustentabilidade: Foco na silvicultura sustentável, considerando aspectos ambientais, sociais e econômicos, e garantindo a conservação da biodiversidade. Essa que se concentra na adoção de práticas sustentáveis, mantendo a resiliência dos ecossistemas contra pragas, doenças e incêndios florestais, bem como ajudando nas metas de redução do gás carbônico. Sabe-se que áreas de plantios comerciais e florestas nativas chegam a estocar 4,5 bilhões de toneladas de CO2 e diante da urgência em mitigar os efeitos dos GGEs, novas tecnologias precisam estar alinhadas a esse efeito sobre o ambiente. Inclusive, de suma importância a sustentabilidade aqui como uma importante ferramenta para a gestão responsável de empresas do ramo florestal. Atualmente, a moderna técnica de manejo conhecida como mosaico florestal, desenvolvida pelas empresas, tem permitido diversos benefícios como a preservação de nascentes, corredores ecológicos, e proteção da biodiversidade.
Desafios
Mesmo com os avanços da silvicultura 4.0, ainda existem desafios e dificuldades a serem superados, tais como: infraestrutura para conectividade entre áreas; acesso a internet 5G; capacitação dos técnicos e mão de obra treinada; altos investimentos iniciais; privacidade e segurança dos dados evitando violação das informações; equipamentos obsoletos com a rápida evolução da tecnologia; estratégia e adaptação aos funcionários que atuam em tarefas tradicionais como, por exemplo, supervisão de viveiros; regulamentação e legislação vigente para a inserção da silvicultura 4.0.
Nota-se, com isso, que superar essas dificuldades requer um esforço conjunto da indústria, governos e instituições de pesquisa. A silvicultura 4.0 tem o potencial de melhorar a produção de madeira e outras matérias-primas advindas de plantios comerciais e promover a conservação das florestas nativas, mas é importante abordar esses desafios para garantir sua eficácia e sustentabilidade.
Segundo Feng e Audy (2020), para atender a cadeia de fomento florestal, os componentes essenciais a uma silvicultura 4.0 é utilizar-se de determinados componentes, tais como, novas tecnologias digitais pertinentes a cada uma das atividades no setor de gestão de florestas, infraestrutura de rede, e inteligência do sistema de próxima geração. Salienta-se ainda a quebra de paradigmas quanto a manutenção de uma silvicultura semimecanizada para uma nova visão da tecnologia de ponta.
Links relacionados
- Feng, Y., & Audy, J.-F. (2020). Forestry 4.0: a framework for the forest supply chain toward Industry 4.0. Gestão & Produção, 27(4), e5677. https://doi.org/10.1590/0104-530X5677-20
- Gingras, J.-.F., & Charette, F. (2017). FPInnovations’ Forestry 4.0 Initiative. FPInnovations. Retrieved in 2019, July 23, Disponível em: http://blog.fpinnovations.ca /blog /2017/06/20/forestry-4-0- featured-as-part-of-cif-ifc-e-lecture-series/
- IBGE. 2023. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em:https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias
- IBA. Indústria Brasileira de Árvores. Relatório anual de 2022. Disponível em: https://www.iba.org/datafiles/publicacoes/relatorios/relatorio-anual-iba2022 compactado.pdf
- Manger, J. (2018). Forestry 4.0: digitalization in the forest industry. In 13th International Key Trade Fair for Forestry and Forest Technology with Scientific Conferences and Special Shows. Messe München, Germany. Disponível em: from www.interforst.com